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Corredor Filadelfia é essencial, ou os reféns?

Por David S. Moran

Na segunda-feira (02/09), Netanyahu foi a TV e, entre outras coisas, disse: “ficaremos no corredor Filadelfia para sempre”. Em contrapartida, o chefe do Mossad, Dadi Barnea, que é um dos intermediários nas negociações com a organização terrorista Hamas disse aos seus pares: “Israel está pronto para sair de Filadelfia na segunda etapa das negociações”. Ele não diria isto se não recebesse luz verde de Netanyahu.

O que é o corredor Filadélfia? É um corredor de 14 km que se estende ao longo da fronteira da Faixa de Gaza com o Egito, por 14 metros de largura. Por baixo deste corredor, o Hamas construiu cerca de 200 túneis para passar de um lado a outro. Só que se sabe que estes túneis foram fechados em 2017 e o Egito, a pedido de Israel, bombeou os túneis com água do mar. O contrabando de armas e outros artefatos entrava pela passagem de Rafah, que é a passagem do Egito para Gaza.

O corredor de Filadelfia, se fosse tão importante como Netanyahu alega, seria o primeiro passo a ser ocupado na guerra entre Israel e o Hamas, mas não o foi. Israel primeiramente atacou no norte da Faixa de Gaza e só depois de oito meses chegou a Filadelfia.

O Hamas exige que num acordo para libertar reféns, Israel se retire do corredor Filadelfia e Netanyahu finca o pé e não concorda, “ficaremos lá para sempre”. Se assim o for, os soldados israelenses ficarão expostos como alvos aos terroristas do Hamas.

O que preocupa o Netanyahu é manter seu governo e que os messiânicos de Smotrich e Ben-Gvir fiquem na coalizão governamental. Mas, fica a pergunta, o que é mais importante aos valores judaicos, “salvar a vida de uma pessoa é como se salvasse o mundo todo”, ou manter a coalizão? Todos os dias há demonstrações de milhares de pessoas e isto não mexe com ninguém da coalizão.

Esta semana, Israel ficou estarrecido com a descoberta dos corpos de seis jovens sequestrados pelo Hamas num túnel em que nem podiam ficar de pé. O túnel de cerca de 120 metros tem o início no assoalho camuflado de um quarto de crianças no bairro de Tel Sultan, em Rafah, numa profundidade de 20 metros. Os seis israelenses foram mortos à queima-roupa, quando seus raptores sentiram que as tropas israelenses estão perto. Lá foram encontrados vestígios de sangue, garrafas com xixi, uma lata servindo de banheiro improvisado, pouca água, o Alcorão, alimentos secos e um calor infernal. É nestas condições infernais que ainda estão 101 sequestrados, entre vivos e mortos. Tem que traze-los já aos seus familiares e ou a sepulturas decentes. Depois faz o que deve fazer.

Eyal Hulata, que foi do Mossad durante anos e, depois, o chefe do Comitê de Segurança Nacional e conselheiro de segurança de Netanyahu, disse (05/09): “Israel merece um primeiro-ministro melhor. O premier não diz a verdade aos cidadãos… libertar reféns é um valor primordial no Estado. Precisamos chegar a um cessar-fogo que é interesse nosso e do Hamas”.

Na sexta feira, no horário nobre da TV, canal 12, o ex-chefe do Shabak (Serviço de Segurança Geral), Nadav Argaman, criticou o que chamou de “a cena de Netanyahu sobre o corredor Filadelfia”, dizendo que isto é uma desculpa para que ele se mantenha no poder. Netanyahu não fala a verdade do que ocorre em Gaza e no norte do país. De acordo com Nadav, “o corredor Filadelfia é necessário como corredor entre Netanyahu e Smotrich para manter este governo messiânico e perigoso”. Ele pede maior e mais ativa intervenção do presidente Herzog e que seu sucessor na chefia da Shabak, Ronen Bar faça de tudo para chegar a negociação e libertar os sequestrados”.

