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Guerra sem precedentes e poderio israelense

Por David S. Moran

A guerra que ora Israel está travando em sete fronts é sem precedente pela sua expansão, duração e combate com potência que não tem fronteiras com o Estado Judeu.

Na madrugada de sexta-feira para sábado (19/10), a Força aérea israelense foi retaliar ao ataque iraniano de 1º de outubro, quando o Irã lançou 181 mísseis balísticos contra Israel. Os alvos foram limitados, atendendo ao pedido do governo americano que, na próxima terça-feira (05/11) vai a eleição. Antecipadamente não foram alvos as instalações atômicas e petrolíferas. Os mais de 140 aviões atacaram fábricas de produção de mísseis balísticos e drones (o Irã vende para a Rússia milhares de drones para os combates na Ucrânia), instalações de lançamento de mísseis balísticos, baterias antiaéreas S-300 (fabricação russa) e misturadores de combustível planetários para a indústria de misseis balísticos do Irã. Três horas após o início do ataque, todos os aviões já retornaram as suas bases em Israel.

Com isso, o Irã ficou mais vulnerável a ataques israelenses. Foi um árduo trabalho do Serviço de Inteligência, que deu alvos precisos, de caças F15 e F16, além dos aviões de reabastecimento no ar, aviões de controle e Inteligência e helicópteros de resgate se fosse necessário e drones, que cumpriram sua missão com sucesso. Já dizem que esta operação será estudada nas academias no mundo todo.

Os 20 alvos escolhidos foram atacados pelos caças em três levas e provaram superioridade no ar iraniano. Todos voltaram são e salvos.

No caminho do voo, notou-se a íntima colaboração americana, já que os caças passaram em “céus americanos” na Síria e no Iraque, no voo para o Irã, a mais de 1600 km do território israelense.

O espetacular e histórico ataque mostrou a superioridade da aviação de Israel, embora não quisesse humilhar o Irã e atendendo aos pedidos americanos de não atacar áreas onde o Irã desenvolve e enriquece urânio para ter bombas atômicas. Não dá para permitir ao regime clerical iraniano chegar a ter bombas atômicas, pois é irracional e colocaria não só Israel em perigo, mas o mundo todo. Atualmente, o Irã já enriquece urânio em porcentagem que lhe permite chegar a bomba atômica em questão de semanas.

O New York Times publicou que os ecos dos bombardeamentos foram ouvidos em Teerã, Esfahan, Mashhad e até mesmo em Curdistão. Apesar disso, o governo quis mostrar que nada mudou no cotidiano iraniano, transmitindo na TV o público feliz nos parques. No entanto imagens de satélites mostram que os prejuízos foram grandes. As fabricas atingidas atrasarão a entrega de drones e outros apetrechos militares, além dos gastos que terão para reconstruir o que foi destruído.

A reação no mundo árabe foi de crítica ao ataque israelense, mas em alguns países só da boca para fora, porque na realidade países como a Arábia Saudita e Emirados já sofreram ataques do Irã e estão felizes que alguém coloque este país no seu devido lugar. Omã, Síria e até as proxies iranianas como Hamas e Houtis condenaram a ação de Israel. A Jordânia, que teme as ações antigovernamentais do Irã no seu reinado, também criticou Israel. A reação oficial iraniana é no mínimo cínica. Ela vê no ataque “uma violação clara da lei internacional, nas regras da ONU e condena de forma mais feroz a continuação da ocupação e crimes do governo Sionista”.

Este ataque foi sem precedentes. Os EUA fizeram de tudo para que a operação não saísse do papel. Até vazou no X que Israel fez no dia 16 de outubro um treinamento que incluiu reabastecimento em pleno ar e utilizou drones para obter dados para seu serviço de Inteligência. De acordo com elementos da Inteligência do Mintel World, a Força Aérea de Israel conseguiu no ataque “cegar” as sofisticadas baterias terra-ar S-300, espalhadas nos lugares mais importantes do Irã. O Comandante militar israelense, Major-General Herzi Halevi disse (27/10) que “Tsahal (FDI) utilizou só uma parte de sua capacidade no ataque no Irã”. O líder do Irã que ficou chocado e sem resposta ao ataque de Israel, dias depois voltou a atacar e ameaça realizar nova contra retaliação.

