EUA negociam acordo entre Arábia Saudita e Israel
Por David S. Moran
Muito se fala de negociações entre a Arábia Saudita e Israel intermediadas pelos Estados Unidos. Se for concretizado este acordo dramático, será o mais significativo desde o acordo com o Egito, assinado em 1979. Mas, muito pouco se sabe sobre os detalhes do acordo e só há boatos que são difundidos pela mídia.
Pelo vazamento que aparece nos principais jornais como o Wall Street Journal e o New York Times, a Arábia Saudita quer garantias de defesa dos EUA, iniciar projeto nuclear civil, para fins energéticos e que Israel não construa mais na Samaria e Judeia e facilite para a Autoridade Palestina. Os Estados Unidos temem aprovar um projeto nuclear, que possa desencadear uma corrida nuclear, com a participação da Turquia e do Egito. O interesse americano é também afastar os sauditas da China e do Irã, com quem reataram relações há pouco tempo. Israel não concorda em autorizar programa nuclear civil que eventualmente poderá ser transformado com o tempo em programa nuclear militar, como aconteceu com o Irã. Israel, sim, deseja ter relações com a Arábia Saudita para aprofundar os Acordos do Abraão (nos quais a Arábia Saudita estava envolvida e voltou atrás no último momento), assinados há três anos. Ter vantagens econômicas, ajudar a revolucionar a energia solar no lugar da petrolífera, construir linha de trem que vá de Haifa e ou Eilat, passando pela Arábia Saudita até o Golfo Pérsico, competindo com o transporte pelo Canal de Suez.
O príncipe herdeiro Mohammad Bin Salman – conhecido por MBS – de 37 anos certamente está revolucionando a vida saudita. De um país super fechado, islamista radical (15 dos 17 participantes dos atentados aéreos nos EUA, eram sauditas), está empenhado na sua meta de transformar seu país num país moderno, turístico, esperando 100 milhões de turistas por ano. Para tal está construindo uma nova cidade super moderna as margens do Mar Vermelho, Neom, ao sul de Eilat. Quer construir a maior torre do mundo, com a altura de 2 km, cinco vezes mais alta do Empire State Building e três vezes mais alta que o Burj al Khalifa de Dubai e promove várias competições esportivas internacionais.
Para o presidente Biden, que apesar de ter relações geladas com MBS, um acordo engataria a campanha presidencial pela reeleição.
Esportistas israelenses já competem na Arábia Saudita, portando passaporte “sionista” com visto obtido nos Emirados. Israelenses com passaportes estrangeiros entram no país sem problemas. Lá se foi a época que judeus eram proibidos de visitar a monarquia saudita. Na década dos anos 70 do século passado, a única exceção foi o poderoso Henry Kissinger pelo cargo que tinha no governo americano.
Após trazer a Formula 1 para competir nas areias do deserto, muitos torneios de judô, matemática, tênis e ginástica foram disputados na Arábia Saudita. O país quer competir para hospedar o Mundial em 2030. Para tanto, os clubes sauditas contratam craques como o português Cristiano Ronaldo, que foi para a equipe de Al Nassr, por 200 milhões de dólares, Karim Benzema foi para Al Ittihad por 180 milhões de dólares e o Neymar para Al Hilal pela bagatela de 320 milhões de Euros por dois anos, equivalente a R$ 1,7 bilhões. Me desculpem, mas ninguém vale tanto. O que se poderia fazer por milhões de desafortunados com esses preços exorbitantes. Outro craque, talvez o melhor do mundo, Leonel Messi foi cogitado por time da Arábia Saudita, mas preferiu o mundo norte-americano e está dando shows no Inter Miami. Neymar tem uma luxuosa casa, com cinco empregados a disposição, piscina de 40 x 10 metros, um comboio de carros esportivos e pode morar com sua companheira Bruna Biancardi. Ele não é casado com a Bruna e neste país que segue a rigor o islamismo, isto é proibido, mas, neste caso, fecha-se os olhos.
Relatório da organização Vigilante dos Direitos Humanos, revela que a Arábia Saudita teria matado centenas de etíopes que queriam fugir da guerra civil no seu país e buscar trabalho na Arábia Saudita. No período de maio de 2021 até julho de 2023, foram pesquisados 350 vídeos e fotos da área da fronteira entre a Arábia Saudita e Iêmen. Este país comercializa pessoas. Isto, sem contar milhares de feridos, entre crianças, mulheres e homens. Segundo a organização de Imigração e Refugiados da ONU, mais de 750 mil etíopes vivem na Arábia Saudita, dos quais 450 mil não tem permissão de trabalho.
Resumindo, oxalá (palavra que vem do árabe, inshaallah), tomara que as negociações de paz entre a Arábia Saudita e Israel, intermediados pelos Estados Unidos tenham sucesso, para o beneficio geral de todos. A Arábia Saudita que reatou recentemente relações com o Irã, não confia muito no país dos aiatolás e prefere se aproximar de Israel, já que “o inimigo do meu inimigo é meu amigo”. As relações na área da segurança entre os dois países já existem há algum tempo, nem sempre diretamente, mas os envolvidos sabem com quem estão fazendo o “guisheft”. Para Israel, sem dúvida, é mais uma porta importante que abre para o mundo árabe e islâmico. Além dos árabe-israelenses que tem permissão de visitar anualmente (por quotas) os lugares sagrados do Islão, na Arábia Saudita, proximamente outros cidadãos israelenses poderão desfrutar deste enorme país.
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