Biden no Oriente Médio e a obsessão palestina dos europeus
Por Deborah Srour Politis
Biden está de volta aos Estados Unidos depois de sua viagem de quatro dias ao Oriente Médio. Seu objetivo foi sem dúvida a última parada, a Arábia Saudita, mas para não ficar tão evidente, ele parou em Israel e na Autoridade Palestina.
A viagem a Israel foi descrita como um sucesso. Biden fez o que ele sabe fazer melhor: se ajoelhou perante duas sobreviventes do Holocausto, foi à abertura da Macabíada, fez uma declaração conjunta com o Primeiro-Ministro do dia, Yair Lapid, e reafirmou os fortes laços que ligam as duas nações. Mas Biden também exigiu fazer uma visita à Jerusalém do Leste, ao Hospital Augusta Victoria, sem estar acompanhado por qualquer israelense e retirando a bandeira de Israel que junto com a dos Estados Unidos enfeitavam a “besta”, seu carro forte. A mensagem não poderia ser mais clara que hoje a América não mais reconhece Jerusalém como a capital eterna e indivisível do povo judeu.
Depois ele foi para Belém, que fica a alguns minutos ao sul de Jerusalém e não para Ramallah por razões de segurança, imaginem só. Ramallah fica a apenas 21 km de distância. O que ficou marcado na visita a Belém, além das ameaças de Abbas sobre o estado de apartheid de Israel, foi a desafinação da orquestra palestina ao tocar o hino americano e o silêncio do presidente Biden sobre o assassinato do jornalista palestino Nizar Banat que foi surrado até a morte por policiais de Abbas. Mas tudo isso foi muito rápido e Biden então voltou sua atenção para o verdadeiro propósito de sua viagem: a Arábia Saudita.
Desde a sua campanha, Biden não parou de criticar os sauditas especialmente pelo assassinato do jornalista Jamal Khashoggi na embaixada saudita em Istambul. Biden jurou que os sauditas pagariam o preço e seriam os párias do mundo se ele fosse eleito. Claro, as políticas de Trump na época haviam tornado os Estados Unidos independentes em energia permitindo uma torcida de nariz para a OPEC. Mas as políticas verdes de Biden mudaram isso e a invasão da Ucrânia piorou a situação. Hoje de novo os Estados Unidos são dependentes da importação de petróleo e o preço do barril não sai da casa dos US$ 100. Com toda a sua suposta “experiência” em relações internacionais, Biden deveria ter ficado calado.
Mas a crise não começou aí.
Quando o presidente americano, Barack Obama, assumiu o cargo, ele promoveu uma política de apaziguamento com Teerã. Sua esperança era que os benefícios econômicos que viriam com um acordo nuclear convenceriam os mulás a se corrigirem. Essa visão de mundo também foi compartilhada pelos signatários europeus do acordo.
Infelizmente, o preço do erro de cálculo de Obama foi pago pelos países do Oriente Médio. Em vez de colher os benefícios econômicos advindos do acordo e normalizar seus laços com o resto do mundo, como esperado, Teerã insistiu em manter sua política expansionista na região. Em vez de se voltar para seus problemas internos e trabalhar para promover o bem-estar de seus cidadãos, o Irã fez exatamente o oposto.
Quando Joe Biden assumiu a Casa Branca, as relações entre os EUA e a Arábia Saudita continuaram a piorar. Biden restringiu a compra de armas defensivas da Arábia Saudita e removeu os Houthis da lista de organizações terroristas estrangeiras. Ainda, logo no início de seu mandato, Biden procurou de todos os modos reviver o acordo nuclear de Obama, com todas as suas falhas e desvantagens, às custas de seus ex-aliados no Oriente Médio – incluindo Israel, Egito, Jordânia e Estados do Conselho de Cooperação do Golfo.
E foi um insulto pessoal que Biden fez a Mohamed Bin Salman, acusando o príncipe de ter autorizado o assassinato de Khashoggi que levou o reino, ao lado de vários outros países árabes aliados dos EUA, a buscar novos caminhos em relações internacionais e pavimentando o caminho para o diálogo com Israel.
E foi surpreendente ver alguns especialistas políticos dizerem que a viagem de Biden tiraria a Arábia Saudita do “isolamento”. Riad nunca esteve isolada. Pelo contrário, foram os Estados Unidos que ficaram isolados devido à sua política externa ilusória, inspirada no legado de Obama. Essa política falhou no Oriente Médio, assim como na Ucrânia, com a Rússia, e com a China.
Mas voltando a Israel, de todas as declarações de Biden, suas juras de apoio, de seu suposto sionismo, foi a reiteração do seu apoio a uma solução de dois estados, com um estado palestino contíguo e com a capital palestina em Jerusalém do Leste que foi a mais irritante. Primeiramente, para dar contiguidade ao estado palestino, entre Gaza e a Judeia e Samaria, será preciso cortar Israel em dois além de expulsar 700 mil judeus da Judeia, região que deu origem ao seu nome. Ainda, as linhas de 1967 são na verdade as linhas de armistício entre Israel, a Jordânia e o Egito depois da guerra de 1948 que hoje não dão qualquer profundidade estratégica a Israel, nem mesmo para decolar aviões do Aeroporto internacional. Em alguns lugares Israel teria uma largura de apenas 14 km. As linhas de Auschwitz, como dizia o Ministro do Exterior de Israel, Abba Eban.
