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Imensas mudanças no Oriente Médio. Riscos e oportunidades

Por Marcos L Susskind

A chegada ao Oriente Médio do Covid-19, o Coronavírus, traz consigo inesperadas possibilidades de alterações em todas as áreas – na economia, na segurança, na política, na área militar, na psicologia da região além, claro, da questão da saúde.

O Oriente Médio, em particular os países árabes e islâmicos, estão mergulhados há anos em uma série de desafios perigosos. Por um lado há alguns milhões de pessoas sem trabalho, sem moradia digna, sem estabilidade política e vivendo em condições de aglomeração insuportáveis e em condições econômicas bastante precárias. Por outro lado veem-se governos corruptos e ditatoriais, com seus líderes vivendo em mansões à beira mar, usufruindo de veículos de altíssimo luxo e de um padrão de vida inexistente para a população, desviando parte considerável da ajuda externa. A população em geral considera que o governo é corrupto, não é eficiente e em alguns países há uma guerra civil instalada há anos, ceifando milhares de vidas. Alguns exemplos:

 

País Mortos

Refugiados no Exterior

Refugiados Internamente

Síria

400.000

5.600.000

6.500.000

Iraque

250.000

2.100.000

3.000.000

Líbano

150.000

250.000

11.000

Iêmen

120.000

450.000

2.200.000

Líbia (2 guerras)

29.000

1.000.000

435.000 est

A crise do Coronavírus está sendo dramática na Turquia e no Irã, ambos países islâmicos, mas não árabes. Já os países árabes vêm sendo poupados do Covid-19 até aqui, porém a crise econômica causada pelas medidas de proteção estão sendo especialmente dolorosas.

Então, quais os principais problemas?

Sem dúvida os governantes sentem medo de uma possível instabilidade política como consequência da crise econômica, com o agravante do colapso hospitalar se aumentarem os casos de doença. Não há, nestes países, métodos confiáveis de coleta de dados que permitam ações preventivas. Governantes em geral fracos, vistos com desconfiança pelos cidadãos tendem a esconder os números reais, aumentando as incertezas e a capacidade de reação num ambiente desafiador como este. Mahmud Abbas, Presidente da Autoridade Palestina e Yahya Sinwar, Dirigente do Hamas que domina Gaza reconhecem que o método adotado por Israel tem sido eficiente e optaram por copiá-lo.

Há um problema econômico adicional. A brutal queda do preço do petróleo aliada à baixa demanda de um mundo enclausurado, coloca um peso grande sobre os países árabes produtores, que eram os principais financiadores de governos financeiramente fracos como a Autoridade Palestina e ainda mais, a liderança de Gaza. O Irã, grande apoiador do Hamas já conta cerca 110.000 infectados e cerca de 12.000 mortos. Isto exige um esforço econômico hercúleo na luta contra a doença. Também há sanções norte-americanas (que não incluem insumos médicos), a queda do preço do petróleo e uma crescente insatisfação popular, fatos que provavelmente levarão a uma queda significativa do fluxo de fundos do Irã para Gaza. No caso iraniano, o atual preço do barril está abaixo do custo de produção.

A queda dos preços do petróleo e do gás indicam que o Oriente Médio terá uma saída bem mais lenta da atual crise econômica – mais lenta que a Europa, os USA e países da América Latina – e isto inclui Israel, que se preparava para tornar-se grande exportadora de gás, recém descoberto e em cuja extração investiram-se algumas dezenas de bilhões de dólares. O ano 2020 seria o primeiro ano de exportações massivas, que não ocorrerão, dada a paralisação das economias europeias.

A quase paralisação das economias diminui sensivelmente a arrecadação de impostos, o que impede os governos de enfrentar a crise e o desemprego. Além disso, os tradicionais doadores europeus diminuíram a injeção de ajuda a Gaza, à Autoridade Palestina e à Jordânia. A imensa demanda por respiradores e outros materiais médicos diminuiu a oferta e aumentou os preços. Gaza e a Autoridade Palestina não se prepararam a tempo e – ironicamente – dependem agora da ajuda de Israel para abastecerem seus hospitais. O governo Israelense tomou a sábia decisão de considerar Gaza e as áreas de Judá e Samária como extensão de suas responsabilidades, ajudando ambos a enfrentar o problema, pois o vírus não para em fronteiras. Além disso, caso ocorra um colapso nestas áreas, isto terá o potencial de tornar-se um problema de segurança nacional.

