Afinal, onde fica Portland?
Por Nelson Menda
Quem acredita que Portland fica no Maine, extremo norte da Costa Leste dos Estados Unidos, acertou em cheio. Paradoxalmente, quem cravou sua resposta afirmando que Portland fica no Oregon, do outro lado do país, ou seja, na Costa do Pacífico, também acertou. E é dessa Portland do Pacífico, para onde me bandeei há algumas poucas semanas, que estarei me referindo.
Por pura falta de imaginação, os dois primeiros colonizadores de origem europeia a adentrar as terras habitadas pelos índios Chinook e Multnomah, na região Oeste dos Estados Unidos, decidiram, na base do cara ou coroa, que a denominação da cidade deveria ser exatamente a mesma de seus respectivos torrões natais. Portanto, se não tivesse sido Portland, o nome escolhido teria sido Boston, local de nascimento do outro sócio.
Corria o ano de 1843 e o local destinado a erguer a nova localidade, às margens do Villamete River e contíguo a uma densa floresta nativa, parecia ser o espaço ideal para uma cidade que acabaria sediando, mais de um século depois, indústrias do porte da Intel, Nike, HP, Adidas e mais um naipe de prestigiadas empresas de tecnologia e computação gráfica.
Mas os primeiros anos foram bastante difíceis, pois o caudaloso Rio Columbia, que nasce no estado vizinho de Washington, a norte, e se encontra com o Villamete, mais abaixo, antes de desaguar no Pacífico, ainda não tinha sido domado. Suas corredeiras impediriam o tráfego de grandes embarcações durante grande parte do século XIX, o que só foi superado na época da Segunda Guerra, quando o Corpo de Engenheiros do Exército Americano, reconhecido por sua elevada capacidade técnica, desenvolveu um sofisticado sistema de comportas que o tornou inteiramente navegável.
Essas comportas além de permitir a navegabilidade de um rio que atravessa praticamente todo o estado do Oregon e parte do vizinho Washington contribuíram para fazer da região uma das mais desenvolvidas do país. Além de permitir o acesso ao interior do estado, um criativo sistema de escadarias instalado em cada uma das comportas possibilitou a subida e desova dos peixes à nascente do rio. Dentre eles, do valorizado salmão, o que além de garantir a reprodução da espécie propiciou à população nativa um alimento de refinado sabor e elevado valor nutricional. Em uma iniciativa destinada a garantir o sustento de seus primitivos habitantes, o governo local concedeu aos autóctones não só o direito da pesca do salmão como também o da industrialização e comercialização desse peixe.
Voltando à história, quando a nossa Portland, ou seja, a do Oregon, estava dando seus primeiros passos, a descoberta de ouro no Alaska, em 1897, acabou, da noite para o dia, com a sociedade entre seus fundadores. Isso porque um deles, Francis Pettygrove, ao invés de se empenhar na construção das residências e estabelecimentos comerciais da nova localidade, resolveu desistir do projeto original, vender sua parte na empresa e partir, junto com centenas de milhares de outros aventureiros, atrás do vil metal. Se conseguiu encontrar ouro não saberia esclarecer, mas que deixou seu sócio em maus lençóis não resta a menor dúvida, que teve de encontrar, da noite para o dia, um novo parceiro em seu projeto de colonização.
Portland viveu diferentes fases de altos e baixos antes de se consolidar como um polo de tecnologia e refinamento cultural, que teve início, por estranho que possa parecer, durante a grande depressão de 1929. Naquele ano, músicos, pintores, escultores, arquitetos e artistas de diferentes áreas da cultura, fugindo da fome e do desemprego de Nova Iorque e demais cidades da Costa Leste, migraram em massa para o Oregon. Graças a essa diáspora, Portland começou a se destacar como um dos polos de bom gosto e criatividade dos Estados Unidos.
Um outro boom aconteceu há poucos anos, quando californianos endinheirados descobriram ser possível adquirir belas mansões vitorianas por uma fração do que pagariam em seu estado natal. Os incorporadores, por sua vez, desandaram a construir, na última década, tantos imóveis residenciais aqui em Portland que acabaram derrubando os preços e, hoje em dia, é possível adquirir confortáveis casas e apartamentos por muito menos do que nos vizinhos estados de Washinton e da própria Califórnia.
Portanto, caro(a) leitor(a), se você está em busca de qualidade de vida sem pagar uma pequena fortuna por isso, Portland, no Oregon, pode ser uma das opções a considerar. O único problema é o clima pois, com exceção dos meses de verão, em que o sol brilha no firmamento, nos demais o tempo permanece, grande parte dos dias, nublado. Mas, em compensação, não faz tanto frio quanto Nova Iorque e Chicago ou calor como em Miami ou Las Vegas. Em função das temperaturas médias os meteorologistas atribuem a Portland um dos melhores climas do país.
A cidade tem atraído muitos brasileiros, tanto que o futebol já é o esporte de massa mais popular por aqui, ao contrário do baseball, como no restante do país. Se o leitor estiver pensando em visitar ou se estabelecer em Portland, Oregon, a hora é essa.
Foto: Ryan Harvey (Flickr)
Parabéns pela iniciativa. Você tem o dom da narrativa (ente outros!) e certamente vai nos presentear com belas histórias. Teremos muito a aprender de uma região pouco divulgada por essas paragens.