Cuidado com as generalizações
Por Hayim Makabee
Nós estamos todos acostumados a fazer generalizações. Sabemos que isso é errado, porque para cada generalização existem muitas exceções. Mas, mesmo assim, as generalizações podem ser uma ferramenta útil, que nos ajudam a lidar com o excesso de complexidade.
Por exemplo, no Brasil, os cariocas fazem generalizações sobre os paulistas, e vice-versa. Nós temos o hábito de contar “piadas de português”. Até em uma mesma cidade nós atribuímos características diferentes aos moradores da “Zona Norte” e os da “Zona Sul”.
Quando uma pessoa faz aliá, ela se defronta com uma realidade muito diferente daquela com a qual estava acostumada. Além de diferente, devemos sinceramente reconhecer que a realidade aqui em Israel também é bastante complexa. Então é bastante natural que o olê tente se adaptar fazendo generalizações sobre as suas experiências pessoais neste contato inicial com o povo Israelense.
O grande problema é que essas generalizações também são extremamente prematuras. O olê tenta chegar às suas próprias conclusões quando ainda lhe falta muita informação. Ele tem uma vivência muito limitada nesta nova realidade. Para piorar, ele tenta interpretar suas experiências de acordo com os padrões a que estava acostumado no seu país de origem.
Por exemplo, tenho um amigo que me disse: “Os Israelenses gostam de fazer intervalo no trabalho de meia em meia hora para fumar e tomar um cafezinho!” Me perguntei: como ele chegou a essa conclusão? Acontece que ele trabalhava em um supermercado, e realmente neste ambiente de trabalho as pessoas faziam “intervalo de meia em meia hora para fumar e tomar um cafezinho”.
O meu amigo não foi capaz de entender que essa sua experiência se aplicava ao supermercado onde trabalhava, mas não necessariamente a outros ambientes ou no caso de pessoas com outras profissões. Esses seus colegas de trabalho no supermercado eram os únicos israelenses com quem ele tinha contato, e daí ele generalizou.
Da mesma forma já escutei várias vezes o comentário: “Os Israelenses se vestem muito mal”. Em geral, as pessoas que falam isso faziam parte de uma elite socioeconômica no Brasil, e moravam em bairros de classe média alta. Essas mesmas pessoas, depois de aliá, talvez estejam morando aqui em Israel em bairros de classe média baixa ou talvez até de classe baixa. Mas eles não compreendem isso, e então generalizam suas experiências como se os seus vizinhos representassem todos os Israelenses.
Como já escrevi em diversos artigos anteriores, a sociedade israelense é muito complexa e também muito heterogênea. Meu objetivo com este artigo é alertar os olim para que evitem fazer generalizações, e principalmente que evitem fazer generalizações prematuras. O processo de adaptação exige muita paciência, e isso inclui também a paciência para observar atentamente e evitar as conclusões precipitadas.
Boa sorte!
Foto: Yoninah, CC BY-SA 3.0, via Wikimedia Commons