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Imunidade e a formação dos partidos

Por David S. Moran

A atual situação política de Israel é sem precedentes. O tempo passa e há mais de um ano que o governo é de transição, não pode agir e nem discutir sobre verbas necessárias. O Knesset não cumpre sua função parlamentar. O déficit governamental está aumentando a cada dia que passa e já está beirando os 60 bilhões de shekalim (cerca de 70 bilhões de Reais).

As pesquisas de opinião pública, após duas eleições num ano, mostram que a 3ª época vai dar mais ou menos no mesmo resultado. Isto é, o maior partido, o Kachol Lavan é o maior partido e não consegue formar uma coalizão governamental e por outro lado o maior bloco, da direita, também não o consegue. A chave está na mão do Partido Israel Beiteinu, do Avigdor Lieberman.

O Primeiro Ministro Benjamin Netanyahu, já há duas eleições não consegue formar um novo governo e seu partido, o Likud, perdeu cerca de 300 mil eleitores, faz de tudo para não ter que enfrentar a justiça do país.

Não há um manipulador político melhor do que o Netanyahu. Ele escolheu para o posto de Procurador Geral do Estado, o seu Secretário de Governo, Dr. Avichay Mandelblit, que era homem de sua confiança, religioso e de família tradicional da direita. Para o posto de Comissário da Policia, escolheu o Vice Diretor do Shabak, Roni Alsheikh, que morava num assentamento e dos religiosos nacionalistas. Seguindo sua filosofia de perseguir a justiça, Alsheikh instruiu a polícia a fazer investigações e foi até o fim. Apresentou seu parecer ao Procurador Geral do Estado. Em troca, foi mandado embora no final do seu mandato, que estava para ser estendido em mais um ano. Resultado, há mais de 14 meses, Israel não tem chefe de policia.

Manchete dos jornais sobre a imunidade do Netanyahu

 

O Procurador Geral do Estado, Mandelblit, trabalhou com morosidade e levou mais de três anos para apresentar seu parecer, em novembro de 2019, no qual indicia o Netanyahu em três casos de fraude, suborno, favorecimento e quebra de confiança. Pelo fato das eleições estarem marcadas para o dia 2 de março próximo, Netanyahu ativou o seu partido para fazerem manobras que travem a intenção do Kachol Lavan de exigir um parecer do Procurador Geral de que uma pessoa que enfrenta sérias acusações, não possa formar um novo governo. Netanyahu que havia dito numa (rara) entrevista a TV, de que não vai pedir imunidade, esperou até o último segundo do dia em que podia pedi-la e a pediu.

A oposição evidentemente criticou sua ação e pediu ao Presidente do Parlamento, deputado Yuli Edelstein (do Likud) para convocar a Comissão do Knesset, que é o lugar para tratar se concede ou não imunidade. Por não funcionar há um ano, as comissões não são convocadas e por isso é necessária a autorização do Edelstein. Este que tem rivalidade com Netanyahu, mas que quer ser escolhido pelo Knesset para a Presidência de Israel, foi pressionado de um lado pelo seu partido para não convocar a comissão e por outro lado pelo Kachol Lavan, que ameaçou destitui-lo do cargo e empossar o deputado Meir Cohen.

Foi pedido um parecer do Consultor Jurídico do Knesset. Este disse que a Comissão pode ser convocada. Imediatamente, o Consultor Eyal Yinon, que faz esta função desde 2010, com muitos elogios, tornou-se inimigo do Likud que o juntou à esquerda.

Edelstein não teve alternativa, fez um discurso, considerado por muitos como seu melhor, no qual disse discordar do parecer do seu Conselheiro Jurídico, mas que acatava sua decisão. Netanyahu virou uma fera e suas relações com Edelstein pioraram.

Enquanto um olho esteve visando a convocação da Comissão do Knesset, o outro estava voltado para a formação dos partidos para as eleições de março. Se nas eleições passadas, Netanyahu tratou de dividir os partidos nacional-religiosos e assim tentar colher votos deste segmento para engrandecer o Likud, desta vez quer um bloco maior para que possa se manter no poder e tentar afastar dele o julgamento. Neste aspecto, infelizmente o Netanyahu age como marginal que está fugindo da justiça. Isto dizem os ex-partidários e deputados do Likud como Beni Begin, Dan Meridor, Ehud Olmert, Tsipi Livni, Dan Tichon Limor Livnat e outros.

Quem disse que compõe o bloco da direita e aliados do Netanyahu são os partidos dos ultra-religiosos como Shas e Yahadut Hatorá, que nada têm de direita. O patrono do Shas, rabino Ovadia Yossef Z”L, se expressou a favor da retirada de territórios ocupados e o Yahadut Hatorá não mandam seus filhos servir no Exercito e não cantam o Hatikva.

