Erdogan quer a volta do Império Otomano
Por David S. Moran
A Turquia é um país de 82 milhões de habitantes, 783.562 km², que se entende da Ásia até a Europa. O antigo Império Otomano era maior ainda e dominou o Oriente Médio, durante mais de 7 séculos, de 1299 até 1917. De Israel o Império Otomano saiu depois que o General inglês Allenby conquistou Jerusalém. A Turquia sucedeu o Império Otomano.
Apesar de ser um país muçulmano, o primeiro presidente turco, Mustafa Kamal Ataturk, quis modernizar o país, mudou a escrita de letras árabes para latinas e introduziu seu país ao Ocidente. A Turquia foi o primeiro país com maioria muçulmana a reconhecer o Estado de Israel, já em março de 1949. Os dois países mantiveram boas relações que foram úteis para ambos. Houve épocas de verdadeiras luas de mel. A Turquia até cedeu seu espaço aéreo para a Força Aérea de Israel lá treinar (falta de espaço aéreo em Israel) e participava de treinos com a Força Aérea turca e outras forças aéreas.
A Turquia foi grande aliada dos EUA, na época da Guerra Fria, e lá a América instalou uma enorme base aérea, em Incirlik, que a serve até hoje. Além disso, a Turquia é membro da OTAN, desde 1952.
A Turquia e Israel
A lua de mel entre os dois países continuou, mesmo depois que Recip Tayyip Erdogan tomou o poder, antes como Primeiro Ministro, em 2003, e depois como Presidente. O islamista Erdogan, com o passar do tempo e notando que os EUA estão deixando o espaço do Oriente Médio para a Rússia, iniciou uma série de atitudes anti-israelenses, talvez para maior aproximação com o mundo árabe e os palestinos. Proibiu os seguranças israelenses da El Al de portar suas armas e a companhia israelense parou de voar para a Turquia, enquanto a Turkish Airlines aumentava seus voos para Israel. Esta linha é das mais lucrativas da companhia. Em 2019, meio milhão de israelenses veranearam na Turquia.
O incidente mais grave foi em 2010, quando uma frota turca tentou atravessar o bloqueio marítimo imposto por Israel sobre a Faixa de Gaza. Os “ativistas” turcos prepararam uma emboscada para a força de comando israelense. Evidentemente o bloqueio foi mantido, mas na tomada do navio Marmara, foi usada força pelos dois lados deixando um saldo de nove turcos mortos, 20 feridos e 10 israelenses foram feridos, sendo dois gravemente. Apesar de o Netanyahu pagar indenização, as relações jamais voltaram ao que foram. Erdogan critica Israel, a toda ocasião e em qualquer fórum, querendo se tornar o paladino dos palestinos e do islão. Está fincando duas pernas grossas em Jerusalém, onde constrói e passa verbas para as “madrasas” (escolas islamistas) a revelia da Jordânia e Arábia Saudita, que se sentem as “guardiãs de Jerusalém”. Mesmo com sua atuação hostil a Israel e parte do tempo sem embaixadores, as relações comerciais continuam e, em 2018, estavam em cinco bilhões de dólares, 2/3 em exportações da Turquia e o restante em exportações de Israel.
A Turquia de Erdogan está tentando retornar a ter influência no Oriente Médio, mesmo sem conquistar os territórios que teve o Império Otomano. Com respeito a Israel, a Turquia que é ligada a Irmandade Muçulmana, Hamas, Murabitã (grupo de manifestantes radicais islamistas, que fazem bagunça em Jerusalém), recentemente inaugurou um Centro Islâmico, reformado pela TIKA, agência de assistência governamental turca. Esta mesma agência, no passado, transportou dezenas de milhares de árabes da Galileia e de outras localidades árabes para a mesquita de Al Aksa. O Centro Islâmico Khan Abu Hadija dá alojamento a turistas identificados com a Irmandade Muçulmana. Este Centro também edita livros, como “O Verdadeiro Legado”. Duas fotos decoram o Khan, a do Sultão Otomano Abed Alhamid II, que foi acusado pelo extermínio de 1,5 milhões de armênios, há 105 anos e que se opôs ao pedido de Herzl de estabelecer o Estado Judeu e, ao lado, a foto de Erdogan.
A Turquia e a Autoridade Palestina (AP)
Ao mesmo tempo em que a Turquia atua em Jerusalém e entre os palestinos, os países árabes deixam de ver o problema palestino como seu maior problema. Não só isto, estes se aproximam de Israel, por interesses. No desespero, a liderança palestina apela e pede ajuda dos turcos, que não são árabes e isto irrita ainda mais países como a Jordânia, Arábia Saudita e até mesmo o Egito, que estão incomodados com a atuação da Turquia em Jerusalém. É de estranhar que as autoridades israelenses não barrem as atividades da Turquia no país.
