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As turbulências em Israel

Por David S. Moran

A atual guerra Espadas de Ferro já está já no seu 349º dia, é a mais longa da história de Israel moderno e não se vê o fim. A surpreendente notícia que pegou Israel de surpresa foi de que o Primeiro-Ministro Netanyahu quer demitir o Ministro da Defesa, Gallant e trazer ao governo o ex-ministro e ex da liderança do Likud, Gideon Saar no seu lugar.

Saar é um ferrenho opositor de Netanyahu, deixou o Likud e fundou novo partido. Disse: “quem quer governo do Likud, que não vote em mim”. Mais do que isto, num programa de TV popular assinou para os apresentadores uma carta que dizia: “Eu, Gideon Saar, jamais ingressarei num governo do Netanyahu”. Mas, como todos sabemos, política é o cúmulo do cinismo, onde tudo é possível e palavra não é palavra, nem algo que assumimos por escrito. Ainda voltarei a este assunto.

No meio desta bagunça política, na terça-feira (18/09) às 15:45h o Oriente Médio foi pego de surpresa, que se estendeu ao mundo todo. Nesta hora, milhares, entre 3 e 4 mil terroristas da organização terrorista Hezbollah tiveram seus pagers explodindo, matando algumas dezenas e ferindo o restante. Não só em Beirute, mas também em outras cidades no Líbano e até na Síria. Entre os mortos está o filho do membro do Hezbollah no Parlamento libanês, Hassan Fadlallah e entre os feridos o Embaixador do Irã no Líbano e dois filhos do sênior da Hezbollah, Wafik Safa. Imediatamente, deu-se a ordem, os terroristas da Hezbollah foram chamados a jogar fora os pagers que têm. Aliás, há cinco meses, o Hezbollah recebeu os pagers depois de tirar de circulação os celulares para se prevenir.

Ninguém assumiu a responsabilidade deste fenomenal ataque. Quem o realizou, certamente tem tecnologia e serviço de Inteligência de tirar o folego, que soube, onde o Hezbollah encomendou os pagers. O Hezbollah acusou Israel de perpetrar este atentado e ameaçou “que o inimigo receberá resposta adequada”. Sem dúvida esta ação também é um tapa na moral do Irã, o patrão do Hezbollah.

Do ponto de vista do Serviço de Inteligência, quem realizou esta operação conseguiu informações precisas do fabricante dos pagers e, do ponto de vista operacional, conseguir colocar algumas gramas de explosivo nos aparelhos, para que na hora H, os explodisse simultaneamente.

Na quarta-feira (19/09) houve continuidade de explosões simultâneas, desta vez não nos pagers, mas sim nos Walkie talkies de algumas centenas de ativistas do Hezbollah. O grande efeito das explosões é que elas foram precisas e não com efeitos colaterais, isto é, em pessoas que estavam ao lado dos terroristas do Hezbollah. Na ONU e na União Europeia houve condenações, mas eram de inveja e da boca para fora, pois, muitos países inclusive árabes temem o Irã e suas proxies, entre elas o Hezbollah. Em encontros privados, felicitam Israel pela façanha. Os cristãos no Líbano e sunitas na Síria ofereceram doces aos transeuntes.

A discussão em Israel é se deve estender a guerra ao norte, isto é, contra o Hezbollah no Líbano, ou não. O ministro Gallant o quis desde outubro de 2023 e Netanyahu foi contra. Agora, com esta ação surpresa, as Forças de Defesa de Israel deviam dar comunidade e tentar exterminar o Hezbollah e sua ameaça sobre Israel. Não é normal que cerca de 70.000 israelenses tenham sido evacuados de suas casas no norte de Israel. Isto não aconteceu em nenhuma guerra de Israel com nenhum inimigo até outubro de 2023. O megalomaníaco do Nasrallah teve seu ego ferido e a ação israelense, com toda a bagunça que há no Hezbollah, poderia derrotar esta organização terrorista, que subjugou o Líbano a sua vontade e do Irã.

