Crise sanitária ou crise econômica? Esta é uma crise social
Por Janine Melo
Neste domingo (19/04) começamos uma semana diferente de todas as outras desde que a pandemia do coronavírus se iniciou em Israel. Algumas das restrições tomadas para diminuir a propagação do vírus foram aliviadas. Este aliviamento foi permitido para que o país possa retomar pouco a pouco suas atividades e, desta forma, sair o quanto antes da crise econômica na qual ele se encontra. (https://www.bras-il.com/a-reabertura-da-economia-e-o-selo-roxo).
No entanto, a previsão é de que o buraco da crise seja mais fundo do que pensamos e de que, até o fim do ano, 25 mil negócios em Israel irão à falência (https://www.mako.co.il/news-israel/2020_q2/Article-74f878a81c39171026.htm). Um dos requisitos mais pedidos por parte do povo é a reabertura do Sistema educacional, que está fechado há semanas e, por conta disso os alunos vêm assistindo às aulas e estudando desde casa, pelo menos aqueles que têm os meios tecnológicos para estudar.
A pergunta em questão não é somente como o governo planeja reviver a economia israelense, mas também como ele planeja fazê-lo sem um plano educacional concreto no qual as crianças possam voltar o quanto antes para as escolas.
A demanda pública é de retomar as aulas nas escolas e nos jardins de infância o quanto antes. No entanto, a previsão do Ministério da Educação é de que a retomada das aulas não acontecerá nas próximas semanas. Para fechar o primeiro dia dessa nova semana, declara a Secretária-geral do sindicato dos professores que “não haverá uma adição de dias de trabalho em julho às nossas contas” (https://www.mako.co.il/news-education/2020_q2/Article-98f1c66af439171026.htm). O significado é que, apesar da necessidade dos pais trabalharem o máximo possível nos próximos meses e a impossibilidade de fazê-lo com filhos pequenos em casa durante as férias, o Sindicato dos Professores proclama que os professores não darão nem sequer mais um dia de trabalho durante o tempo de férias deles.
No meio dessa confusão, outra pergunta em questão se vê no horizonte: se a economia deve retomar suas atividades o quanto antes e as escolas continuarão fechadas em tempo indeterminado, quem é que ficará em casa com as crianças?
Infelizmente, a maioria dos responsáveis na gerência da crise atual são homens. Este simples fato leva ao enforcamento do modelo que a Professora Nitza Berkovitch chama de “dois sustentadores, uma cuidadora”. Em outras palavras, voltamos ao modelo da família no qual o casal de pais, na maioria composto por um homem e uma mulher, sustenta a família, mas apenas um deles – no caso, a mulher – é o principal responsável pelo cuidado dos filhos. Afinal, em uma realidade na qual há uma necessidade indiscutível de que um dos pais fique em casa com os filhos e o outro saia para trabalhar; e também na qual a mulher recebe 31,7% menos que um homem no salário médio mensal (segundo o artigo do jornal Globes, 2017 https://www.globes.co.il/news/article.aspx?did=1001179687), vocês acham que qual dos dois vai ficar em casa?
Há uma discussão contínua sobre a principal característica da crise que trouxe o coronavírus: ou ela é sanitária ou ela é econômica. Eu digo: esta é uma crise social. Nós vemos não somente a destruição da economia e a piora do Sistema de saúde, mas também uma série de questões sociais que vêm à tona e gritam em pleno século 21: “Nós ainda estamos aqui!”. Diferenças entre gênero, violência doméstica, isso tudo é apenas a ponta do iceberg. Chegou a hora de o nosso governo acordar.