Brasilianistas e judeístas
Por Uri Blankfeld
Um “brasilianista” é uma pessoa, geralmente estrangeira, que estuda e se especializa em coisas sobre o Brasil. Eles podem aprender sobre a cultura, história, política e economia do país. Esses estudiosos ajudam a compartilhar informações sobre o Brasil com o mundo, escrevendo livros, fazendo pesquisas e ensinando em universidades. Eles são como embaixadores do conhecimento brasileiro no mundo, ajudando a promover uma compreensão mais ampla do país e suas pessoas.
Já “judeísta” não é um termo comum na terminologia acadêmica ou cultural. No entanto, poderia ser interpretado como alguém que estuda, pesquisa ou é especialista em assuntos relacionados à cultura, história, religião ou povo judeu. Essa pessoa pode ser um historiador, antropólogo, teólogo ou especialista em estudos judaicos, dedicando-se ao entendimento da cultura judaica, história do povo judeu, religião judaica e suas práticas.
Quando recebo postagens ou matérias sobre um “coletivo de judeus ou judias” levando seu apoio ao Sr. Lula com suas declarações antissemitas, percebo que somente um brasilianista judeísta poderia compreender e explicar este comportamento, ou melhor, esta distorção.
Para deixar mais claro ao leitor, nos programas de comédia da televisão brasileira dos anos 70 a 90, talvez sob influência de ares da democracia então recente, criaram-se tipos e chavões que caçoavam do comportamento do brasileiro com uma dose bem robusta de ironia. Quem não se lembra do “… brasileiro é tão bonzinho…” ou do “… o macaco tá certo…” e ainda “…posso esclarecer???…”.
No campo de ironias e dúvidas cruéis existencialistas judaicas, basta a menção ao Sr. Allan Konigsberg, conhecido como Woody Allen. Ele não é um especialista ou um pesquisador da cultura judaica. É apenas um questionador nesse campo.
Tanto lá como cá, muitas vezes somente através da comicidade para explicar certos atos.
Luís Fernando Veríssimo escreveu certa vez que o judeu tem um humor quase tribal, é o mais moderno e urbano na sua irreverência e na sua esquizofrenia assumida.
Ao receber notícias e listas de grupos de judeus do Brasil “inconformados”, trazendo consigo um termo absolutamente novo no noticiário – coletivo de judeus e judias (o termo não é novo, mas parece que a imprensa aprendeu rápido e resolveu adotá-lo) – vejo que “sem querer querendo” esse coletivo tornou-se uma fusão interessantíssima para brasilianistas e judeístas. Um verdadeiro “prato cheio”! Judeus não sionistas e com certeza não cananeus. Simplesmente parte do coletivo. “Coletivo de judeus e judias”, como se denominam. A piada não é minha. É deles.
Uma piada que cabe nesse momento tragicômico é aquela, devidamente adaptada:
Três presidiários são levados à mesma cela. Na falta do que fazer, põem-se a conversar.
“Por que está aqui?”, pergunta um recluso.
“Prenderam-me por bater em um cara do ‘coletivo de judeus e judias’. Um judeu chamado Rabinovich. E você?”
“Por ter defendido um cara do ‘coletivo de judeus e judias'”, respondeu o primeiro. “Um tal de Rabinovich”.
Os dois voltam-se então para o terceiro homem, um sujeito sentado no canto.
“E você? Por que te prenderam???”
“Porque me chamo Rabinovich e sou do ‘coletivo de judeus e judias'”.
Esse coletivo talvez tenha intelectuais e gente capaz de ter estudado história. Com certeza deve ter gente com avós ou parentes que foram mortos no Holocausto. Muitos dos judeus desse coletivo devem ter tido o pintinho cortado… Possivelmente, todos conheçam a palavra “shalom”. Talvez alguns já tenham ouvido na vida um “ô judeu, dá um dishcontinha”.
A verdade é que o coletivo de judeus e judias apoiando o antissemitismo no Brasil é triste para nós, judeus, mas com muita certeza, motivo de chacota entre os goim, especialmente os do Planalto.
Foto. Divulgação (Judias e Judeus Pela Democracia – SP)