BlogsMary KirschbaumÚltimo

Almas atormentadas, suicídios e pós-trauma

Por Mary Kirschbaum

Vários soldados israelenses cometeram suicídio após verem horrores que o mundo nunca poderá compreender verdadeiramente. Soldados israelenses, ao retornarem de Gaza, relataram traumas psicológicos severos, com alguns tirando suas próprias vidas, após testemunharem uma realidade brutal do ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023. Corpos queimados e despedaçados tanto de colegas das FDI quanto de cidadãos israelenses, crianças, mulheres, idosos, homens…

Antes de tirar a própria vida, um dos soldados que cometeu suicídio no ano passado, com relatos angustiantes, conta que não conseguia mais comer. Ao sentir o cheiro de carne, pensava na carne e sangue humanos. Ele lutou incansavelmente contra sintomas graves de transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), incluindo crises de raiva, suor, insônia e retraimento social. Sua família conta que ele tinha dito que apenas aqueles que serviram ao lado dele poderiam realmente entender o que ele havia testemunhado. “Ele viu muitas pessoas morrerem”, disse sua mãe. “Talvez ele até tenha matado alguém”.

De acordo com o ministério de defesa de Israel, aproximadamente mil soldados estão sendo retirados do combate mensalmente, com trinta e cinco por cento relatando problemas de saúde mental. Isto era até o ano passado (ano do ataque).

Até março deste ano, cerca de cinquenta sobreviventes do ataque no Nova Festival teriam cometido suicídio.

Um sobrevivente do Nova relata que seus amigos não estavam conseguindo sair da cama.

Ele conta que adquiriu um cachorro para ajudá-lo a sobreviver na vida diária e que está tentando retornar ao trabalho e funcionar normalmente, mas que necessita de profissionais da área psicológica e psiquiátrica, pois não lhe é possível fazer isso sem ajuda adequada e especializada.

Infelizmente os órgãos estatais estão também falhando em fornecer o suporte a todas estas pessoas atingidas com pós-trauma.

É realmente muito triste! E quando relatamos a vida dos sequestrados que foram soltos, nos deparamos com relatos tão absurdamente brutais, como serem mantidos em gaiolas, que é difícil para nós cidadãos israelenses conceber que algo assim possa acontecer, por parte de “humanos”, imagina quem passou por tudo isso.

“Almas atormentadas” é um possível resultado destes traumas, onde a experiência é marcante e, onde o sofrimento e os prejuízos experienciados por estas vítimas vão além do que seu psiquismo pode suportar.

Sintomas do pós-trauma vão desde a revivescência do evento traumático, conhecido como sintoma intrusivo, incluindo lembranças frequentes sobre o trauma, sendo invadida por estas lembranças, pesadelos e flashbacks.

Sintomas de evitação ou esquiva, onde o indivíduo passa a evitar coisas e lugares relacionados ao evento traumático.

Também existem os sintomas de hiperatividade ou hiperexcitação, em que os indivíduos afetados pelo transtorno vivem em estado de alerta, assustam-se com mais facilidade e são mais reativos e irritados do que em condição normal.

Também temos casos de amnésia dissociativa, onde os indivíduos são incapazes de recordar aspectos relevantes do evento traumático vivenciado. Existem também os casos de despersonalização e desconexão com o ambiente, como se ele não fosse real ou se algo estivesse modificado no ambiente.

Aí vemos uma situação de urgência para tratamento de pós-trauma, pois a questão do suicídio pode aparecer como “saída”, uma situação limite, para uma vida que se tornou demasiadamente penosa. Existe uma dor psíquica que ultrapassa para o indivíduo a “proteção”, que o sistema psíquico desenvolveu ao longo do amadurecimento da pessoa biofisicopsicológica, para lidar com situações que nós humanos, cada um na sua singularidade, teríamos capacidade “mental, energética”.

Lidar com situações totalmente desagradáveis ou incômodas ultrapassa para cada um de nós este limite psíquico e aí a possibilidade do suicídio é colocada como hipótese. Hipótese esta considerada para tentar resolver a alta fragilidade da vida sentida, às vezes, como uma dor não mais tolerável.

Esta infelizmente é a realidade desta guerra. Esta guerra que já dura mais de um ano e traz muito sofrimento, perdas e dor irreparável para todos nós.

Esperemos e rezemos para que isto acabe logo.

2 comentários sobre “Almas atormentadas, suicídios e pós-trauma

  • Tem só 1420 psiquiatras em todo o país, e 8864 psicologos.

    Resposta
  • Realmente é muito sério mesmo a situação traumática desses jovens soldados que estão nesta situação e muitos que perderam suas vidas. Dói muito no coração uma dor tão grande mais não chega nem perto de tudo que estes soldados tem passado Clamo ao Eterno por misericórdia!

    Resposta

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Pular para o conteúdo