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As eleições em Israel, egoidealismo?

Por David S. Moran

Pessach, a Páscoa judaica, relembra a saída do Egito e a libertação do povo judeu da escravidão. As quartas eleições em dois anos de impasse, foram encerradas, mas não conclusivas. O que mudou nestas eleições? Muito pouco. O eleitor israelense entendeu o cinismo, a hipocrisia e principalmente o enorme ego criado por políticos, esquecendo a ideologia. Consequentemente, a cada eleição, a democracia perde e os eleitores passam a julgar que não podem influir e por isso não vão às urnas.

O Primeiro Ministro Netanyahu conseguiu manter-se no poder, com suas artimanhas, divisões no seu próprio partido e principalmente nos demais concorrentes. Seguiu o lema: “quanto mais divididos, é melhor para mim”. Assim também elimina possíveis adversários internos. Como disse a Limor Livnat, que foi da liderança do Likud, ex-deputada, ex-Ministra: “Atualmente, o Partido Likud não existe, há o Bibismo”.

A porcentagem dos que foram votar caiu em comparação às últimas eleições o que é uma pena. Os resultados finais mostram o que já se sabia. Há impasse. O maior partido continua ser o Likud, elegendo 30 deputados do 120 na Knesset, seguido por Yesh Atid – 17, Shas – 9, Kachol-Lavan – 8, Ha’Avodá – 7, Yahadut Hatorá –  7, Yemina – 7, Israel Beiteinu – 7, Tikvá Hadashá – 6, Lista Conjunta – 6, Ha’Sionut Ha’Datit – 6 Meretz – 6, Ra’am – 4.

Na “Hagadá de Pessach” (a leitura da libertação dos judeus da escravidão), perguntamos: o que mudou esta noite das demais? Podíamos perguntar nesta ocasião de Março de 2021, o que mudou nas quartas eleições em Israel, das outras.

A divisão e o cinismo

O Primeiro Ministro, Netanyahu, tentou quatro vezes vencer as eleições e não conseguiu. Está no poder, há dois anos, graças à divisão dos outros partidos, com promessas infundadas e quebrando as regras democráticas israelenses. Jamais um Primeiro Ministro em Israel, que deve servir de exemplo, esteve sob acusações de corrupção, fraude e favorecimentos. Não só. Foge da justiça e tenta destruí-la, desacreditando-a. A partir desta quinta feira (1/4), conseguiu que o país não tenha Ministro da Justiça.

Yesh Atid, do deputado Yair Lapid, segundo maior partido, com 17 deputados e que já há um ano era o candidato a ter rotatividade como primeiro Ministro, cedeu para o recruta político, Major-General (Res.) Benny Gantz. Tinham plataforma do centro e queriam também destituir o Netanyahu (pessoalmente) e não o Likud do governo. Obtiveram bom resultado mas o “mago político”, Netanyahu, conseguiu dividir o partido, prometendo “montanhas” ao Gantz, que traiu seus eleitores. Foi reforçar o governo e Netanyahu fez dele o “palhaço da corte”, não cumprindo suas promessas. Nestas eleições, Gantz, com seu partido fragmentado, Kachol Lavan, foi talvez, o grande vitorioso. Previam seu desaparecimento total do cenário político e conseguiu eleger oito deputados.

Gideon Sa’ar, da linha dura do Likud, dos únicos a enfrentar “o líder” Netanyahu, deixou o partido e fundou um novo, Tikvá Hadashá (Nova Esperança), que em janeiro tinha previsão nas pesquisas de 18 cadeiras na Knesset. Dizia “quem quer votar no Netanyahu, peço que não vote em mim”. Trouxe consigo confidentes e conselheiros do Netanyahu e muita confiança aos que queriam novos ventos. Foi a grande decepção destas eleições. Em três meses, foi perdendo a esperança de substituir o Netanyahu no governo, enquanto este zombava dele, chamando-o de “Gideon”, o insignificante. Na politica israelense, costuma-se chamar os deputados pelo sobrenome.

