Benny Gantz próximo primeiro ministro de Israel?
Por David S. Moran
Na segunda-feira (21) logo depois do feriado de Simchat Torá, o Primeiro Ministro Benjamin Netanyahu ligou ao Presidente Reuven Rivlin para devolver o mandato que recebeu e lhe comunicar que não conseguiu formar um novo governo.
Dois dias depois, o Presidente Rivlin incumbiu o líder do maior partido de Israel, Benny Gantz, do Kachol Lavan, de tentar formar o novo governo. O problema é que Netanyahu, com 32 deputados formou bloco de 55 deputados com os ultra-ortodoxos e partidos da direita e lhes fez assinar lealdade diversas vezes (inclusive na quarta-feira), para que não desviem para o Kachol Lavan.
Por seu lado Benny Gantz disse inúmeras vezes que quer formar uma coalizão grande, primeiramente com o Likud, sem o Netanyahu. No seu pronunciamento ao lado do Presidente, Gantz desejou a Netanyahu: “nós nos conhecemos há anos e reconheço as suas qualidades e que eres um patriota. Desejo-te provar inocência em todas as acusações que pairam”. Esta é a pedra no sapato do governo. Gantz advertiu: “quem olhar só o seu próprio bem e tentar levar Israel a um terceiro pleito (que ninguém quer) vai ser jogado para fora do sistema politico, vai desaparecer do mapa”.
O partido Kachol Lavan disse desde o começo que quer formar coalizão com o Likud, mas sem o Netanyahu que talvez seja acusado formalmente em corrupção. Pela primeira vez, em 11 anos, o Presidente do Estado de Israel não incumbe Netanyahu para formar um novo governo. Este por sua vez está se apegando ao poder e já na terça-feira (22) reuniu-se com os líderes dos partidos que formam a atual coalizão para avisá-los de manter-se num bloco coeso. O seu maior receio é da possibilidade de algum pequeno partido na atual coalizão ou um grupo de deputados deixá-lo e se juntar ao Benny Gantz.
Ainda quando tentava formar nova coalizão, corriam rumores – que evidentemente foram desmentidos – de que deputados do Likud se rebelariam contra a liderança do Netanyahu se ele fracassasse nas tentativas de formar novo governo. Mesmo com os desmentidos, quando o Netanyahu cogitou novas eleições internas para determinar o líder do Likud, o deputado Gideon Saar, falou que está disposto, mas em seguida, acrescentou que só depois do Netanyahu sair do cenário.
Outro deputado do Likud, o ex-prefeito de Jerusalém, que fez fortuna na alta tecnologia, Nir Barkat, lançou na semana passada o livro “Corro para longas distâncias”, na presença de muitos políticos. Foi uma forma de dizer: estou a postos. Outro deputado da liderança do Likud, Israel Katz, atual Ministro do Exterior, reúne anualmente cerca de 4.000 pessoas na sua Sucá (Cabana) para festejar Sucot (e fazer afirmação).
O trabalho do Benny Gantz (na foto acima com Rivlin) para tentar formar um novo governo será árduo e talvez impossível. Como ele mesmo disse: “já enfrentei muitas dificuldades na vida e consegui superá-las”. Um dos argumentos do Likud foi desmerecer o Gantz e dizer que é inexperiente. Sim, ele é oficial e um gentelman, não age como os políticos, na gritaria. Só que de experiência, nos seus 60 anos, ele já exerceu cargos, no Exército de Defesa de Israel, de Comandante da unidade de comando, Shaldag, Comandante da Brigada de Paraquedistas, Comandante da Unidade de Ligação do Líbano, Comandante da Cisjordânia, da Zona Norte militar (fronteiras com o Líbano e a Síria), das Forças Terrestres, Adido Militar nos Estados Unidos e o Chefe do Estado Maior Conjunto das Forças Armadas. Gantz terá agora 28 dias para realizar algo que há um ano nem pensava. Ele terminou seu serviço no posto maior do EDI, em 2015 e queria entrar no ramo da alta tecnologia. Seu idealismo levou-o a politica e teve sucesso imediato. Nas primeiras eleições que concorreram em abril deste ano, seu partido empatou como Likud obtendo 35 cadeiras no Knesset. Em setembro, superou o Likud por uma cadeira (33 do Kachol Lavan e 32 do Likud).
A vontade do Presidente Rivlin e do próprio Gantz é formar um governo de coalizão, primeiramente composto pelos dois maiores partidos. O Netanyahu, por enquanto, bloqueia esta possibilidade. O Gantz por ora conta com os partidos Ha’Avoda-Guesher (6 deputados) e Machané Democrati (5). Que somados seriam 44 deputados. A Lista Árabe Conjunta tem 13 deputados, dos quais 10 manifestaram apoio a um governo do Gantz. Apoio, mas não de entrar na coalizão. Três outros deputados, da ala mais extremista que nem aceita a existência de Israel, Balad, se abstêm. A chave está nas mãos do homem que fez o Netanyahu dançar, seu ex-aliado fiel e Chefe de Gabinete, o deputado Avigdor Lieberman, do Partido Israel Beiteinu. Este partido concorreu na chapa anti os ultra-ortodoxos e conseguiu subir de cinco mandatos para oito.