Netanyahu recebeu uma inesperada bronca no fim de semana, quando foi prestar condolências à família do soldado Uri Danino Z”L, que foi sequestrado no dia 7/10 e morto recentemente com outros cinco israelenses, cujos corpos foram encontrados. Seu pai, o rabino Elhanan Danino acusou Netanyahu de “ter construído os túneis, com o dinheiro e o cimento que você deixou entrar para o Hamas”. “Temos que ser unidos, sem a união não merecemos ter este país”. Netanyahu lhe disse: “porque estou aqui? Para as mordomias do ofício? E sua esposa Sara completou “que mordomias?”. Ao que o rabino retrucou. “O que você tem a dizer já ouvimos há mais de 15 anos, você governou, sentou quieto e nada fez”. Novamente, Sara interveio e lhe disse: “você fala o que te fazem dizer” (referindo-se à esquerda). Só que o rabino é ligado ao Shas, partido da coalizão do Netanyahu.

A situação em Gaza é tal que, segundo pesquisa realizada por um especialista da AP e apresentado por Ehud Yaari (11/09), hoje, só 6% dos eleitores votariam no Hamas. 49% expressaram sua vontade de emigrar, 47% votariam na Fatah. Há grande apoio a um cessar-fogo e negociações com Israel e oposição à distribuição de alimentos pelo Hamas. As boas notícias para Israel, segundo o Ministro da Defesa, Yoav Gallant é que em documentos do Hamas descobertos, apurou-se que 70% do seu poderio militar foi destruído, 95% dos mísseis. 50% dos terroristas foram mortos, ou feridos. 20% teriam fugido.

Além do sul e os problemas com o Hamas e a Jihad Islâmica, Israel trava uma batalha não declarada com o Hezbollah, do norte, no Líbano. Esta organização xiita, proxie do Irã ataca Israel desde o 7/10 em solidariedade ao Hamas. Só que os poucos mísseis diários aos poucos foram subindo para 50 a 100 mísseis diários. Israel declara que lutará contra o Hezbollah no Líbano, mas por enquanto não tem bastante forças armadas para deslocar de Gaza para lá.

Os libaneses estão atentos e, com o pânico que toma conta no país dos cedros, dezenas de milhares de cidadãos evacuaram do sul do país. O Hezbollah também desmontou material eletrônico de seus quartéis em Beirute e transferiu mísseis de alta precisão

Também os constantes ataques na Samaria e Judeia incomodam e Israel faz de tudo para que não ecloda a terceira Intifada. Até da Jordânia, no domingo (08/09) houve um atentado quando um caminhoneiro que entrou pela passagem Allenby, sacou um revólver e matou três israelenses antes de ser morto. Infelizmente, nas eleições gerais realizadas esta semana, o partido da Irmandade Muçulmana obteve 62 deputados ante 5 nas eleições passadas, tornando-se o maior partido no parlamento jordaniano.

Por fim. Mesmo sabendo que só uma pequena parcela dos israelenses mantém o exército e que os reservistas já estão fazendo rodadas e mais rodadas nos combates (e isto, além de injusto, atrapalha muito a economia do país), Netanyahu está elaborando com os partidos ultraortodoxos, uma lei para isentar seus jovens do serviço militar, só para poder se manter no poder. Nem mesmo na atual situação, em que todos sabem da falta de soldados da ativa, os ultra ortodoxos se aproximam do resto dos habitantes do país e continuam a viver à sua custa.

Foto: FDI

3 comentários sobre “Corredor Filadelfia é essencial, ou os reféns?

  • Péssimo artigo
    Além de tudo tendencioso e perigoso
    Estimulando a divisão entre o povo
    Que pena, decepcionante a postura da revista Brasil

    Resposta
  • Estimada Rivka. É muito fácil escrever que o artigo é tendencioso e perigoso (?) e estimula a divisão entre o povo. Se não concordas com o escrito, menciones os erros, ou as “falsidades” que supostamente escrevi. Shabat Shalom

    Resposta

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