A Turquia que é patrona da Irmandade Muçulmana e da Hamas e é hostil a Israel, também o ameaça. O Ministro do Exterior turco, Mevlut Çavusoglu, próximo do Erdogan, advertiu (10/6) o governo de Jerusalém, que se anexar a Judeia e Samaria, a Turquia não ficará de braços cruzados.
A Turquia e a Síria
Como se nota, o Erdogan, apesar da crise econômica no seu país e a desvalorização da Lira Turca, continua gastando dinheiro, muito dinheiro, para expandir a influência turca no Oriente Médio. Nesta estratégia, ele também intervém na guerra civil síria. Alegando que forças curdas na Síria estão ameaçando o seu país, ele entrou com perna grossa na Síria, enviando no inicio de maio, 200 caminhões militares à Síria para entrar em combate. No dia seguinte o exercito russo publicou que soldados turcos foram mortos perto de Idlib. A causa, segundo a Rússia, a falta de coordenação de suas ações com as forças russas. Os russos desmentiram nota turca de que aviões F16 bombardearam alvos em 40 incursões, para vingar a morte de seus soldados. O “sultão” Erdogan que tanto critica Israel por agir militarmente, novamente ataca civis sírios e curdos, sem pestanejar e não para se defender, é para matar e se vingar. Em 1974, tropas turcas invadiram a ilha de Chipre e desde então ocupam o norte do país.
A Turquia e a Líbia
Já em dezembro de 2019, o presidente turco Erdogan disse que pretende enviar forças à Líbia, para apoiar o regime. O governo central da Líbia, que está em Trípoli, trava guerra civil contra forças do General Khalifa Hafter, apoiado pelo Egito, Rússia e EAU. O governo central alegou que não pediu ajuda da Turquia, mas esta tem interesses econômicos. Assinou acordo de divisão da área do Mediterrâneo entre a Líbia e a Turquia, assim esta pode alegar que pode fazer prospectos marítimos maiores, prejudicando a Grécia, Chipre e até Israel. A intervenção turca a favor do governo líbio, que desde a queda do Khadafi, está em guerra civil contra as forças do Hafter, não é só pelos vastos campos petrolíferos. Também tem outro motivo, o religioso. O governo central é islamista e quer impor a “sharia” no país, enquanto os rebeldes do General Hafter, que dominam a maior parte do país são leigos. A intervenção turca melhorou a posição do governo central líbio, mas preocupa o Egito, Chipre, Grécia e Israel. A Turquia quer evitar a instalação de um gasoduto marítimo no Mediterrâneo para abastecer a Europa com gás dos campos no Mediterrâneo.
O presidente egípcio, A-Sisi não esquece o apoio turco a Irmandade Muçulmana e seu apoio a Hamas, que combate forças egípcias na Península de Sinai. Tropas egípcias travam combates com forças líbias e podem chegar a travar com turcas. Na década de 1970, tropas egípcias lutaram contra líbias e os dois lados tinham blindados brasileiros da Engesa.
Erdogan sente-se isolado na região
Recentemente, o jornalista e escritor egípcio Khaled Al Berry publicou artigo no diário saudita editado em Londres, Al Shark Al Awsat, intitulado “A próxima guerra regional”. Nele acusa o ditador da Turquia Recep Tayyip Erdogan, que chama de “mais perigoso do que o Hitler”, de estar aproximando a próxima guerra regional ao espalhar junto com a Irmandade Muçulmana propaganda radical jihadista nos países árabes. O “Hitler turco” quer capturar territórios e reviver o Império Otomano. Quem ajuda a Turquia é o Qatar, que transferiu bilhões de dólares para impedir maior desvalorização da lira turca.
A Turquia e a Europa
Os ingênuos da Europa, ainda não conceberam que em meio ao seu território tem um líder islamista, que os ameaça constantemente. Na Turquia há três milhões de refugiados sírios e a cada passo dos europeus que não agrada ao Erdogan, ele ameaça abrir a sua fronteira e deixá-los invadir a Europa. Isto apesar de receber bilhões de Euros para mantê-los em seu país. Como no caso iraniano, os europeus “entendem” melhor o lobo mau, do que o “chapeuzinho vermelho”. A esperança é que acordem o mais cedo possível desta ilusão.
Foto: needpix