Ao mesmo tempo, Naftali Bennett, do Yemina (Direita), que de certa maneira substituiu o Partido Religioso Nacionalista, e que nas eleições em 2015, tornou-se aliado do “irmão” Lapid para tentar vencer o Netanyahu, até se separarem. Em 2019, seu partido quase desapareceu e agora voltou com Yemina e “serei o próximo Primeiro Ministro”. Netanyahu debochou dele. Há mau sangue entre eles, o premier quer destruí-lo. Para tal planejou dividir o Yemina, atraindo o deputado Smutrich, que contestava a liderança do Bennett, para fundar um novo partido. Até mesmo kasheirizando o pária político, Itamar Ben Gvir, que é discípulo do extremista Meir Kahana e que foi boicotado por líderes do Likud. Quem imaginaria que Ben Gvir se tornaria um aliado do Netanyahu. Preocupado que não passassem pelo mínimo necessário para ter apoio do novo partido Ha’Sionut Ha’Datit (Sionistas Religiosos), Netanyahu até reservou um lugar no Likud para este partido. Irritando seus aliados ultra-ortodoxos, Netanyahu até fez campanha para o novo partido e conseguiu, obtendo o apoio de seis deputados.

Grande sucesso obtiveram, relativamente, o Ha’Avoda (Trabalhista), com a única líder feminina atual de partido, Merav Michaeli, obtendo sete cadeiras, o moribundo Meretz, da esquerda, conseguiu seis deputados e o Ra’am (Lista Árabe Unida) de orientação islamista, liderada pelo Mansour Abbas, que se separou da Lista Conjunta, conseguindo a duras penas eleger quatro deputados, enquanto a Lista Conjunta, obteve só 6 deputados. A representação dos partidos árabes caiu de 15 para 10 deputados.

E agora, José?

Após gastar bilhões em eleições, que beneficiariam a população, o homem chave, Benjamin Netanyahu, poderia dedicar-se a sua defesa e deixar o posto, mesmo que provisoriamente. Mas, quem acusou outros de querer apoiar-se de partidos árabes, só para tirá-lo do governo, faz de tudo para se manter no posto, mesmo com apoio e até ministérios aos partidos, inclusive o Ra’am, “partido antissionista e irmão da Hamas, com o qual não vou me apoiar de jeito nenhum” (Ynet,18/3/2021).

Na quarta-feira (31/3), fez ministros aliados do seu partido atacarem o Presidente Rivlin por dizer que vai dar preferência ao líder que lhe trouxer o maior número de apoios para formar governo e não necessariamente ao que obteve o maior número de votos.

Caricatura do Moshik Gulst, Israel Hayom, 31/3/2021

Foi confirmado que Netanyahu contatou o Sa’ar e pediu seu apoio, prometendo-lhe, que deixaria o posto depois de um ano. Sa’ar lhe respondeu, sarcasticamente, “só se o líder do Shas, Arie Deri me der as garantias”. Deri, que assegurou ao Gantz, que se Netanyahu não cumprisse suas promessas, ele e todos os ultra ortodoxos, deixariam com ele o governo. Depois negou ter dado essa garantia. Sa’ar adicionou: “Netanyahu prefere o seu interesse pessoal ao do Estado e prejudica o país”.

O mesmo processo passou com Bennett. Este, ao contrário do Sa’ar, não se comprometeu a não integrar um governo de Netanyahu, apesar dos deboches. Bennett revelou que o Primeiro Ministro lhe prometeu tudo que quiser. Bennett lhe teria dito, escreva suas promessas e garantias no gelo.

Netanyahu, sentindo que não está garantido para formar o próximo governo, ataca tudo pela frente e se ainda não dá resultado, tenta aproximação. Depois de o primeiro Ministro acionar os ministros da Segurança Interna, Ohana e da Energia, Steinmitz, para atacar o próprio Presidente de Israel, Reuven Rivlin, que foi um dos líderes do Likud e rival do Netanyahu, o líder do Kachol Lavan e atual ministro da Defesa, Gantz o criticou duramente dizendo: “Não tem uma instituição estatal que o Netanyahu e seus cúmplices não destruirão. Começou na Policia, continuou na Procuradoria e no Supremo Tribunal e agora chegou à Presidência”.