Lieberman foi o primeiro a dizer que quer um governo de coalizão liberal, composta pelo Likud e Kachol Lavan (seriam 65 deputados), se quisessem incluir o seu partido, já somariam 73. O Likud teme dar as costas aos seus aliados há mais de 20 anos, os ultra-ortodoxos, e estes temem perder todos os postos que conseguiram até agora.
Gantz endossa o chamado do Liberman e também quer formar governo liberal, mas não tem objeção em ter os ultra-ortodoxos, se abrirem mão de suas exigências, que para muitos parece extorsão. O correspondente politico do jornal Israel Hayom (totalmente a serviço do Netanyahu) Yehuda Schlesinger, escreveu (23) que os deputados haredim preferem sentar com os deputados Ayman Ouda e Ahmed Tibi (da Lista Árabe Conjunta) e não com o co-líder do Kachol Lavan, Yair Lapid. Eles não o desculpam por ter, quando Ministro da Fazenda (2013-14), proposto leis obrigando todos a se alistarem ao EDI e ter cortado verbas aos ultra ortodoxos.
O novo candidato a ser Primeiro Ministro de Israel, Benny Gantz, já iniciou as conversas com lideranças politicas e disse que “pretendo convidar todos os partidos a conversar, estes que estarão no governo e os que não… no Estado de Israel há lugar para todos os integrantes da nossa sociedade: os haredim, os sionistas religiosos, os árabes, nossos irmãos drusos e os gays”.
Gantz tem 28 dias para esta difícil tarefa, talvez a mais difícil que enfrentou na vida. Se não conseguir, o Presidente Rivlin, dará mais uma chance de 21 dias, ao deputado que conseguir trazer maior apoio pessoal para formar um governo. Senão, Israel pela primeira vez em seus mais de 71 anos, terá três eleições em menos de 12 meses, o que todos querem evitar. O ex-líder do governo no Knesset, deputado David Bitan já deu uma dica ao dizer: “não iremos a 3ª eleição, tudo será acertado nos últimos 21 dias”.
A esperança do Gantz, e que talvez lhe facilite o trabalho, seria que o Procurador Geral do Estado, Avihay Mandelblit, já decidisse, em novembro, se vai processar o Netanyahu e sob quais acusações.
Vale a pena salientar que o Estado de Israel já há quase um ano está sob governo provisório, que não sanciona novas leis e cujas verbas estão acabando. Só para ilustrar, infelizmente um dos Ministérios mais importantes, o do Exterior, que também combate ações politicas anti-israelenses, tem que fazer contatos e divulgar o país está falido, sem verbas nem para tomar café.
Agora é hora de deixar a vaidade de fora, o ego sumir, o bom censo prevalecer e decidir se é hora de um novo premier, o Benny Gantz, sim ou não. Uma coisa já foi provada na história mundial, a permanência muito tempo num posto pode e tende a corromper. Ademais, como se diz, os cemitérios estão cheios de pessoas insubstituíveis.
Espero que ele consiga este tal governo de coalizão, pois é muito ruim ficar sem líder de governo. Acredito que seria o melhor para Israel. Bibi já está desgastado como lider político – ele só foi eleito porque o quórum daqueles que votam foi baixíssimo e os religiosos mais moderados votam em peso no Likud – o que não se repetiu exatamente na segunda eleição, mudando a dinâmica e dando força ao Gantz (que não é tão diferente pelo que se fala aqui dentro). Bibi se tornou centralizador demais no Likud, e sejam suas acusações verdadeiras ou não (que eu acho até que sejam), já deu, ZEU. A democracia precisa respirar, 4 mandatos pra um mesmo partido é muita coisa e sempre cria esquemas de mamata de dinheiro. Fora a indignação Israelense com os repasses bilionários (às custas dos nossos impostos) para fundos ultra-ortodoxos e suas exigências absurdas de regalias em relação ao restante da população, sendo que um grande percentual nem sequer aceita o Estado como legítimo.
Pelo que o Gantz deu a entender, acho que ele está dando uma bandeira branca ao Bibi, um sinal de que vai tentar ajudar a atenuar a sua “situação legal” em troca do seu afastamento e do apoio do seu partido. Também não é bom, não é bonito nem honesto, mas infelizmente parece que vai ser a escolha de sofia: ou fazer isso, ou o país ficará sem governo indefinidamente e teremos que gastar mais milhões e milhões de shekalim em impostos para pagar outras eleições até as coisas se decidirem.