“Imaginemos que a crise leve milhares de mães com seus bebês no colo e idosos em cadeiras de rodas tentando (ou conseguindo) infiltrar-se em Israel à procura de tratamento ou comida, trazendo consigo o vírus” diz um importante analista militar. Exatamente por este motivo é que Israel, tanto pela área de saúde como pela militar, está ajudando o governo de Gaza e da Autoridade Palestina com equipamentos, know how e intensivo treinamento de seus médicos. Neste exato momento, o Exército de Israel está enviando materiais e ajuda técnica para a construção de um imenso hospital de campanha em Gaza, encostado à fronteira na passagem de Erez. Ao mesmo tempo, estuda-se trazer dois navios-hospitais para ancorar na costa de Gaza, caso necessário.

Como reagem as lideranças em Gaza?

O Hamas e os demais grupos terroristas entendem claramente os riscos que correm e têm evitado ações terroristas. Ao mesmo tempo, muitas lideranças palestinas e inúmeros clérigos vêm divulgando que o vírus foi criado por Israel para afetar a resistência palestina – uma alegação absurda. No entanto, caso a crise médica saia de controle, há a possibilidade muito acima do razoável que este incitamento leve a desejo de vingança e aumento de ações terroristas frente a Israel. O próprio Sinwar declarou na TV de Gaza que “caso faltem leitos em Gaza, 6.000.000 de Israelenses pararão de respirar” (sic). Logicamente o Exército de Defesa de Israel está colocando tropas na fronteira para fazer frente a tal eventualidade.

E Israel?

Há nesta crise alguns fatos positivos para Israel. O Irã, que sofre tremendamente com o coronavirus, reduziu drasticamente sua ajuda ao Hamas em Gaza, ao Hezbollah no Líbano e mesmo a seus aliados na Síria e no Iraque (mas não extinguiu), além de baixar o tom frente a sua arqui-inimiga Arábia Saudita por temor de levantes da população que exige serviços médicos e não perdoaria o regime financiando agora grupos terroristas no exterior.

O Irã também perde parte do apoio dos revoltosos na Síria que consideram que a chegada do vírus ao país se deu através das Milícias Iranianas que transitam entre o Irã e a Síria no afã de criar bases para um ataque a Israel.

O Líbano encontra-se em situação calamitosa. A chegada do vírus encontra um país já dilacerado por intermináveis conflitos políticos, uma crise econômica sem precedentes que está levando grande parte da classe média e da elite e emigrar (calcula-se que 5.000 das melhores capacidades do país estejam abandonando-o a cada mês, sem intenção de retornar) além de séria situação social. Hassan Nasrallah, líder do Hezbollah, estava sendo acusado de fomentar a situação, até mesmo por parte de seus apoiadores xiitas.

Com a chegada do vírus e a redução do dinheiro iraniano, Nasrallah optou por enviar todas suas ambulâncias para as grandes cidades e usar seus recursos para ajudar a enfrentar a crise médica, diminuindo e até extinguindo as atividades de melhoria de seus foguetes, o que também é uma boa notícia para Israel e seu exército, diminuindo a probabilidade de um enfrentamento na fronteira Norte.

Agradecimento especial a Raquel Cohn e a Ron Ben Ishay

5 comentários sobre “Imensas mudanças no Oriente Médio. Riscos e oportunidades

  • Esse site substituiria o comentário falado do Marcos, direto da florida Holon?

    Resposta
    • Não é substituto, é um adicional, com matérias que não cabem num noticiário falado, de apenas 15 minutos semanais.
      Obrigado pelo interesse!

      Resposta
      • Como jornalista , acredito que esses artigos do chaver Marcos ampliarão o alcance das informações repassadas aos judeus e demais amigos de Israel ni Brasil e no mundo ; um ótimo trabalho !

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  • Brilhante como sempre!!!! Acredito pessoalmente que o Irā caminha rapidamente para uma implosāo do regime.

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