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Balança, balança e (por enquanto) não cai

Por David S. Moran

O governo de Benjamin Netanyahu é de dependência mútua. Muitos lá não se suportam, mas sabem que se derrubam o governo, não terão solução melhor.

Nestes dias há nova rodada de negociações sobre a devolução dos 120 reféns israelenses nas mãos da organização terrorista Hamas. Dezenas deles já estão mortos. Os que ainda “vivem” estão há 280 dias passando de um túnel a outro, num verdadeiro inferno sem saber o que virá no dia seguinte.

Os chefes da Shabak (antiga Shin Bet), Mossad, CIA, o comandante da Inteligência egípcia e o Primeiro-Ministro do Catar, sentaram em Doha, para tentar acertar as pontas de um acordo. Este diz que haverá cessar fogo de seis semanas, forças militares israelenses sairão de áreas populosas, o Hamas libertará as mulheres, idosos e feridos e receberão em troca centenas de terroristas que estão presos em Israel. Os nomes destes terroristas são um empecilho. Na segunda fase, haveria um cessar fogo total, os remanescentes reféns seriam libertados e os corpos dos mortos devolvidos para serem enterrados em Israel e Israel libertaria mais terroristas condenados. As tropas das FDI se retirariam de Gaza.

O Primeiro-Ministro israelense, Netanyahu saiu a mídia no Shabat – coisa que geralmente não faz – para dizer que vai até a vitória final, ato que foi interpretado como um tipo de “prego no sapato” para sabotar o possível acordo. O General (Res.) Amos Malka, ex-Chefe do Serviço de Inteligência escreveu que o fato de Netanyahu não mostrar o rascunho do acordo aos membros do gabinete político-militar ou ao governo, mostra a sua falta de interesse de chegar a um acordo.

Os dois ministros da extrema direita, Itamar Ben-Gvir e Bezalel Smotrich ameaçaram sair do governo se este assinar acordo com o Hamas. Isto significaria que o governo cai. Pelas pesquisas de opinião pública isto é o que deseja a maioria da população, mas Netanyahu se apega aos 64 deputados (dos 120 na Knesset) para permanecer no governo.

Enquanto isto, os familiares dos reféns e centenas de milhares de pessoas saem às ruas principalmente nos sábados para protestar contra o governo e para trazer de volta os reféns. Mas, não só nisto é que fica a briga dentro do governo: o mandato dos dois grão-rabinos terminou e ainda não chegaram a novas eleições, para eleger só parentes dos anteriores. O partido religioso Shas exige que o irmão do seu líder, Arie Deri seja eleito. Só que o rabino de Beer Sheva, Yehuda Deri faleceu subitamente na terça feira (9).

Outro ponto de discórdia é o recrutamento dos ultra ortodoxos para as FDI. O Ministro da Defesa, Yoav Gallant, do Likud, exige que os haredim sejam recrutados. Netanyahu, também do Likud, que já o destituiu em março e foi obrigado a reempossá-lo, discorda para manter o governo. Netanyhau teme o tamanho da manifestação se depuser Gallant, bem como teme as consequências da saída de Ben-Gvir e Smotrich. Mesmo estando em meio a uma violenta guerra, Netanyahu quase não fala com Gallant, o que é um absurdo. Talvez tema, como disse sua esposa Sara numa reunião com familiares de sequestrados, que o exército queira dar um golpe contra seu marido. Talvez tenha assistido filmes de ação da América Latina.

Segundo relatos, Netanyahu gritou no Ben-Gvir dizendo-lhe que é irresponsável, que não dá para trabalhar com ele e que ele derrubará o governo. Pensar que há menos de dois anos, Netanyahu recusou ser fotografado com o extremista Ben-Gvir, que atualmente é seu ministro de Segurança Interna (Policia). O líder do Shas, Arie Deri advertiu Netanyahu há três semanas de que ele perdeu controle sobre a coalizão. Cada um faz o que quer. Na terça feira (09/07), o Shas emitiu uma nota: “o bloco da direita descobriu hoje mais uma vez o balão inflado que é Ben-Gvir”. Este exige integrar o fórum que decide os rumos da guerra e se não o aceitarem não votará com o governo.

Enquanto não chegam a um cessar fogo, não há dúvidas que as FDI estão vencendo a luta. O Hamas está disposto a cessar fogo para ter oportunidade de tentar se recompor em seis semanas. O exército de Israel está desvendando dezenas de túneis inclusive que penetram no Egito e que com provável ajuda de militares egípcios conseguiu se armar como se fosse um exército. Antes da guerra, o Hamas tinha 24 regimentos e pelo menos 20 foram abatidos. Agora, o Hamas faz uma luta de guerrilha, mesmo em lugares que Tsahal (exército) já ocupou, inclusive nas dependências da UNRWA, onde encontraram dezenas de terroristas e farto material bélico.

Israel saiu de toda a Faixa Gaza, em 2005, inclusive o Eixo de Filadelfia, na fronteira com o Egito. Por este caminho, mesmo com o acordo de paz que Israel tem com o Egito, soldados corruptos permitiam ao Hamas se armar até os dentes. Por lá veio o cimento que permitiu a construção de centenas de quilômetros de túneis. Os túneis foram cavados de casas, escolas, mesquitas, hospitais e até pomares. Os homens da UNRWA não ouviam, não viram e nada falaram (???). Complô em prol do terrorismo.

Entre os túneis que descobriram nas últimas semanas e que passam ao Egito, as FDI foram surpreendidas ao descobrirem túneis de até três andares. Mesmo depois de dezenas de túneis desvendados, acredita-se que há mais por descobrir.

Nas mãos da Hamas há 120 reféns entre vivos e mortos. Num acordo anterior, voltaram 135 sequestrados e as FDI conseguiram resgatar 7 reféns. Há 1.596 mortos, entre soldados e civis.

Na fronteira norte do país, a troca de fogo com o Hizballah continua. Há bastante destruição e queimas no lado israelense e este revida destruindo bases do Hizballah e atingindo comandantes, tendo informações precisas do Serviço de Inteligência. O Ministro da Defesa de Israel, Gallant, disse que Israel quer evitar a guerra ali, mas se for obrigado, as FDI irão à luta e vencerão o Hizballah. Boa parte da população libanesa, principalmente a cristã, esta contra o Hizballah e há manifestações contra esta organização xiita.

Foto (ilustrativa): Polícia de Israel

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