Os religiosos nacionalistas, que seriam o antigo Mafdal estão divididos e hoje há quatro partidos que se dizem seu sucessor: Hayamin Hachadash, do Naftali Bennett, Habait Hayehudi do rabino Rafi Peretz, Haichud Haleumi do Bezalel Smutrich e Otzma Yehudit do Itamar Ben Gvir. Já nas eleições retrasadas estes partidos brigaram entre si e o atual Ministro da Defesa, Naftali Bennett, que era a grande esperança do Habait Hayehudi, saiu e fundou nova agremiação e não conseguiu o mínimo para entrar no Knesset. Ele é dos menos radicais e desta vez foi contra a coalizão formada pelo rabino Peretz e o radical Kahanista, Ben Gvir. Após vários debates, os irmãos perdidos Bennett e Smutrich se encontraram e convidaram o rabino Peretz a se juntar. Este, no entanto, já estava comprometido para Ben Gvir e quatro horas antes de fechar as inscrições das agremiações que concorrerão em março, escreveu no seu Twitter: “minha palavra é um compromisso”.

Netanyahu, que lê as pesquisas, entendeu que se estes partidos correrão separadamente, a direita vai perder deputados, pois uma ou duas agremiações não obterão o percentual mínimo de ingressar no Knesset que é de 3.25% dos votos. Netanyahu convocou os líderes, ameaçou demitir o Bennett do Ministério da Defesa, mas este não cedeu. Era terminantemente contra a ida com Ben Gvir que é radical. Ele quer se apresentar como líder nacional e tem grandes ambições. Respondeu ao Netanyahu: “se você quer o Ben Gvir, coloque o na lista do Likud”. Ante esta negativa, Netanyahu ligou para o rabino Druckman, de 87 anos, que é dos líderes espirituais dos religiosos nacionalistas e lhe pediu para liderar os partidos unificados. Druckman recusou. No último momento, Peretz largou o Ben Gvir com quem tinha compromisso assinado e juntou-se ao Bennett e Smutrich. O ex-deputado do Likud, Yehuda Glick, que é religioso, comparou esta traição a “um rabino que come carne de porco em Yom Kipur”. Netanyahu, como anteriormente dito, faz de tudo para tentar manter-se no poder. Não conseguindo seu desejo, apelou para deputados de outros partidos. Conseguiu convencer o deputado Gadi Yaverkan de 39 anos, de origem etíope e que está no Knesset há apenas quatro meses. No seu partido Kachol Lavan ele está na 33ª colocação. Netanyahu prometeu lhe colocar no 20º lugar e cargo de ministro, se formar o próximo governo. A reação imediata do líder do Kachol Lavan, Beni Gantz foi retirá-lo da sua lista de candidatos. Este partido certamente fará uso das duras criticas que ele fez contra o atual primeiro ministro, o Likud e sua liderança.

Nesta semana como escreveu o comentarista do Yediot Ahronot, Nahum Barnea, morreram três partidos históricos. O Mafdal, dos religiosos nacionalistas moderados, Mapai, que se transformou no Avodá (Partido Trabalhista) que teve papel essencial na criação do Estado de Israel e Meretz, da esquerda.

Se vimos as lutas no lado da direita e nem toquei no Partido Israel Beiteinu do Lieberman, os partidos da esquerda foram com o tempo se reduzindo. O Partido Trabalhista foi perdendo terreno e as lutas internas para liderá-lo ajudaram em perder votos. Nas últimas eleições, há apenas quatro meses, o líder Amir Peretz não teve alternativa e juntou a deputada Orly Levi Abuksis, que foi do Israel Beiteinu e seu pai David Levi, foi dos líderes do Likud. Agora, novamente vendo as pesquisas de opinião pública, mesmo sem jeito, não tiveram muitas alternativas, uniram-se numa só legenda chamada Avodá-Guesher-Meretz. Pode ser que seja apenas para obter o quanto mais de votos, no que seria uma união técnica e depois das eleições cada agremiação voltara a ser independente.

Nestas eleições o que está em jogo é a vida politica do Benjamin Netanyahu e dos partidos tentar obter de novo a confiança do povo. Netanyahu, provavelmente não obterá imunidade e terá que enfrentar a justiça. Os partidos e os políticos perderam a confiança do povo e isto é muito mal para a única democracia do Oriente Médio. O próximo governo, seja qual for, terá que trabalhar muito para obter a confiança dos eleitores e do povo.

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