Ah, que belas democracias
Por David S. Moran
Acompanhando os processos de eleições internacionais, principalmente as do Oriente Médio e dos nossos vizinhos árabes, não me parece que o mundo “civilizado” entende bem as normas do “oriente”. Nos meses de maio e junho, alguns vizinhos vão às urnas, vejamos como isto acontece lá.
Autoridade Palestina. Os palestinos sempre foram divididos, mas Yasser Arafat, do movimento Fatah, soube impor-se e projetar o problema palestino ao mundo. Depois de sua morte, seu dito “moderado” companheiro, Mahmoud Abbas, foi escolhido para substitui-lo. Ante o sempre “não” dos palestinos a qualquer solução, Mahmoud (Abu Mazen) Abbas, disse que quer criar Estado para seu povo, não pelas armas, quer fazê-lo pacificamente.
Nas eleições do ano seguinte à morte de Arafat – 2005 – Fatah perde as eleições na Faixa de Gaza para a organização islâmica radical Hamas. Em seguida, esta que quer tudo, faz expurgo entre os adeptos da Fatah, alguns são enviados ao céu, lançados dos altos edifícios de Gaza. Outros fogem e há os que aderiram a Hamas, ou entraram no “frozen”.
Durante 15 anos, Abbas fugiu de eleições, como o diabo da cruz. Sempre tinha desculpas para não realizar novas eleições. Agora, para satisfazer os europeus e o “ocidente” declarou que novas eleições aconteceriam em 23 de maio. Afinal de conta ele tem 83 anos, e tem que dar espaço aos mais jovens. Biden gostou e num gesto de boa vontade, enviou aos palestinos alguns milhões de dólares e mesmo a UNRWA, que foi criticada esta semana porque suas verbas são desviadas da educação que tem que dar e desenvolver os palestinos, para incitar o antissemitismo e ódio aos judeus e israelenses.
Parecia real, mas aos poucos entendia-se que era mais um teatro do velho Abbas. Ciente de que sua organização, a Fatah, perderia, se as eleições realmente acontecerem, não teve muitos problemas de encontrar o bode-expiatório, Israel. Reunindo convenção palestina, em Ramallah, boicotada pela Hamas, Jihad Islamico e outros extremistas, Mahmoud Abbas, discursou, na quinta-feira (29), durante 35 minutos acusou Israel, “que não conseguiu nos dar uma resposta, pois não tem governo e sem a participação dos árabes de Jerusalém Oriental, não realizaremos eleições. Não abriremos mão da nossa eterna Jerusalém”. A verdadeira razão: pelas pesquisas de opinião pública, Fatah obteria apenas o quinto lugar, na preferência dos votos. Hamas que já está a muito atuando na Cisjordânia, venceria e traria uma grande dor de cabeça a muita gente ao redor.
Eleições na Síria. Marcadas para o dia 26 de maio, não devem ter muitas surpresas. Como os fatos passam rapidamente. Já caiu no esquecimento, que há 10 anos foi iniciada uma guerra civil síria e o país dividido. Isto depois que milhões migraram, outros milhões tornaram-se refugiados e centenas de milhares moreram. O Irã ampliou sua influência, entrando na Síria, a Rússia idem.
O ex-dentista, Bashar Assad , foi chamado as pressas para continuar a ditadura, quando seu pai, o ditador Hafez Assad, que manteve o país sob seu controle, durante 30 anos, morreu em 2000. Estas são as segundas eleições, desde 2011, quando eclodiu a guerra civil no país. Em 2014, Assad filho obteve só 90% dos votos. Escrevi só, porque seu pai, Hafez era mais popular, sempre obtinha 99% dos votos. Nestas eleições, em que Bashar Assad, ainda não apresentou sua candidatura (a menos de um mês da eleição), encontrará um “perigo”. Pela primeira vez na história da Siria, uma mulher candidatou-se a presidência. É uma advogada desconhecida de 50 anos e pelo visto, não chegará a nada.
Mas, Assad não deixou o seu humor de lado. Escolheu como bom democrata, observadores para fiscalizar as eleições e não deixar fraudulentos interromper o processo democrático. São observadores da Rússia, Irã, China, Venezuela e Cuba.
Eleições no Irã. Em 18 de junho próximo deverá haver eleições na terra dos aiatolás. Há os radicais e os mais radicais. Alguns já estão até acusando o Mossad de espalhar gravações secretas em que o fiel ministro das Relações Exteriores do país, Javad Zarif, fala contra altas personalidades do país. Pelo visto trata-se de disputa interna, na qual o Zarif é acusado porque seu filho é casado com a filha do ex-Ministro americano, Kerry, e que assim conseguiram atentar contra o líder militar iraniano, Qasem Suleimani, seu rival.
Jordânia. Este país, com a maior fronteira com Israel, teve, em Novembro de 2020, eleições para o Parlamento. O rei Abdullah II viu apenas 29,98% dos eleitores indo às urnas. Infelizmente, ele não segue os passos do pai, o rei Hussein e apesar da grande ajuda israelense, confronta e acusa Israel para atender os mais radicais. Intervém no Monte do Templo e ultimamente até ordenou trocar as placas indicativas na Esplanada das Mesquitas, por outras, com o símbolo da monarquia jordaniana.
Conclusão. O que ocorre no Líbano, com a Hizballah, força destrutiva da antiga Suíça do Oriente Médio e mesmo na Turquia do islamista Erdogan, demonstra que apesar de tudo, as forças radicais ganham força em países muçulmanos. O governo americano de Joe Biden, empossado em janeiro último, já começou falhando e não entendendo a cultura oriental islâmica. Quando vice-presidente no governo democrata, ele e Obama queriam estender o regime de democracias e impuseram ao aliado egípcio, Husni Mubaraq, atender as demandas populares, deixar a presidência e realizar eleições. Pronto. Venceu a democracia. Venceu? Acredito que não. Veio outra ditadura, do Mursi, filiado à Irmandade Muçulmana, que em um ano foi deposto e o Egito passou às mãos do presidente A-Sisi.
Quando parecia que o Irã estava encostada na parede, vem o governo Biden ajudado pelos europeus, dar-lhe corda e pedir a gentileza de fazer novo acordo, a troco de ajuda econômica. O líder iraniano aceita ajuda econômica, mas incondicionalmente, “só a meu modo”. O que fará sem sanções e com ajuda europeia. Ampliará a atuação radical no mundo, principalmente na Europa e demais países ocidentais, inclusive na América Latina e no Brasil, que tem grande importância na região.
É incabível e inaceitável que o mundo qualificado mais racional e inteligente não imponha objeções e impeça que certos países, como o Irã, declarem abertamente seu objetivo de eliminar o Estado de Israel e varrê-lo mapa. Pensei que com o passar do tempo, os liberais, detentores do humanismo, entenderiam que o boné e barba de Fidel Castro e Che Guervara, são bonitos de fotografar, mas destrutivos para o seu povo quando tomam o poder. Quando um dos seus seguidores, como Yasser Arafat entra com sua “kefia” ao recinto da ONU, em trajes militares, com arma a tira colo, para espalhar seu ódio e recebe aplausos dos representantes dos países, que tem que exportar o amor e paz, parece que não aprenderam ainda nada.