Dissolução da Knesset, e agora?
Por David S. Moran
Depois de um ano e uma semana de governo, o primeiro-ministro israelense, Naftali Bennett, veio a público e declarou a dissolução da Knesset. Ao mesmo tempo, decentemente, Bennett deixa seu posto a partir da semana que vem e o passa ao primeiro-ministro suplente, Yair Lapid.
Desde que tomou posse, o líder do partido da oposição, Benjamin Netanyahu, fez de tudo para derrubar o atual governo, o que é do seu direito. O que não está correto é que incessantemente, na frente das casas de alguns deputados, promoveram protestos incomodando as famílias e os vizinhos dos mesmos, dia e noite, até não poder mais. Acrescente a isto, a corrupção prometida aos que deixassem de apoiar o presente governo, com promessas de lhes integrar no Likud e dar lhes postos se este partido formasse o próximo governo. Fora a votação na Knesset contra qualquer projeto de lei que o governo apresentasse, mesmo que concordassem com ele.
Deputados desconhecidos do partido Yemina, de Bennett, foram caindo. O deputado Shikli foi o primeiro, a deputada Silman caiu no efeito dominó e em seguida o deputado Orbach. O governo que tinha apenas o apoio inicial de 61 deputados (dos 120, no Parlamento israelense), já estava passando dificuldades para aprovar seus projetos. A isto somou a oposição de dois deputados árabe-israelenses, Mazen Ganaim, da Lista Árabe Unida (Ra’am) e a deputada Ghaida Rinawie Zoabi do Meretz, que são da coalizão. Estes dois deixarão a Knesset. Ganaim vai concorrer à prefeitura da cidade de Sakhnin.
O primeiro-ministro Bennett, ao anunciar a intenção em dissolver a Knesset reiterou que “passamos a cultura de nós e não eu. A cooperar com várias opiniões que refletem os desejos do povo”. Muitos foram tomados de surpresa. Bennett disse que conversou com autoridades jurídicas e da segurança e entendeu que se não passasse a continuação das normas na Judeia e Samaria, teríamos um caos. Depois, o novo e interino (até as eleições em fins de outubro) premier, Lapid elogiou Bennett que pôs o interesse do Estado acima do pessoal. “Temos que lidar com o custo de vida, o perigo do Irã, Hamas, Hizballah e forças que ameaçam a democracia israelense”. Bennett será, até a constituição de um novo governo, primeiro-ministro suplente e o ministro que lida com o Irã.
Evidentemente, o líder da oposição, Netanyahu, elogiou a convocação de novas eleições e afirmou que não chamará o deputado Mansour Abbas, do Ra’am ao seu possível governo. Apesar desta critica, foi Netanyahu que conversou com Abbas diversas vezes tentando obter seu apoio para formar novo governo, após quatro eleições de indecisão. Dando sinal dos slogans nas eleições, Netanyahu criticou “o pior governo na história de Israel. Perdemos a segurança e o custo de vida subiu”.
Na quarta-feira (22), foram apresentadas na Knesset 11 moções para sua dissolução, e os deputados votaram esmagadoramente aprovando-as por 110 (dos 120) e ninguém contra. Isto apesar da especulação que cerca de 40 deputados perderão seus postos.
O Likud ainda tenta ver se consegue formar um governo alternativo, mas esta possibilidade é muito remota. O Likud com emissários do Netanyahu tenta convencer o Ministro da Defesa, Benny Gantz, a apoiar Netanyahu e que seria primeiro-ministro na primeira metade do mandato. Gantz recusou terminantemente, mostrando que não confia na palavra de Netanyahu. Assim o é com Gideon Saar, que foi um dos líderes do Likud e perdeu a confiança em Netanyahu. O Likud ainda tenta convencer a Ministra do Interior e colega de Bennett, Ayelet Shaked, que está no Marrocos, a voltar para o Likud, apesar de muitos no partido estarem contra este convite.
A situação politica de Israel é trágica. Em três anos e meio, será a quinta eleição, recorde mundial. Mesmo as eleições que serão convocadas para fins de outubro ou início de novembro, não parecem pôr um ponto final no impasse político. As pesquisas de opinião pública feitas esta semana mostram que nenhum bloco obterá mais de 60 deputados. O Likud receberia 35 mandatos, Yesh Atid de Lapid 21, Sionismo Religioso 10, Kachol Lavan do Gantz 9, Shas 8, Yahadut Hatorá 7, Lista Árabe Conjunta 6, Ra’am 4, Avodá 6, Yemina 5, Israel Beiteinu 5, Tikva Hadasha do Saar 4, Meretz não obtém o mínimo (3,25%). Muito pode mudar até as eleições.
Tudo isto pelo capricho de uma pessoa, Benjamin Netanyahu. O ex-premier tem carisma e sabe falar, mas é bem diferente de outro líder do Likud, Menachem Begin. Este, sim, via o Estado acima de qualquer outra coisa. Atualmente, talvez nem votasse no Likud, como seu filho, Benjamin Begin (é deputado pelo partido de Gideon Saar). Netanyahu, que há um ano declarou que não juntaria Itamar Ben Gvir ao seu possível governo, agora o abraça afetivamente. Na época do governo Yitzhak Shamir, do Likud, ele e sua bancada saíam do recinto quando subia discursar o pai ideológico de Ben Gvir, o extremista Meir Kahana.
Se Netanyahu deixasse a liderança do Likud, Israel já teria um governo estável. Isto foi declarado inúmeras vezes por líderes de outros partidos que se opõem a liderança do Netanyahu por enfrentar três acusações por corrupção, fraude e favorecimento. O Ministro da Justiça está tentando passar uma lei que impeça quem esteja enfrentando a justiça de concorrer para primeiro-ministro. Pelo visto, agora esta lei não passaria, pois até Bennett disse que não a aprovaria. O deputado Dudi Amsalem (Likud) disse este mês: “nós formaremos um novo governo e vamos quebrar os ossos da esquerda”. O seu colega de partido, Amir Ohana adicionou: “nós anularemos todas as nomeações feitas por este governo”.
O Estado de Israel já passou por muitas divergências políticas, mesmo antes de sua formação. Já teve ministro árabe muçulmano, no governo de Ehud Olmert (2006-2009), Raled Majadele, do partido Trabalhista. Os cidadãos deste país só podem esperar que as divergências sejam deixadas de lado em tempos difíceis e sob perigo de guerra. A união faz a força. Israel está passando bons momentos. Economicamente está no topo mundial. Invenções na medicina, alta tecnologia, segurança e outros que vão de Israel para o benefício do mundo todo são bem conhecidos. As relações com países árabes e/ou muçulmanos estão sendo estreitadas e até se cogita relações abertas num futuro próximo com a Arábia Saudita. O atual chanceler, Yair Lapid, está na Turquia (programado antes desta crise) e lidando para melhorar as relações que estiveram a ponto de rompimento. Ao mesmo tempo agradece ao governo Erdogan por ajudar na proteção de turistas israelenses que estiveram sob perigo de atentados iranianos no país.