Entre Jerusalém e Tel Aviv
Por Roni Szuchman
Existem dois Israel (plural?). Um aqui representado por Jerusalém (Yerushalayim), a cidade de ouro, onde os judeus (ortodoxos) respeitam o Shabat (sétimo dia) e comem casher (refeições preparadas dentro das regras judaicas).
O outro Israel, representado por Tel Aviv, onde os outros judeus (seculares) possivelmente não sabem como é uma sinagoga por dentro.
Um Israel guiado pela fé com seus três mil anos de tradição e lugares sagrados e outra Israel com suas startups que criam mel e leite artificial.
E eu no meio. Tipo conservador, que já não pode comer glúten e lactose, espero que o leite artificial seja casher!
Mas, assim como eu, dentro de uma tabela de cores (tipo 50 tons de cinza), entre o ultra ortodoxo e o reformista, temos o religioso cool! Seguem a tradição e usufruem da tecnologia, aqui representados pelo casal de cantores Yonina (Yoni e Nina). Vi um vídeo deles uns seis anos atrás onde, dentro de uma carro, o casal de religiosos cantam One Day, com um bebê de colo. Muito simpáticos e talentosos, ficaram mundialmente famosos com este vídeo viral (recomendo fortemente).
Ok. Mas afinal Roni, Jerusalém ou Tel Aviv?
Diz a lenda que quando cheguei em Israel, lembrei do vídeo do casal e resolvi procurar no YouTube, descobri várias músicas em Hebraico e comecei a assistir pra me familiarizar com a língua (se adiantou alguma coisa é outra história). Quatro meses depois estava trabalhando em Rosh Haayin e morando em Netanya. Perdi meu trem, peguei o próximo, por algum motivo mudei de vagão e sentei na parte de baixo (nunca sento em baixo). Quando olho pro lado, quem está lá? Yoni!!! Com sua kipá (solidéu), sua bicicleta elétrica e seu narigão (eu tenho o nariz pequeno graças à rinoplastia). Qual a possibilidade de sentar do lado de uma pessoa (bem gente boa inclusive) em um trem num pais de 9 milhões de habitantes? Matematicamente impossível (mais fácil ganhar na loteria)!
Dica útil: Ele escreve certo por linhas de trem tortas! Israel é pra todos, hoje em Tel Aviv, ano que vem em Jerusalém!
olá, Roni,
Chegou e já sabe tudo, não é?
Pois eu estou aqui há 46 anos e cada vez sei menos…
Hilonit por escolha, já conheci inúmeras sinagogas por dentro, no Brasil, aqui e no mundo.
Baixe um pouco a bola: generalizar é perigoso…
Eu conheço Israel desde 1957, onde vivi por pouco mais de dois anos. Voltei em 1976, quando fiquei por 14 meses e tenho ido regularmente ficando por períodos mais curtos. Algo mudou em Israel e nos judeus israelenses depois dos Acordos de Oslo, o fracasso da política de esquerda para alcançar a paz, apesar de todas as concessões feitas pelo Avodá-Tzomet em Camp David e em Taba e a intifada que se estendeu de 2000 a 2005. Morreram cerca de 1500 cidadãos e 3000 feridos, muitos com gravidade. Hoje vejo dois povos judeus vivendo no mesmo espaço, há uma clivagem social e política de forma que me parece irreversível. Lembremos o que aconteceu no passado de acordo com o relato do historiador Flávio Josefo: quando a Judéia esteve sob ocupação dos Gregos Selêucidas os chassidim (liderados pelo clã dos Hashmonaim) e os helenizados (Mityanavim) entraram em choque , o que levou a duas guerras, uma contra ocupante e a outra entre os Judeus.
Se o secular que mora em Tel Aviv não sabe o que é uma sinagoga por dentro, imagino que o religioso de Jerusalém não saiba o que é um quartel do exercito por dentro ou mesmo uma escola que ensina matematica e ingles para desenvolver o país.
Existe realmente essa grande diferença entre Israel e Telavivi?
Roni, estou me divertindo muito com suas crônicas de oleh chadash. Suas impressões de observador a primeira vista (afinal é um oleh chadash) são plenas de humor judaico e tem muito do que eu me lembro de Israel.
Adorando ler.