Ahmad Tibi, o homem que absolutamente sempre se coloca do lado errado
Por Marcos L. Susskind
Ahmad Tibi é um árabe israelense, nascido em Taibe, a 16 km de Tel Aviv, em 1958. Formou-se médico pela Universidade de Jerusalém, com especialização em ginecologia. Fundou o Partido Ta’Al, acrônimo hebraico para Movimento Árabe pela Renovação. Seu partido disputou apenas uma eleição de forma independente (1996), recebendo apenas 2087 votos. Desde 1999 Tibi tem sido eleito e reeleito para a Knesset (Parlamento de Israel) sempre em alianças com outros partidos. É conhecido por juntar-se a outros partidos árabes para conseguir eleger-se e depois desmanchar a coalizão. Já se coligou com os seguintes partidos árabes: com o Ra’am, com o Hadash, com o Balad e atualmente com a Lista Árabe Unida. Tibi sempre assumiu posições radicais frente ao estabishment Judaico de Israel e nunca concordou em participar de qualquer governo no país, sendo oposição tanto aos partidos judaicos de direita como de esquerda.
Por volta de 1980, Ahmad Tibi começou a se aproximar da OLP, a Organização para a Libertação da Palestina, à época uma organização banida. Apesar da proibição total de contato entre israelenses e a OLP, Tibi tomou parte em diversos encontros e congressos da OLP, passando a ter reuniões com Yasser Arafat, a partir de 1984, tendo sido questionado pela polícia israelense que inclusive o deteve. Em 1993, ele se tornou conselheiro político pessoal de Yasser Arafat, cargo que ocupou até 1999, quando foi eleito para a Knesset. Ao desavisado sobre a política israelense pode parecer absurdo que o conselheiro político de um dos mais virulentos inimigos de Israel passe a ocupar um cargo no Parlamento de Israel, mas é o preço da democracia.
Em 2002, Ahmad Tibi foi acusado de circular entre Gaza e a Cisjordânia insuflando árabes contra Israel, chegando a ser proibido de entrar nestes territórios. Tibi apelou à Suprema Corte de Israel argumentando que a proibição era ao mesmo tempo inconstitucional e ilegal, tendo seu pedido acolhido pela Corte Suprema de Justiça de Israel. Partidos da direita israelense tentaram impedir a candidatura de Ahmad Tibi, em 2003, sob a alegação de seu apoio e suporte às ações terroristas palestinas e conseguiram maioria. No entanto, novamente a Suprema Corte derrubou o veto e Tibi foi eleito pela coligação entre seu Ta’Al e o Hadash.
Tibi defende a retirada israelense para as fronteiras pré-1967 e a criação de um estado palestino, sendo ferrenho opositor da definição de Israel como um Estado Judeu alegando que a definição do país como judeu é racista. No entanto, sem qualquer autocrítica, jamais igualou a racistas países que se definem como islâmicos ou árabes – e alguns até incluem isto no próprio nome da nação – tais como o Irã (Republica Islâmica do Irã), Afeganistão (Emirado Islâmico do Afeganistão), Egito (República Árabe do Egito), Mauritânia (Republica Islâmica da Mauritânia), Paquistão (Republica Islâmica do Paquistão), Síria (República Árabe da Síria).
Ahmad Tibi luta pela remoção de todos os símbolos que identificam Israel como país da maioria judaica, sugerindo o cancelamento da Lei do Retorno, troca da bandeira e a eliminação do Hatikva como hino nacional. Ele se opõe radicalmente ao recrutamento de cidadãos árabes de Israel para as FDI. Neste quesito, Ahamad Tibi vem perdendo terreno pois o número de árabes que se voluntarizam para servir no Exército de Israel vem dobrando a cada ano desde 2019. Tibi também apoia o direito palestino de retorno, chamando isso de um pré-requisito para a reconciliação.
Bibi Netanyahu, durante as eleições israelenses de abril de 2019, frequentemente citava Tibi alegando que se ele (Netanyahu) perdesse as eleições, o país cairia nas mãos de negadores do estado judaico. Para tanto usou o slogan “É Bibi ou Tibi”, tendo sido muito criticado por seus oponentes e por Tibi que o acusaram de insuflar temores de envolvimento árabe na política israelense.
Tibi costuma colocar-se no lado errado da história israelense, sendo um dos fomentadores da divisão interna entre árabes e judeus. Possui amplas relações com os grupos palestinos.
O Alcorão usa a palavra mártir para designar quem morre pelo nome de Deus. No entanto, há muitos anos, ela passou a ser associada a homens-bomba que se explodem em matanças de israelenses e de “infiéis”, definidos como quem não seja muçulmano.
Durante um evento em homenagem aos mártires palestinos em janeiro de 2012, Tibi chamou os “mártires” de “símbolos da pátria”, e parabenizou os mártires palestinos, afirmando que “não há nada mais louvável do que aqueles que morrem pela pátria”. Tal discurso foi extremamente mal visto em Israel, uma vez que a população considerou um incitamento e glorificação de assassinos.
Foto: 102fm, CC BY-SA 4.0 (Wikimedia Commons)