Einstein e o D’us de Spinoza
Por Mary Kirschbaum
Albert Einstein afirmou: “Eu acredito no D’us de Spinoza”. Ele não acreditava num D’us pessoal que se preocupasse com o destino e as ações dos seres humanos, uma visão que descreveu como ingênua. Entretanto, dizia não ser ateu, preferindo chamar a si mesmo de agnóstico, ou descrente religioso”.
Em outras entrevistas, ele afirmou pensar que existe um “legislador” que estabelece as leis do universo.
Einstein também afirmou que não acreditava na vida após a morte, acrescentando: “uma vida é suficiente para mim”.
Ele esteve intimamente envolvido durante sua vida com vários grupos humanistas. Ele também rejeitou um conflito entre ciência e religião, e sustentou que a religião cósmica era necessária para a ciência.
O D’us de Spinoza, que Einstein dizia acreditar, Se revela na harmonia ordenada do que existe e não em um D’us que se preocupa consigo mesmo, com destinos e ações dos seres humanos.
Einstein acreditava que o problema de D’us era o “mais difícil do mundo”. Uma questão que não poderia ser respondida “simplesmente com sim ou não”.
Ele admitiu que: “O problema envolvido é vasto demais para nossas mentes limitadas”.
Einstein explicou a sua visão sobre a relação entre ciência, filosofia e religião nas suas palestras de 1939 e 1941:
“A ciência só pode ser criada por aqueles que estão completamente imbuídos da aspiração à verdade e à compreensão. Todas as aspirações existem numa sociedade saudável como tradições poderosas, que nascem não através da demonstração, mas através da revelação, através de personalidades poderosas. Não se deve tentar justificá-las, mas sim sentir a sua natureza de forma simples e clara. Os princípios mais elevados para as nossas aspirações e julgamentos são-nos dados na tradição religiosa judaico-cristã (entenda-se o conjunto de crenças em comum do judaísmo e o cristianismo, bem como a herança das tradições judaicas herdadas pelos cristãos)”.
Embora fosse filho de pais não religiosos judeus, ele chegou a uma profunda religiosidade, que no entanto chegou a um fim abrupto aos doze anos de idade. Através da leitura de livros científicos populares, logo chegou a convicção de que muitas histórias da Bíblia não podiam ser verdadeiras. Foi muito difícil para ele, que, ao mesmo tempo que sentiu positivamente poder se apossar do “Pensamento Livre” (ponto de vista filosófico, que sustenta que os fenômenos e todas as coisas devem ser formados a partir da ciência, da lógica e da razão e não devem ser influenciados por nenhuma tradição, autoridade ou qualquer dogma), também sentiu a impressão que sua juventude foi enganada pelo Estado, através de mentiras. Aí ele começa a desconfiar de todos os tipos de autoridade e começa a ter atitudes totalmente céticas.
Ele diz que ficou bastante claro, a partir de então e que o paraíso religioso da juventude foi perdido, libertando-o do “meramente pessoal”, de uma existência dominada por desejos, esperanças e sentimentos primitivos.
Foi então compreender o universo à sua maneira. Lá fora havia este enorme mundo, que existe independente de nós como um grande e eterno enigma. A contemplação deste mundo acenava como uma libertação, e logo percebeu que muitos homens que aprendeu a estimar e a admirar encontraram liberdade e segurança interiores em sua busca.
Aí, Einstein entra para uma tentativa de compreensão mental deste mundo extra pessoal, dentro da estrutura de suas capacidades, que teria se apresentado, meio consciente, meio inconsciente, como um objetivo supremo para ele.
O caminho para este paraíso não era tão confortável e atraente quanto o caminho para o paraíso religioso mas, segundo ele, mostrou-se mais confiável, e ele não se arrependeu de tê-lo escolhido.
Escolhendo portanto o caminho da ciência afirmou: “A mente humana, por mais treinada que seja, não consegue compreender o universo. Estamos na posição de uma criança entrando em uma enorme biblioteca cujas paredes estão cobertas até o teto com livros de diversas línguas. A criança sabe que alguém deve ter escrito aqueles livros. Não sabe quem ou como. Não entende os idiomas em que estão escritos. A criança nota um plano definido na disposição dos livros, uma ordem misteriosa que ela não compreende, mas apenas suspeita vagamente. Essa, parece-me, é a atitude da mente humana, mesmo a maior e mais culta, em relação a D’us. Vemos um universo maravilhosamente organizado, obedecendo certas leis, mas compreendemos as leis apenas vagamente. Nossa mente limitada não consegue compreender a força misteriosa que move as constelações. Sou fascinado pelo Panteísmo de Spinoza. Admiro ainda mais suas contribuições para o pensamento moderno. Spinoza é o maior dos filósofos modernos, porque é o primeiro filósofo que trata da alma e do corpo como uma coisa só, e não como duas coisas separadas”.
Einstein então declara que suas opiniões, assim como as de Spinoza, admiram a beleza e a crença na simplicidade lógica da ordem que podemos compreender humildemente e apenas imperfeitamente e acredita que temos que nos contentar com nosso conhecimento e compreensão imperfeitos e tratar valores e obrigações morais como um problema puramente humano, aliás, “o mais importante de todos os problemas humanos”.