Retornando ao “romance” entre Netanyahu e Saar. Os dois não suportam um ao outro e, para piorar, a Sara (esposa de Netanyhau) não quer ver a cara de Saar no governo. O interesse de Netanyahu é remover o único no Likud que o enfrenta. Ele já demitiu Gallant em março de 2023 e, ante os protestos populares, reintegrou-o ao ministério em 24 horas. No início da Guerra Espadas de Ferro, Gallant queria atacar o Hezbollah e Netanyahu se opôs. Desde então, o Hezbollah fustiga o norte de Israel diariamente. Gallant é também a favor de chegar a acordo com o Hamas para o retorno dos 101 sequestrados, dos quais sabe-se que pelo menos 33 já morreram, Netanyahu faz dificuldades. O general Itshak Brick, condecorado pelo exército, disse (19/09) num programa de rádio que Netanyahu é movido só por interesses pessoais e como na Bíblia disse o Sansão: “que morra a minha alma com os filisteus”.

Agora, Netanyahu quer demiti-lo por sua oposição à lei do Alistamento ao Exército, que na realidade isentaria os ultraortodoxos de cumprir com o dever dos demais cidadãos, de servir nas forças armadas. O segundo motivo é a Lei das verbas governamentais que tem que passar até o fim do ano e os ultraortodoxos se recusam a aprová-la se não forem isentos das FDI. Por seu lado, Gideon Saar, com seu novo partido, Tikva Hadasha (Nova Esperança), que inclui outro ex-líder do Likud, o deputado Zeev Elkin, não entrariam na Knesset segundo as pesquisas de opinião pública. No acerto que faria com Netanyahu, este o nomearia Ministro da Defesa (sem experiência, no meio da guerra) e lhe daria quatro lugares na lista do Likud, entre os 20 primeiros nomes. É cinismo, ou prostituição ou ambos.

O comandante da área Norte, General Uri Gordin, recomendou recentemente a portas fechadas para que as FDI conquistem uma faixa na fronteira com o Líbano para que os habitantes israelenses do norte do país possam regressar às suas casas. Os Estados Unidos evidentemente mostram uma preocupação de possível novo confronto, pois quer chegar ao dia das eleições – 5 de novembro – com tranquilidade e sem problemas adicionais.

Nasrallah fez um pronunciamento nesta quinta (19/09) e derramou lágrimas acusando Israel de passar dos limites. Disse que sofreram uma “paulada” em que Israel cometeu um grande crime querendo exterminar 4.000 pessoas e evidentemente prometeu vingança.

Na próxima semana, mesmo em meio à guerra, Netanyahu faz questão de viajar (com a esposa) a Nova York e discursar na Assembleia Geral da ONU e ficar lá para o fim de semana também.

Com os reféns, ainda não se conseguiu achar uma solução. Israel está disposto a dar um salvo conduto ao Sinwar para libertar todos os sequestrados vivos e mortos de uma vez e não em duas parcelas. A comunidade Internacional ajudaria na reconstrução de Gaza.

Quase caiu no esquecimento que na segunda-feira (09/09) a Força Aérea de Israel realizou um ataque na Síria a 225 km da fronteira para abortar a transferência de material bélico sofisticado do Irã ao Hezbollah. Só que, o que parecia um ataque como muitos já feitos, desta vez, como revelou o The War Zone, foi bem mais complexo. Durante cinco anos o Serviço de Inteligência israelense acompanhou as atividades da fábrica secreta de produção de misseis no Nordeste da Síria. Agora, sob a camuflagem do ataque aéreo, forças de comando israelense Shaldag (da Força Aérea) chegaram ao local em helicópteros e coletaram documentos e material de produção. Além dos danos sérios à indústria iraniana na Síria, o ataque levou aos líderes de Teerã uma mensagem de que Israel está disposto usar forças terrestres contra sua produção, mesmo nas profundezas da terra, onde bombas aéreas não as atingiriam. Segundo o New York Times, a fábrica foi totalmente destruída, bem como o Cento de Pesquisas e Estudos Científicos (SSCR) em Maysaff, onde produzem material bélico sofisticado, inclusive químico, biológico e talvez nuclear.

Foto: Captura de vídeo (redes sociais)

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