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As manifestações se intensificam

Por David S. Moran

Israel sempre se gabou de ser a única democracia do Oriente Médio e é mesmo. Só que o terremoto que ocorreu em 07/10/2023 e o atual governo que não renuncia e age de uma maneira que faz a gente pensar que vamos a uma espécie de ditadura. Netanyahu fez o Comandante das Forças Armadas, Major General Herzi Halevi renunciar, com razão. Pressionou o chefe do Shabak (ex-Shin Bet), Ronen Bar, para que renuncie e levou o assunto ao ministério, que unanimemente votou a favor. Nem mesmo o Ministro da Agricultura, Avi Dichter, que foi chefe do Shabak, mostrou solidariedade e pelo menos se absteve. No governo Netanyahu todos votam igual. Apesar de as pesquisas de opinião pública, mostrarem que mais de 70% da população quer mudança, Netanyahu não assume nenhuma responsabilidade pela tragédia que Israel passou no seu governo e é contrário à formação de Comissão Nacional de Investigação e faz ações que contrariam a maioria da população.

Analisaremos alguns: Catargate. Alguns dos ajudantes diretos do primeiro-ministro Netanyahu estão sendo investigados por receberem dinheiro de Catar para melhorar a imagem desse país ao mundo, antes do Mundial realizado naquele emirado. Vale a pena lembrar que foi Netanyahu que deu a luz verde para que o Catar, país islâmico radical, financiador de terror islâmico pelo mundo e inimigo de Israel, passasse dezenas de milhões de dólares mensalmente à organização terrorista Hamas. Pensou que assim teríamos paz e calma mas, de fato, o Hamas desviou parte dos bilhões de dólares para se armar e, em 7 de outubro, invadir Israel, assassinar 1.200 pessoas, a maioria civis e levar a mais longa guerra que Israel trava contra um inimigo, que nem é país.

Se Netanyahu não sabia que seus auxiliares, supostamente, trabalham para o Catar é mal, se sabia e nada fez, é terrível. Por este conflito de interesses teria que deixar o Shabak concluir sua investigação e então tomar atitude.

Demissão da Procuradora Geral. Ela é a vigia de que todas as ações do governo sejam feitas de acordo com as leis. Ultimamente, ela se opõe a várias medidas que o governo quer impor e no domingo (23/03) o governo aprovou remover esta pedra do sapato. Esta medida pode levar alguns meses.

A Suprema Corte. Por razões ilógicas e ideológicas, o atual ministro da Justiça, Yariv Levin, o mais próximo de Netanyahu, não reconhece o juiz Itzhak Amit como o presidente da Suprema Corte e quer mudar as regras no judiciário, atitude contra um dos três poderes de uma nação.

A lei do Orçamento passou. Um dos empecilhos do governo era a votação do orçamento da nação até o dia 31/03, pois se não passasse, o governo cairia. Para tanto, Netanyahu atendeu as exigências de Ben Gvir, que eram recomeçar a guerra e não passar ajuda humanitária à Gaza. Na votação de terça-feira (25/03), 66 votaram a favor e 52 contra. Em dezembro de 2024, o partido do Ben Gvir votou contra. Desta vez votou com a coalizão pelo maior orçamento da história de Israel, que contém a transferência de bilhões de shekels para os ultraortodoxos e outros partidos da coalizão. Quem conduz a economia nacional é outro moleque, que não tem conhecimento de economia, Bezalel Smotrich, do Sionismo Religioso. A reação não tardou a chegar. A agencia de rating Moody’s publicou alerta sobre a economia israelense, definindo-a como “perigo alto”.

A lei do recrutamento, ou melhor dito, a lei de não recrutar os ultra religiosos. Israel está passando dificuldades, pois seu exército baseia-se nos reservistas. Há reservistas que já fizeram mais de 300 e 400 dias nestes 18 meses. Enquanto isto dezenas de milhares de ultraortodoxos conseguem se isentar do serviço militar obrigatório e toda a carga cai nos que servem. Eles recebem verbas do governo e nada dão em troca. Nesta semana, o ministro da Habitação, Itzhak Goldknopf, foi visto num casamento, enquanto em sua volta os jovens haredim cantavam: “nós não nos alistamos e no governo dos infiéis (os sionistas) não acreditamos”. Ele não os parou, nem repreendeu. Ante os vários protestos, inclusive de ministros e deputados do Likud, Goldknopf, que é haredi, se desculpou.

Os valorosos soldados sacrificam suas vidas também pelos haredim e eles tem que fazer a sua parte. Netanyahu, precisando deles na sua coalizão, esquiva-se de recrutá-los e o Likud ainda se chama partido nacionalista. Netanyahu importou dos EUA do Trump o termo “deep state”. Estes são funcionários governamentais que estão nos seus postos há muitos anos e influenciam na política. Mas, Netanyahu, ele próprio já está no poder há 17 anos. Para tudo ele culpa o “deep state”.

Os reservistas reclamam que o atendimento para vestir o uniforme militar está baixando e não é de surpreender. Como dito, há os que fizeram 300, 400 dias, não estão com a esposa, filhos, negócios, estudos e tudo isto é prejudicial.

