Apartheid e imbecilidade andam juntos?
Por Marcos L Susskid. @MarcosSusskind
Escrevo hoje diretamente de Capetown, na África do Sul. Este é o país que teve o apartheid como lei e forma de governo entre 1948 e 1994. A palavra apartheid na língua Africaneers significa afastamento. A lei tratou de segregar as populações de acordo com a cor de sua pele e cada grupo tinha direitos e obrigações diferentes, visando manter o domínio político, econômico e social da população em mãos da minoritária branca.
Durante o apartheid, as pessoas na África do Sul foram classificadas em quatro grupos raciais: brancos, negros, mestiços e indianos/asiáticos. Essas classificações determinavam onde as pessoas poderiam viver, trabalhar e estudar. O governo criou áreas separadas chamadas “pátrias” ou “bantustões” para cada grupo racial, mas os recursos e oportunidades nessas áreas eram severamente limitados frente ao que a população branca tinha acesso. A lei ia além: criou um sistema educacional diferenciado que fazia com que a educação dos não brancos fosse significativamente inferior, de modo a coibir o acesso social dos não brancos. A movimentação era restrita e cada não branco necessitava permissão específica para ir de um lugar a outro. Caso encontrado onde não lhe era permitido, podia ser preso ou até deportado.
Infelizmente os efeitos do apartheid ainda perduram na África do Sul. As desigualdades socioeconômicas e as divisões raciais ainda persistem, não na lei, mas de fato.
Viajei intensamente por todo o sul do país, desde Capetown até Addo, passando por Hermanus, Knysna, Port Elizabeth, Stellenbosch, Paarl, Franschhoek e diversas outras. O número e a extensão das favelas choca muito. Em todas as cidades e aldeias se nota imensa diferença entre negros e brancos. Alguns exemplos: 26% da população vive em favelas, nenhum deles é branco. É verdade que a situação vem melhorando pois em 1990 eram quase 46% os favelados. Nos restaurantes e hotéis pode haver gerentes brancos ou negros, mas pessoal de serviço é sempre negro. No hospital ao que fomos, as atendentes e pessoal de limpeza eram negros mas o médico é branco.
Nos bairros se vê isso com muito mais ênfase. Os bairros brancos não têm negros, exceto empregados. O país é limpíssimo, indiferente do bairro. Até mesmo as favelas são mais limpas que a média das ruas brasileiras. Não vi sequer uma única pichação e 100% dos imóveis parecem terem sido pintados ontem.
Agora o salto necessário para a imbecilidade da esquerda mundo afora. Israel é frequentemente acusado de praticar apartheid. Impossível encontrar uma mentira maior. Eu vivo em Israel e a visita à África do Sul abriu uma imensa cortina de compreensão
Em Israel se vê centenas de árabes em qualquer Shopping Center, muitos como funcionários e muito mais como clientes. Antes de viajar sentei-me no Café Hilel, numa mesa com três árabes – Yasmin Arar, Malek Daud e Mohamad (não deu seu sobrenome). Um trabalha numa rede de lojas de materiais de construção de judeus e se sente plenamente empregado. A outra, vinda de Schchem, trabalha como assistente social e diz que a qualidade de vida em Israel é incomparavelmente melhor que sob o governo palestino. Muhammad, que só fala árabe, disse que trabalhou em Dubai e lá se sentia de segunda classe. Afirmou estar feliz de ter voltado a Israel. Claro, são só três, mas foi totalmente aleatório.
O sistema educacional em Israel só difere na língua: escolas árabes ensinam em árabe o mesmo programa que as escolas judaicas ensinam em hebraico. Não existe restrição de movimento ou de residência. Todos os hospitais têm enfermeiros, médicos e chefes de departamento árabes. Alguns hospitais em regiões de absoluta maioria judaica têm diretor geral árabe.
Os árabes estão no parlamento, nos negócios (dominam a construção civil), são juízes nas cortes de justiça, são embaixadores e cônsules, oficiais no exército, ocupam os cargos mais altos na polícia, são gerentes de departamento em ministérios e até um deles é o presidente do maior banco do país. Ao comparar África do Sul pós apartheid com a Israel onde vivo, vejo o tamanho da imbecilidade daqueles que acusam Israel. São desconhecedores da verdade, sofrem de lavagem cerebral, se recusam a conhecer a verdade e, se a conhecem, fazem questão de omiti-la.
Resumindo: quem fala em apartheid nunca esteve em Israel. Se esteve, não passa de um mentiroso mal intencionado…
Foto: ONU (Flickr)