Com truques vencerás a guerra
Por David S. Moran
Esta semana, os israelenses deixaram por um minuto a luta contra o coronavírus, que toma as manchetes nos últimos meses e acompanharam com certa apreensão as noticias que vinham do norte do país. Noticias do que faria a Hizballa. Muitas palavras pouca ação.
Tudo começou na terça (21) quando noticias levaram ao conhecimento do público que a aviação israelense atacou armazéns nas redondezas de Damasco. Para lá o Irã transferiu material bélico e é mais uma fase no que aqui o exército chama de “campanha entre campanhas”. Neste ataque morreram cinco soldados da Guarda Revolucionária e um terrorista da Hizballah. Jogo de rato e gato. O Irã está há anos tentando se estabelecer junto às fronteiras de Israel, tanto no Líbano, através da Hizballah, como da Síria, com soldados das Guardas Revolucionárias e outros combatentes “proxis”. Israel adverte dia e noite que não permitirá forças iranianas se estabeleceram e faz de tudo para que isto não ocorra.
Israel tenta se manter low-profile e geralmente não confirma nem desmente suas ações, para que fique vago para o outro lado quem perpetrou o ataque. Uma coisa que deve nos preocupar é a fala incessante de “experts” ou não, competindo em trazer o quanto mais de informações, em canais abertos. Os Serviços de Inteligência trabalham muito em colher informações abertas e isto lhes facilita o trabalho.
Já na quinta passada (23), o Exército de Defesa de Israel (EDI) e em hebraico Tsahal, avaliou que Hizballah vai vingar a morte do seu ativista na Síria. Este não foi um comandante, mas conhecendo o Nasrallah, a Inteligência israelense avaliou que ele vai querer retaliar.
No sábado (25), havia informações no Líbano de que Israel passou mensagens a Hizballah tentando acalmar os ânimos, de que não teve intenção de matar o seu ativista. Havia até informações de que Israel usou o Putin para passar o aviso, de que não quer aumentar as chamas. Aliás, nenhum dos dois lados têm vontade de entrar num ciclo de violência. Além do calor infernal, o Líbano está na lona e Nasrallah está numa fraqueza e num ponto bem baixo da sua antiga áurea. Muitos libaneses acusam-no e à Hizballah pela atual situação caótica do país. Sim, sua organização terrorista tem mais de 130.000 misseis apontados e cobrindo boa parte do território israelense. A maioria dos misseis está escondida em casas de ativistas nas aldeias e cidades libanesas, em escolas, hospitais e repartições públicas. Serve bem o propósito propagandista da Hizballah, quando Israel revida.
Por outro lado, Israel também não tem interesse em travar guerra com a Hizballah, pois esta causaria muita destruição e mortes no lado libanês e provavelmente no lado israelense também.
No domingo (26) um drone tático (pequeno, com máquina fotográfica), foi lançado por força israelense e logo teve pane e caiu no lado libanês. Porta voz militar informou que o drone não tinha dados e mesmo pego pelos libaneses, não teria valor para eles. Ao mesmo tempo, Israel reforçou suas forças ao longo da fronteira com o Líbano. Baterias Domo de Ferro também foram transferidas para o norte do país. O jornal Israel Hayom anuncia neste dia que Tsahal estva em prontidão para um ataque “iminente” da Hizballah. No lado israelense muita fala, mas no lado da Hizballah, Nasrallah está escondido no seu bunker e não fala. Seu vice, Naim Qassem aparece na TV da organização e diz: “não daremos informações e respostas exatas à nossa reação pela agressão sionista”.
Tudo isto deve fazer parte da guerra psicológica, que está trabalhando horas extras nestas circunstâncias.
Na tarde de segunda-feira (27) no meio de programa de música nostálgica, este é interrompido e o locutor do programa econômico que viria em seguida entra no ar para anunciar em voz sombria: “na região de Har Dov (perto do Monte Hermon) há atividade militar. Não temos informações a mais para dar”. Esta entrada súbita no ar, sem ter o que informar, é certamente fruto da concorrência com outras estações. A rádio da Hizballah parece ser mais cautelosa e inteligente. Ela traz o informe da rádio israelense, sem nada mais acrescentar.
Com o passar do tempo, sabe-se que quatro a cinco terroristas da Hizballah, entraram em território israelense, na região das “Fazendas Shaba’a” e lançaram um míssil antitanque Kornet (depois foi desmentido). Esta região não tem muralha ou mesmo cerca. É uma região síria conquistada em 1973, mas o Líbano a reivindica. Enquanto não há acerto a “Fazenda Shaba’a” está mentalmente dividida. Uma parte é israelense e a outra é libanesa. Por lá se contrabandeia entorpecentes.
Logo à noite, no horário nobre, aparecem o Primeiro Ministro Netanyahu e seu eventual substituto e atual Ministro da Defesa, Beni Gantz, em cadeia de TV. Cada um deles teve pronunciamento de menos de dois minutos. Netanyahu advertiu que: “Israel não permitirá o Irã se estabelecer no Líbano e na Síria”. Gantz advertiu: “se a Hizballah ousar agir contra Israel, pagará um alto preço”. Depois de quatro minutos, poucos entenderam para que foi convocada a coletiva.
O que aconteceu é que as observadoras de Tsahal captaram nas suas telas que vigiam o lado libanês da fronteira, quatro ou cinco indivíduos armados e carregando bastante material, indo pelos vales e entre as árvores, subindo as encostas das montanhas. Por cerca de quatro horas ficaram acompanhando-os com atenção. Quando chegaram perto da área não demarcada, em Har Dov (Monte Dov) e entraram 50 metros em território israelense, foi dada a ordem de atirar neles.
O jornal Maariv (30/7/2020) trouxe a noticia de que o exercito avalia que os quatro ou cinco terroristas não planejaram invadir um posto de observação do exército israelense. A avaliação é que eles tinham a intenção de se posicionar e efetuar tiros de franco-atiradores contra o posto militar. Foram surpreendidos com tiros de franco-atiradores israelenses auxiliados por tanque e por ataque do ar, só para afugentá-los. Na fuga deixaram bastante material bélico e mochilas.
Mesmo assim, a avaliação do exército israelense é que este episódio ainda não acabou. O jornal Israel Hayom – ligado ao Netanyahu – trouxe na quarta (29) a manchete de que: “Hizballah agirá em dias”. O comentarista acha que Nasrallah vai querer vingar a morte do seu ativista na Síria e “mostrar que é homem” também neste dia que é o Dia do Sacrifício muçulmano.
Não sou sanguinário e não quero ver sangue derramado em nenhum dos lados. Mas o terror tem que ser combatido e não enfrentado com bonitas palavras. Como disse o Ely Voloch no filme “O bom, o mau e o vilão”, “quando você tem que atirar, atire, não fale”.
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