Com estas declarações absurdas desta administração americana que só fortalecem a irredutibilidade de posição dos palestinos, não há como voltar à mesa de negociação. Mas os palestinos podem contar também com os europeus para isso. Nesta última terça-feira, nove países europeus declararam que continuariam apoiando as ONGs palestinas designadas por Israel no ano passado como organizações terroristas.
Em uma declaração conjunta, os ministérios das Relações Exteriores da Bélgica, Dinamarca, França, Alemanha, Irlanda, Itália, Holanda, Espanha e Suécia argumentaram que Israel não havia fornecido “informações suficientes … sobre estes grupos da sociedade civil”.
Referindo-se à área em que as referidas organizações operam como Territórios Palestinos Ocupados – e não Autoridade Palestina – esses membros da UE disseram que “se houver evidência em contrário, agiremos de acordo”. Isso foi depois de professarem levar “acusações de terrorismo ou ligações a grupos terroristas … com a máxima seriedade”.
Para justificar o financiamento destas ONGs, estes países declararam que “uma sociedade civil livre e forte é indispensável para promover os valores democráticos e para a solução de dois Estados”. Esta frase por si só é prova da cegueira deliberada da Europa quando se trata de todas as coisas palestinas.
Em primeiro lugar, não há nada de “livre” na AP, que é controlada por tiranos e corruptos. Em segundo lugar, nenhum “valor democrático” está sendo promovido pelos chefões de Gaza e Ramallah. Nem eles mesmos pedem por uma “solução de dois estados”. Muito pelo contrário. Eles educam as crianças para odiar os judeus e Israel; enchem suas salas de aula e meios de comunicação com propaganda que encoraja a destruição do estado judeu; e pagam salários nababescos para aqueles que realizam ataques contra Israel e seus habitantes.
Há menos de duas semanas, o primeiro-ministro da AP, Mohammad Shtayyeh, acusou Israel de “aumentar a dor das famílias enlutadas pela perda de seus filhos, retendo seus cadáveres para usá-los nos laboratórios das faculdades de medicina de Israel em flagrante violação dos direitos humanos, valores, princípios e ética científica”. E assim ele pediu o boicote das universidades israelenses.
Essa farsa palestina, uma entre muitas, é digna de nota por sua inerente ironia. Ou Shtayyeh não percebe ou não se importa que um setor em Israel que é especialmente simpático a ele e seus colegas mentirosos é a academia. De fato, os campi israelenses estão repletos de professores e estudantes de esquerda – judeus e árabes – protestando a “ocupação”.
O que nos leva ao turbilhão que explodiu na esquerda, em Israel e no exterior, quando o ministro da Defesa, Benny Gantz, anunciou no final de outubro que ele estava designando seis ONGs palestinas como organizações terroristas pois eram de fato, braços da Frente Popular para a Libertação da Palestina, uma organização apoiada pelo Irã, proibida nos EUA, UE, Canadá, Austrália e Israel, cujo principal objetivo é a destruição de Israel.
Organizações de esquerda nos EUA se referiram à designação como uma “medida repressiva” para tornar ilegal grupos importantes de direitos humanos palestinos. Sim, direitos humanos. Até parece que a Frente Popular para a Libertação da Palestina é conhecida como defensora destes valores. A congressista americana Ilhan Omar twitou que Israel deveria ser punida. Os partidos árabes e de esquerda de Israel também denunciaram a listagem.
O Professor Gerald Steinberg presidente da organização que monitora ONGs, defendeu Gantz. Ele disse que para entender a decisão era preciso olhar para o contexto político e ideológico. “Atrás do rótulo de ONGs, estas redes são parte integral da estratégia palestina. Elas recebem fundos de governos estrangeiros, principalmente europeus em troca de influência e informação. Sob o disfarce de sociedade civil, as ONGs cooperam com seus patrocinadores europeus, promovendo a guerra de poder contra Israel, incluindo as campanhas de apartheid e crimes de guerra”.
Steinberg explicou, que “a designação israelense constitui uma grande ameaça para os atores investidos nas ONGs e suas campanhas políticas”.
“Quando as autoridades europeias dizem que não veem ‘nenhuma evidência’ das ligações terroristas de ONGs palestinas, estão ignorando vários exemplos verificáveis abertamente, inclusive na mídia. Não há desculpa para esse abuso cego dos fundos públicos”.
Bruxelas, Copenhague, Paris, Berlim, Dublin, Roma, Amsterdã, Madri e Estocolmo claramente discordam. O que seus governos não conseguem ver é que não são apenas suas próprias populações que são roubadas como resultado desta loucura.
Enquanto o dinheiro for jogado na direção errada e concedido a maus atores, os palestinos não poderão criar uma “sociedade civil” de qualquer tipo, muito menos uma sociedade livre e democrática ou que respeita direitos humanos.
Foto: Saudi Press Agency, CC BY 4.0 – Creative Commons, (Wikipedia). O presidente Joe Biden e o príncipe herdeiro saudita Mohammed bin Salman bin Abdulaziz batem o punho no Palácio Al-Salam em Jeddah, em 15 de julho de 2022.