As dificuldades de adaptação na aliá (sozinho ou a mais)
Por Mary Kirschbaum
Recebo no consultório, basicamente, olim chadashim tendo como uma demanda recorrente a dificuldade de adaptação ao país.
O processo de mudança que envolve viver em outro país é uma situação que qualquer um pode vivenciar como um desestabilizador psicológico.
Isto, pois representa a queda de um paradigma de hábitos, que eram usuais na vida da pessoa. É por isso que no processo vai haver situações que nos afetarão em menor ou maior grau (dificuldades para conseguir um emprego, mudança nos hábitos alimentares, aprender outra língua, estresse e ansiedade, eventuais limitações…).
A decisão de mudar, emigrar, pode ser por motivos como busca de oportunidades ou dificuldades no país do nascimento. Mas entrando especificamente na questão da aliá (vinda para Eretz Israel), coloco também as questões como: sionismo, família que já se encontra aqui, conversão para o judaísmo, parceiros israelenses…
Temos, então, diversas dificuldades, dependendo da situação e também independentemente do que fez a pessoa imigrar.
Todos nós, que saímos do nosso país, ou nossa “zona de conforto”, se não passarmos por uma preparação adequada, poderemos nos deparar com uma má adaptação ao novo local.
Mesmo que tenha sido feito o planejamento e a organização da parte prática e burocrática (visto ou pasta de aliá, acomodação, trabalho, estudo da língua, etc), o que mais nos deparamos após a vinda, são sentimentos e emoções, para os quais, muitas vezes, não estávamos preparados, como sentimentos de tristeza, medo ou insegurança.
Ao decidir viajar e morar no exterior, abrimos mão de muitas coisas para alcançar o nosso objetivo. Sendo assim, criamos altas expectativas, como sonhos. Mas a realidade nem sempre sai como o esperado.
Pode ser que não se aprenda o hebraico tão rápido (uma língua bem difícil, aliás), talvez o trabalho encontrado não seja exatamente da forma que você pensou, ou que você enfrenta dificuldades inesperadas. E aí vem a frustração e a insegurança de não estar se adaptando.
Sentimentos de nostalgia, onde se sente falta da família, amigos, lugares e momentos da vida que ficaram para trás.
A distância geográfica, ao contrário do que muitas pessoas pensam, não resolverá as mágoas do passado, por exemplo.
Quando se vem com um parceiro, ou por causa de um parceiro, existe também uma série de variáveis que implicam no relacionamento quando você está longe de sua casa.
Muitas vezes também, quando se conhece uma nova pessoa, o motivo de permanecer no exterior por uma paixão, encurta a distância das fronteiras geográficas, mas traz multas frustrações, como diferenças culturais que precisam ser trabalhadas para a harmonia do relacionamento.
Há muitos casais que decidem mudar juntos para outro país quando ainda não viviam juntos, e ao morar debaixo do mesmo teto, passam a conviver com as qualidades que adoram no outro, mas também a conhecer hábitos e aspectos negativos do parceiro. Juntamente com a tentativa dos dois de se adaptar, lidar com as adversidades de começar do zero em um lugar novo pode ser ainda mais estressantes a dois, o que pode gerar conflitos que antes não existiam no relacionamento.
Pensando também nas famílias que vêm juntas, em diferentes idades, todos enfrentarão os desafios pertencentes a sua faixa etária (filhos, de idade escolar, por exemplo).
Portanto…
Tomar a decisão de mudar de país (fazer aliá) é um ato de coragem. Deixa-se o conhecido para trás em busca do desconhecido. As transformações são inerentes, o crescimento e o amadurecimento são inevitáveis. Mudar exige confronto.
Nos confrontamos não só com obstáculos externos dificílimos, saindo do lugar onde nascemos e nos criamos, como, internamente, enfrentamos uma reforma, por todo esforço necessário no enfrentamento da adaptação.
No começo nos sentimos uns peixes fora d’água…
Depois, ao conseguirmos nos encontrar no diferente, no novo, e reconhecermos estampado no rosto, um sorriso já há tanto tempo esquecido… evoluímos, progredimos. Atravessamos os sete mares em busca da felicidade, ou algo parecido e nos reinventamos.
“A mudança é o processo no qual o FUTURO invade nossas vidas” (Alvin Toffler).
Boa sorte para quem chegou e para quem está para vir!
Foto: Mary Kirschbaum
Tenho muita vontade de fazer Aliá eu e minha filha de 11 anos que a crio sozinho, porém tenho muito medo da adaptação mesmo tendo parentes e amigos aí em Israel.
Mary, é sempre um prazer ler seus textos. Parabéns e obrigado por estar sempre nos colocando para refletir nos temas que você propõe, e mais ainda nos abrir a mente com a sua visão diante da luz da psicologia.
Parabéns Mary! Belíssimo texto!