Os sequestrados. Hoje é o 539º dia do começo da guerra e nas mãos do Hamas ainda estão 59 sequestrados, dos quais há notícias de que 24 estão vivos, mas em precárias condições. A prolongada guerra, ainda não conseguiu libertá-los. Há certas tentativas de negociação infrutíferas. Parece que o Egito, que quer tomar a primazia do Catar, sugere a libertação de cinco reféns vivos em troca de cessar-fogo de algumas semanas e libertação de terroristas. O Hamas, em contrapartida, quer imediato cessar-fogo e ajuda humanitária ao que Israel se opõe. O Egito pressiona para que em um mês libertem todos os reféns. O Hamas quer saber as garantias que terá e se recusa desmilitarizar a Faixa de Gaza. Em Israel, as autoridades acreditam que Hamas está mais relutante a um acordo, devido a pressão militar israelense e a morte de alguns líderes da organização terrorista. Israel também quer informações precisas dos reféns que estão em poder do Hamas e que lhes deem assistência médica. É bom frisar que, até hoje, nenhum refém teve visita da Cruz Vermelha ou da ONU. O Egito pressiona o Hamas dizendo que, se recusar um acordo, fechará a passagem de Rafah e a saída de feridos e doentes de Gaza para o Egito. Neste país já se encontram algumas centenas de terroristas em hotéis e está difícil de lhes conseguir transferência para um terceiro país, ninguém os quer.

A reforma judiciária, na escolha de juízes. Na escolha de novos juízes, o executivo terá maioria, quando atualmente a maioria é de juízes e advogados. Isto significa que de profissionais, agora, passa aos políticos a escolha de juízes que são do seu agrado.

A divisão do povo. Netanyahu e seus apoiadores costumam usar os termos “nós” e “eles”, isto é, quem apoia Netanyahu está certo e quem é contra Netanyahu é taxado de ser esquerdista. Interessante notar que líderes do Likud, como Begin Jr, Meridor, Livne, Livnat e outros, se opõem ao atual governo e são da direita, como sempre o foram. Netanyahu já fala que não acatará instruções da Suprema Corte se não forem de acordo com sua vontade. Isto não pode acontecer em Israel. Cada cidadão tem direito a sua opinião e pensamento, mas todos são de um povo e assim têm que permanecer. O próximo passo do governo será cair em cima da mídia local, considerada oposição ao governo. Netanyahu não fala ao povo de Israel há anos em hebraico, boicota a mídia local. Prefere enviar vídeos gravados e não responde a quem o perguntar. Prefere falar a mídia americana em inglês. Até o enviado americano para o Oriente Médio, Steve Witkoff, disse que Netanyahu age ao contrário da vontade do público israelense, em relação aos sequestrados, e também com respeito a isenção do serviço militar e da formação de Comissão Nacional de Inquérito.

As manifestações populares, que são diários e já vão pelo 15º mês, se intensificam, mas parece que não mexem com os políticos e com o governo. Mesmo críticas como as do Presidente Itzhak Herzog, que reclamou, “não se pode estar profundamente perturbado com a dura realidade que está acontecendo… infelizmente, nós estamos passando por uma série de ações unilaterais que temo profundamente que afetem a nossa resiliência nacional” (21/03).

Infelizmente, Israel está passando por maus momentos, guerra em andamento, reféns que não são libertados e com economia prejudicada. Só há de se esperar que este momento passe rapidamente e Israel volte a sua trilha vitoriosa, que ilumina o mundo também.

Foto: Ma’ayan Toaf (X, GPO)

3 comentários sobre “As manifestações se intensificam

  • Os brasileiros intendem muito bem quando há um desequilíbrio nos 3 poderes da democracia. A situação do Supremo Tribunal de Justiça mandando no país e se colocando acima do governo eleito é igual aqui em Israel e lá , no Brasil.
    Você fala que o Binyamin Netanyahu se refere a ” nós ” como quem está do lado dele, e ” eles ” como o resto do mundo. Mas a esquerda ( o seu lado político) é muito pior, ao se referir a “nós ” como o povo, a democracia, a maioria, etc, quando vocês só conseguem formar um governo com os árabes, sendo uma MINORIA absoluta. E não me refira às pesquisas estatísticas, todas manipuladas pela esquerda, não conseguem acertar um resultado eleitoral.
    Como você pode defender o Ron Bar!!?? Ele admite que foi responsável por 7 de outubro, e que ,depois disto, errou a localização dos reféns. Gaza está nas nossas mãos a mais de um ano e ele não consegue libertar um único refém . E ele admite que não obedece o Bibi, com muito orgulho disto. No Brasil, as pessoas sabem exatamente como se chama uma situação em que o chefe do serviço secreto está acima do chefe de estado ( presidente ou primeiro ministro) : ditadura.

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    • Você chama ” unilateral” qualquer medida que o governo tome, quando , na verdade, o governo é representante da maioria absoluta do país, com mais de 62 cadeiras no knesset. Eu não vejo nenhuma necessidade de apaziguar a oposição, a não ser para evitar que vocês quebrem o país. Violência e bulling não é sinônimo de democracia e” demonstração pacifica. Em nenhum lugar do mundo um governo com maioria no congresso só faz o que a oposição permite. E a esquerda é a maior prova disto. No mais curto governo da história de Israel, o de Lapid e Bennett, vocês fizeram absolutamente tudo que queriam, sem dar a mínima pelota para ” união do povo” , ” levar em consideração a oposição ” ,etc. Ao contrário, passaram como um trator, elegendo a procuradora de estado (Bara-Miara, que é radical esquerdista) e o chefe do exército, com o apoio da Suprema Corte, que era necessário porque, na teoria, um governo provisório que já tinha caído não tinha poderes para eleger ninguém mais.

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  • Análise de um esquerdista: DAVID MORAN!
    Não consegue ser imparcial!

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