Black Lives Matter
Por Nelson Menda
Da noite para o dia a pacata cidade de Portland, no Oregon, onde estou residindo, passou a merecer destaque nos telejornais e demais veículos da mídia de todo o mundo. O que teria acontecido, assim, de tão extraordinário?
Apesar da morte de George Floyd ter ocorrido em Minneapolis, ou seja, bem distante da Costa do Pacífico, as manifestações de rua, aqui em Portland, foram as que provocaram maior impacto, tanto dentro quanto fora do país. Os protestos deveriam ter sido pacíficos, mas um grupo de populares aproveitou a ocasião para depredar propriedades governamentais e privadas. As autoridades federais decidiram enfrentar os manifestantes com o envio de forças militares e policiais e a violência acabou se generalizando, especialmente na área central de Portland. Um grupo de mães resolveu intervir para pacificar a situação e evitar novos confrontos. Com o recuo das tropas e forças policiais federais a situação se acalmou, apesar das passeatas e carreatas continuarem desfilando pela cidade, inclusive pela frente da casa de uma das minhas filhas, onde estou hospedado.
O que tem chamado minha atenção é que a quase totalidade dos participantes dessas ações é constituída por brancos, engajados em uma luta que, a princípio, deveria interessar mais aos afro-americanos do que a eles próprios. Apesar de Portland ser considerada a cidade com o maior percentual de brancos do país, não existem bairros exclusivamente negros e é bastante comum observar casais mistos nas suas ruas, praças e parques. O que ainda persiste é uma diferença econômica e social entre os dois grupos que, sob a minha ótica, poderá ser reduzida, progressivamente, por intermédio da escolaridade e qualificação profissional. Nesse particular é forçoso reconhecer que as escolas públicas do Oregon, onde a quase totalidade dos jovens estuda, são de muito bom nível.
O saldo positivo dessas manifestações, na minha concepção, poderá ser o expurgo dos maus policiais de suas respectivas corporações e o fim das homenagens aos supremacistas brancos do passado. Talvez Portland acabe entrando para a história como um símbolo de igualdade entre as etnias, a exemplo do que aconteceu com a Sra. Rosa Parks que, em 1955, deu início ao movimento pelos direitos civis nos Estados Unidos, ao conseguir extinguir o odioso apartheid nos transportes públicos de Montgomery, Alabama.
Por falar nela, é o nome de uma importante avenida que passa bem ao lado da casa da minha filha, que se pode avistar da janela da sala. Daí a razão de muitas manifestações populares cruzarem por aqui antes de chegar ao Peninsula Park, do outro lado da rua, onde costumam ser pronunciados inflamados discursos. O pitoresco dessas manifestações é que tiveram início em uma outra localidade, se espalharam como um raio pelo restante do país até acabar aqui em Portland, uma cidade reconhecida pelo respeito às minorias, sendo classificada como a mais branca de todo o país, com aproximadamente 80% da população de origem caucasiana.
Foto: Pete Forsyth (Wikimedia Commons)
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Caro Nelson.
Aprecio suas postagens que sempre vejo com atenção e vejo que sua mudança te trouxe boas inspirações para publicar interessantes assuntos, continue pois por aqui o que a mídia cansa publicando (por falta de assunto) são os resultados dos jogos de futebol, perdão das mortes e número de novos casos deste terrorista oriental.
Grande abraço, Bernardo
Nelson, se todas as populações de cidades do mundo fizessem como a de Portland, teríamos uma redução substancial das desigualdades, motivo maior das lutas por um mundo justo. Abraços.
Não se trata de mais uma fonte de informações e sim uma avaliação diferenciada dos fatos, observada por uma pessoa experiente, que traduz os fatos vividos numa narrativa fácil de assimilar.
Nao estava entendendo o que Portland tinha a ver com esta historia , ja que nunca soube que houvesse problemas raciais em Portland.
Agora consegui ver e um ponto a mais para essa cidade. Resolveu brigar por esse assunto vergonhoso na historia americana .
Pelo jeito, as manifestações, por aqui, continuam acontecendo, só que com meia dúzia de gatos pingados. Melhor assim. Nelson
Realmente, Portland tem aparecido no noticiário quase diariamente. Acompanho as reportagens para ver se te encontro com um cartaz na mão e uma foto do Trump na outra!
Toda passeata com muita gente sempre acaba em quebra-quebra porque os malucos se sentem encorajados diante de uma multidão. Por mais pacífica que comece, com certeza vai ter confusão no final. A atitude covarde dos policiais super bem aparelhados, serve de estopim para uma revolta íntima que já está instalada na maioria da população, motivada pela grande desigualdade econômica. A inconformidade vai sendo mantida em silêncio, mas explode quando aparece um bom motivo, especialmente numa população que valoriza os bens materiais.
A covardia policial não é um problama só dos EEUU. Ocorre em todo o mundo, estimulada pela impunidade.