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Guishefts

Por Nelson Menda

Apesar de me orgulhar da herança sefaradi, que recebi do meu pai, também curto minha ascendência ashquenazi, da minha mãe, o que me transforma em um ser culturalmente híbrido. Muito contribuíram para minha formação, também, o fato de ser brasileiro e gaúcho, com uma grande influência da cultura norte-americana.

Desde muito cedo meus pais trataram de me matricular na Alliance Française e no Cultural Norte-Americano, em Porto Alegre onde, verdade seja dita, não aprendi bulhufas. Daí ter decidido, depois de casado e com duas filhas, que elas deveriam fazer um programa de intercâmbio, para submergir o mais precocemente possível, no aprendizado do inglês, o idioma universal. Funcionou, pois elas se expressam em inglês com total fluência, ao passo que o português continua sendo minha língua preferencial, tanto para pensar quanto ler e escrever.

Mas não é sobre isso que tenciono abordar neste texto, intitulado, em iídiche, guishefts, ou seja, negócios. Como não me considero egoísta, sempre gostei de compartilhar o que aprendi nesses oitenta bem vividos anos. Vou relatar para você, amigo leitor, o que aprendi no processo de compra, venda e locação de uma propriedade tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos. Verdade seja dita, acabei aprendendo na marra, pois as regras do jogo no mundo dos negócios, não são ensinadas em nenhum curso ou faculdade.

Gostaria de abordar as particularidades do mundo dos pequenos negócios, que aprendi na convivência com amigos e conhecidos. São dicas preciosas, que valem para a maior parte dos Estados Unidos, com exceção de Nova York, onde as regras são distintas. Vamos a elas.

Comprar, vender e alugar imóveis é diferente no Brasil e Estados Unidos. A começar pela própria denominação, que se presta a confusões. Condo, aqui nos States, não significa condomínio, mas sim apartamento. Apartments, por outro lado, também não significa apartamentos, mas sim a finalidade de um determinado imóvel, se para uso próprio ou locação.

À semelhança do Brasil, um proprietário tanto pode vender quanto alugar sua propriedade, seja por conta própria ou por intermédio de uma corretora. Em regra geral não existe, por aqui, a figura do fiador, mas sim de um depósito, geralmente de três meses, que funciona como uma caução, para ser devolvida ao fim da locação. Nos contratos de aluguel, nos Estados Unidos, costumam ser incluídas as despesas de manutenção dos equipamentos da cozinha, como geladeira e fogão, além dos aparelhos de ar-condicionado. Quem deve assumi-las é o proprietário do imóvel – e não seu eventual inquilino. Em geral os contratos são padronizados e disponíveis na Internet, a menos que certas cláusulas devam ser modificadas. É preciso prestar muita atenção à expressão “as is”, que significa “no estado”, ou seja, esses equipamentos podem, ou não, se encontrar defeituosos ou em mau estado de conservação e o candidato à aquisição ou locação concordar com esse fato.

Quando dispunha de imóveis para locação aqui nos States sempre optei por contar com um(a) corretor(a) bilíngue, preferencialmente brasileiro ou hispano, para me orientar. Atualmente, já não possuo nenhum imóvel para locação aqui nos Estados Unidos, apenas um apartamento próprio em Indian Harbor Beach, na Flórida, onde resido. O que teria acontecido com eles? Vendi-os e doei os valores recebidos às minhas filhas que, seguindo o exemplo do pai, investiram em propriedades.

Ainda disponho de alguns imóveis no Brasil e acabei chegando à conclusão de que vale mais a pena dispor de propriedades para locação no meu país natal do que na terra de Tio Sam. Por que? Exatamente pelo fato de que, no Brasil, cabe ao locatário, se o imóvel estiver alugado, arcar com as despesas de manutenção do condomínio, impostos e taxas. Isso se a propriedade estiver alugada, daí a vantagem de se adquirir imóveis bem localizados, sejam eles residenciais ou comerciais. Mas, porém, todavia, contudo, se o imóvel estiver vago, cabe ao proprietário arcar com essas despesas. Isso explica a existência de proprietários que não cobram aluguel desde que o ocupante se encarregue de assumi-lo. Portanto, olho vivo na hora de adquirir um imóvel, em que a localização é o fator primordial. Daí o aforisma PONTO, PONTO, PONTO, um verdadeiro mantra recitado pelos experts no ramo.

Por falar em mantra, segue um bastante popular entre os proprietários de imóveis: IMÓVEL NÃO SE VENDE. SE COMPRA! Por trás dessa orientação aparentemente contraditória reside a voz da experiência dos mais velhos, pois quando se tem dinheiro na mão logo aparecem pessoas endividadas pedindo um empréstimo ou doação. A mesma voz da experiência orienta a dividir o valor solicitado por dois ou quatro e considerar a importância efetivamente perdida. Vai-se o dinheiro, mas conserva-se o parente ou amigo. É triste, mas não passa da mais pura realidade.

Foto: Investment Zen (Flickr)

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