Na noite da quarta-feira (31/3), Netanyahu entrou em cadeia de TV, para chamar o Sa’ar e o Bennett “voltem para casa, ponham as discordâncias de lado, precisamos de direita forte”. Como disseram Vinícius e Jobim, “tristeza não tem fim…”. Eu adiciono, cinismo também.

Na quinta (1/4) o líder do partido islamista Ra’am convocou a mídia para se pronunciar. A cronologia é a seguinte. Na quarta (31/3) o Presidente Rivlin recebeu os resultados finais da eleição. Na quinta (1/4), iniciou as consultas de quem é o político que tem mais chances para formar governo. No dia 6 de abril, será a abertura solene da Knesset. No dia seguinte, o Presidente Rivlin, anunciará a quem incumbiu de formar novo governo. Até o dia 5 de maio, terá que formar o novo governo e se não o conseguir, será declarada a data para as novas eleições. Enquanto isso, o atual governo continuará em regime provisório, até depois das eleições seguintes. Isto será terrível para o país, que já enfrenta um enorme déficit nos cofres públicos, não tem orçamento há dois anos, nem ministros como o da Justiça, tem gastos desnecessários e descrédito da população nos regentes. O regime democrático israelense perde e, ao mesmo tempo, a divisão interna cresce. Terrível, horrível, tem que achar uma solução boa e rápida.

O julgamento do Netanyahu começará na segunda feira (5/4) e terá três sessões semanais. O Estado de Israel tem muitos desafios pela frente e precisa ter as melhores mentes para enfrentá-los. Tem que deixar os egos de lado e fazer tudo pelo bem comum. Bennett tem que dar chance à democracia e se não é o maior, nem segundo e nem terceiro maior partido, deveria formar coalizão com o segundo maior partido. Se desse, poderia até com o Likud, mas sem o Netanyahu e o repetidor da quarta época já teria que entender que tem que deixar o palanque para outros. Incomoda muita gente, em Israel, o silêncio dos políticos do Likud, que se calam diante do Netanyahu. Isto leva o país a rumos não desejados. Voltemos ao idealismo e não ao egoidealismo.

Foto: Miriam Alster (Flash90)

2 comentários sobre “As eleições em Israel, egoidealismo?

  • Quem tem que ser casherizado são os jornalistas tendenciosos como esse David Moran! A torpe mídia israelense espalha pelo mundo essa reputação péssima de judeus que como o falecido Kahane queria, com todo o direito, Israel para os judeus conforme a Torá.

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  • Ufa ate que enfim mais alguem ve a que Moran e um esquerdista fanatico, cego de odio como todos os eaquerdistas, porque nao conseguem derrubar o Netanyahu!!! E porque o povo nao se deixa enganar, apesar do bombardeio de maldades e inverdades que a imprensa como um todo, com rarissimas excecoes, joga na cara das pessoas! e ainda assim, pela 4 vez Netanyahu ganah as eleicoes e vai continuar ganhando se elas ocorrerem de novo porque os outros “candidatos” nao tem a carisma. a lideranca nacional e internacional que o Netanyahu tem! Nao reconhecem que gracas a Netanyahu Israel esta saindo da crise de Corona com a pronta chegadas de vacinas que o Mundo todo esta tentando conseguir. A economia esta em recuperacao e em breve voltarema a vida normal. Mas o odio cego destes verdadeiros destruidores do Pais e da democracia como este Moran vomitam o tempo todo. ja escrevi que se esta Revista Bras.il nao der ferias definitivas a este monstro logo quem vai ler ela serao apenas os mesmos esquerdistas porque assim se tranformara num verdadeiro Pasquim!

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