Arquivo mostra registros de vítimas do nazismo
Os Arquivos Arolsen, do Centro Internacional de Perseguição Nazista, contêm informações sobre 10 milhões de perseguidos pelo regime nazista. Com apenas alguns cliques, um mapa desenhado à mão aparece na tela do computador com as palavras “registro de túmulo” estampadas em tinta vermelha na parte superior. O pedaço de papel amarelado mostra o local de descanso final de um francês de 33 anos que foi perseguido pelos nazistas – seu túmulo colorido em verde (https://arolsen-archives.org/en/).
Este é apenas um dos 850 mil documentos sobre vítimas do nazismo que o Centro disponibilizou online recentemente por meio dos Arquivos Arolsen. O material está disponível gratuitamente para todos os interessados.
“Publicamos agora porque temos um índice. É possível pesquisar e encontrar o nome escrito num desses documentos. Antes, isso não era possível”, contou a diretora do arquivo, Floriane Azoulay.
Mais de 10 milhões de pessoas são mencionadas nos documentos. Muitas delas estiveram em campos de concentração, em campos de trabalho forçado ou nas chamadas marchas da morte durante o Holocausto.
Sediado na cidade alemã de Bad Arolsen, o arquivo possui a coleção mais abrangente do mundo de documentos sobre as vítimas e os sobreviventes da perseguição nazista. As preocupações com a privacidade restringiram o acesso a esse material por décadas, mas a instituição abriu suas portas nos últimos anos e vem trabalhando para disponibilizar sua imensa coleção ao público.
Os documentos recentemente divulgados provêm da zona ocupada por americanos no sul da Alemanha, que foi a maior área ocupada pelos Aliados após a Segunda Guerra Mundial. Embora os nazistas tenham tentado destruir evidências de seus crimes no final da guerra, registros escritos feitos por autoridades locais, polícia, empresas ou outras instituições sobreviveram ao tempo.
As forças aliadas dos americanos, franceses, britânicos e soviéticos procuraram também documentar os crimes do regime nazista e encontrar desaparecidos. Os Aliados ordenaram às autoridades locais que preenchessem formulários detalhando os nomes de estrangeiros, judeus alemães e apátridas registrados nas respectivas repartições.
As autoridades municipais foram ainda instruídas a fornecer informações sobre os locais de sepultamento e apontá-los em mapas. “Em muitos casos não há o nome das vítimas enterradas, mas apenas as nacionalidades”, disse Azoulay.
Criada com a ajuda do centro de memória do Holocausto Yad Vashem, em Jerusalém, a página do arquivo recebeu cerca de 40 mil visitas de usuários nos primeiros sete dias, quatro vezes mais do que a taxa normal de visitantes em Bad Arolsen.
O aumento do interesse nestes documentos se deve em parte à parceria dos Arquivos de Arolsen com a empresa de genealogia Ancestry. A empresa sediada nos EUA opera uma das maiores plataformas online do mundo para pesquisa genealógica e foi fundamental na criação do índice que tornou os documentos facilmente pesquisáveis.
Mais de 67% das solicitações recebidas no arquivo no ano passado foram de pessoas que procuravam descobrir mais sobre seus parentes. Como parte da cooperação do projeto, a Ancestry recebeu permissão para publicar também os documentos em sua página na internet – uma ação que atraiu um grande grupo de entusiastas da história familiar ao arquivo.
“Os Arquivos de Arolsen existem há oito décadas, mas ainda somos relativamente desconhecidos”, disse Azoulay. A diretora espera que o interesse midiático e a cooperação com a Ancestry “chame a atenção para o potencial do arquivo e realmente inspire pessoas a procurarem por seus familiares”.
No futuro, o arquivo planeja continuar com a publicação online dos seus mais de 30 milhões de documentos originais, com as listas da zona ocupada pelos britânicos que serão liberadas no próximo ano.