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Infelizmente, mais uma morte a lamentar

Por Marcos L Susskind

Há menos de um mês eu relatei aqui a perda de meu amigo Julio Lezer, ícone do Sionismo Religioso do Brasil. Infelizmente, decorrido tão pouco tempo, me cabe fazer eulogia a outra pessoa especial, meu amigo Arieh Solnik, o Léo!

Conheci o Léo por total acaso, numa rua do Bom Retiro. Ambos havíamos voltado de Israel e nos sentíamos deslocados, sem uma língua comum com os amigos que deixamos no Brasil anos antes. Na troca dos desapontamentos com a solidão, descobrimos que ambos tínhamos paixão pela dança folclórica de Israel. O Léo propôs:

“Que tal a gente começar um grupo de danças? Assim devem aparecer moças e rapazes e a gente forma um novo grupo de amigos”.

“Gostei da ideia. Mas o único lugar que me ocorre é no estacionamento onde meu pai guarda o carro, na Rua Prates. O pátio é bem grande”.

Idéia aceita, pegamos um toca fitas K7 e começamos a divulgar. Apareceram algumas pessoas, começamos a dançar e pouco depois o Ichud Habonim, da Rua Tocantins (hoje Rua Talmud Thorá) nos cedeu o espaço – muito melhor que uma garagem. Lá o grupo aumentou e tomou corpo. A recém fundada Casa de Cultura de Israel nos propôs passarmos a ensaiar lá e a dançar em seu nome. Mostramos alguma restrição, mas eles propuseram contratar um acordeonista e nos fornecer uniformes – duas ofertas irrecusáveis. Passamos a ensaiar e dançar lá. O Léo Arieh Solnik despontava como um excelente coreógrafo, inovador e paciente para “segurar” o ímpeto do pessoal.

Foi nesta época que chegaram novas pessoas para dançar, uma delas me chamou a atenção – bonita, dançava bem. Acabou virando minha esposa, há 47 anos!

Em 1973 “A Hebraica” resolveu fazer um espetáculo em comemoração a Yom Yerushalaim. Um grupo cantou, um grupo representou, houve um jogral e nós dançamos – Shir Lashalom e Hora Uriah. Foi um sucesso. Voltamos ao palco 3 vezes, incentivados por palmas infindáveis. Neste dia demos finalmente um nome ao nosso grupo: “Lehakat Yerushalaim”.

   

Diretores da Hebraica se deslumbraram e nos ofereceram vir dançar na Hebraica. Nos davam tudo o que a Casa de Cultura oferecia, lanche para todos, um espaço realmente profissional (na Casa de Cultura ensaiavamos numa acanhadíssima sala) e a possibilidade de atrair muito mais gente – o que realmente aconteceu.

O Léo seguia coreografando, criando e fazendo o grupo crescer. Inspirado em nosso sucesso, os movimentos juvenis voltaram a criar seus próprios grupos e outros surgiram em Curitiba, Porto Alegre, Belo Horizonte. No entanto, em fins de 1974 ou em 1975 (não me lembro), a Hebraica contratou um profissional de Israel, Guiora Kadmon. Por um lado, a chegada do Guiora deu uma nova vida ao grupo – agora com profissional de Israel, assalariado em tempo integral. Mas por outro lado, evidentemente, ocorreu algum choque entre nós, fundadores do grupo, e o Guiora, que passou a ser o “dono” do grupo. Eu me desliguei e soube mais tarde que o Léo também saiu do grupo. Gradativamente perdi o contato com o Léo Arieh. O Guiora teve o imenso mérito de ampliar o escopo da dança Israelense, criando o agora famosíssimo Festival Carmel que atrai grupos do Brasil e do Exterior todo ano.

   

A parte triste de todo este histórico é que o nome do Léo Arieh Solnik não recebeu os merecidos créditos por sua obra de renascimento do folclore Israelense. Depois do sucesso do Chinani dos anos 60, creio que o Léo foi a faísca que reacendeu a fogueira da dança folclórica Israeli.

Há cerca de 45 dias o Léo voltou a Israel para estar perto de seus três filhos que aqui viviam. Léo estava com um câncer agressivo e incurável – mas não comentou com ninguém, já que não havia sintomas que pudessem demonstrar a situação. Os médicos lhe davam mais um ano de vida e ele queria estar próximo dos seus filhos e netos. Passou os 14 dias regulamentares de quarentena, achou um apartamento e poucos dias depois, de forma fulminante e sem sofrimento, se foi. Não chegou a completar 30 dias fora do confinamento.

Léo se foi deixando amigos que se lembram de sua generosidade, paciência e, para quem dançou na “Lehakat Yerushulaim”, o orgulho de fazer parte do renascimento e engrandecimento desta parte do nosso folclore.

Que D’us o receba em seus braços, que descanse em paz. Baruch Dayan Haemet

Fotos: Facebook

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