O Irã está perdendo em duas outras frentes. Suas proxies, o Hamas em Gaza e o Hezbollah no Líbano estão sofrendo derrotas. Israel tenta chegar a um acordo com o Hamas para a troca dos seus 101 reféns, entre vivos e mortos, mas as negociações são difíceis. O que está em pauta e ainda não definido é a volta de entre 10 e 15 reféns israelenses em troca de algumas semanas e até um mês de trégua e a entrega de número não informado de terroristas do Hamas à Faixa de Gaza. Quem tem as chaves para uma solução é o Egito, que faz fronteira com a Faixa de Gaza e pode sufocá-los e o Catar que é o seu suporte financeiro.

No front do norte, o Hezbollah parece estar na lona, mas tem novo líder, o vice do Nasrallah, Naim Qassem, que também foi o vice do Abbas Musawi, um dos fundadores do Hezbollah na década dos anos 80 do século passado. Ele foi preterido após a morte do Musawi e o escolhido foi Nasrallah. Qassem não tem o carisma do Nasrallah, mas está tentando entrar nos seus calçados. O ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant já o ameaçou ao dizer que seus dias estão contados.

Um tema que está perturbando a opinião pública israelense é a oposição dos ultraortodoxos em se alistar ao exército. Na fundação do Estado de Israel, Ben-Gurion isentou 400 sábios para que estudem a Torá. Atualmente este número chegou a 65.000 e nem todos estudam. Mesmo os que estudam podem fazer como o israelense comum, deixar seus estudos por três anos e depois retornar. Eles se recusam a “se alistar ao exército inimigo”, ou em outros slogans dizem que “preferimos morrer e não ingressar nas FDI”. Atualmente, com a mais prolongada guerra que Israel jamais travou e com muitos feridos e mortos, quando o exército sofre falta de soldados, esta recusa dos haredim é ainda mais alarmante. Isto se torna ainda mais crítico quando se nota que a porcentagem de oficiais e soldados caídos e feridos do setor religioso-sionista é bem maior do que sua porcentagem na população. Além disso o exército já criou pelotões especiais para haredim e o fato de que haja reservistas que foram convocados e servem as forças armadas por mais de sete ou oito 8 meses, em 13 meses.

Netanyahu, que não suporta seu Ministro da Defesa, Yoav Gallant, do seu próprio partido, o Likud, já o demitiu em março e foi obrigado por pressão popular readmiti-lo um dia depois. Um conflito entre os dois, é a lei do Serviço Militar. Gallant exige a mudança da atual lei e obrigar os ultraortodoxos (haredim) a servir nas FDI, como os demais jovens israelenses quando chegam a idade de 18 anos.

Netanyahu é do partido nacionalista, Likud, da direita, e está disposto isentar os haredim da sua obrigação civil, contradizendo a ideologia nacionalista. Infelizmente, ele está interessado só na sua sobrevivência política e a maioria que tem é graças aos haredim. Por outro lado, a intransigência destes em cumprir as obrigações de todos os cidadãos e só exigir mais e mais verbas, caso contrário deixam de apoiar o governo, deveria ser entendido como uma ameaça sem fundos. Para onde eles vão? De quem receberão mais do que já recebem do Netanyahu? Pelas pesquisas de opinião pública, se forem realizadas novas eleições eles, juntamente com Netanyahu, iriam à oposição.

A lei do Alistamento Militar deve ser aprovada ainda antes do final do ano, pois o orçamento do Estado para 2025 tem que ser aprovado até 31/12, senão o governo cai automaticamente. Segundo as autoridades militares, atualmente faltam as FDI, 15.000 soldados, por feridos e caídos. Como se pode explicar a uma família em que o pai já está servindo no serviço reservista há 250 dias, enquanto seu vizinho haredi nem se alistou?

Foto: FDI

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