Da janela do meu apartamento…
Por Nelson Menda
Da janela do meu apartamento, onde passo grande parte do dia, desfruto o privilégio de acompanhar, ao vivo, os diferentes ciclos da natureza. Dentre eles, a deposição contínua, na areia da praia, de conchas marinhas.
Como já desenvolvi, há alguns anos, um produto farmacêutico à base de conchas do mar, provenientes de depósitos milenares da Lagoa de Araruama, no Rio, acabei me interessando pelo assunto. Naquela ocasião, solicitei aos pesquisadores do setor de malacologia de uma universidade carioca a identificação das diferentes espécies capturadas no local. As conchas eram trituradas e o produto da moagem utilizado na produção de adubo e ração para aves.
Passadas quatro décadas, voltei a me deparar com uma infinidade de conchas marinhas, que as marés depositam, a cada ressaca, nas areias da faixa de praia em frente ao prédio onde resido, no litoral da Flórida. São tantas conchas que uma das atividades preferenciais das crianças e adultos que veraneiam nesta região é sair catando as mais bonitas, provavelmente para colecionar. À semelhança do que ocorria no Brasil, só se encontram, por aqui, a parte rígida desses animais marinhos, ou seja, as conchas propriamente ditas. O que teria acontecido com o, digamos assim, conteúdo vivo desses animais, bastante apreciados pelos gourmets?
Naquela ocasião, conversando com um biólogo, aprendi que os predadores das ostras eram os polvos, mas até agora não tive oportunidade de encontrar, nas areias da praia da região em que estou residindo, nenhum vestígio desses exóticos animais marinhos. Até mesmo porque, são tantas as conchas que chegam às areias da praia a cada ressaca que o número de polvos deveria ser muito grande. Vai ver, deve existir alguma outra espécie animal que também curte ostras. Se algum leitor puder ajudar a esclarecer esse aparente mistério, ficarei agradecido.
Consegui identificar as conchas desta praia, pertencentes ao gênero Scallop shell, cujo formato inspirou sua utilização como símbolo de uma conhecida marca de combustível. Sempre gostei de frequentar praias, tanto no litoral gaúcho quanto carioca, mas não lembro de ter encontrado um número tão grande de conchas marinhas como aqui em Indian Harbour Beach.
Além das conchas, a orla marítima desta região é o habitat natural de pelicanos, aves providas de longos e afiados bicos, conhecidas por capturar pequenos peixes após mergulhos certeiros nas águas do mar. Só não consigo entender como os pelicanos conseguem distinguir os peixes dos surfistas, também numerosos por aqui. É curioso acompanhar os mergulhos repentinos dos pelicanos, em busca de pequenos peixes, que abocanham e levam, intactos, em suas gargantas, para alimentar seus filhotes.
Sem falar nas operosas tartarugas, que emergem das águas do mar, com seu andar desajeitado, para desovar seus filhotes nas areias da praia. São notívagas, daí a recomendação expressa aos moradores de casas e apartamentos da orla, de manter apagadas as luzes de suas residências durante os períodos de desova. Pelas marcas deixadas na areia, nas manhãs seguintes, é possível aquilatar o tamanho das mamães tartarugas que se movimentaram pelo espaço. Há uma recomendação expressa aos moradores da orla para que mantenham apagadas as luzes dos seus imóveis, para não atrapalhar a desova da numerosa prole da espécie. Pela manhã, grupos de voluntários costumam percorrer a faixa de areia, para auxiliar o retorno dos filhotes mais lentos às águas do mar.
É fascinante poder testemunhar, ao vivo, dia após dia, da janela do meu apartamento, esse ciclo contínuo da vida marinha.
Foto: PickPik
Meu amigo Nelson,
Estava sentido falta dos seus textos.
Um abraço,
Grande Sergio. Mudei de casa tantas vezes nos últimos tempos que não tinha tempo nem clima para escrever. Felizmente, a poeira baixou e a inspiração retornou. Obrigado por ler e comentar. Nelson
Que bacana! Seu texto me trouxe boas lembranças. Esse seu novo lar deve ser um lugar muito bonito. Parabéns!
Oi Angela. Realmente, tenho o privilégio de descortinar uma vista belíssima, mesmo quando o tempo está nublado.
Muito bom, me lembro desta epoca e da feira onde teve um stand de apresentacao do produto.