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A tragédia de Majdal Shams e o discurso de Bibi no Congresso americano

Por Deborah Srour Politis

O assunto de hoje era o discurso do Bibi Netanyahu no Congresso americano, mas como o Oriente Médio é imprevisível, vamos começar com o horrendo massacre que ocorreu ontem* no vilarejo druso de Majdal Shams. Às 18h um míssil da Hezbollah atingiu em cheio um campo de futebol onde um jogo entre crianças estava acontecendo. A sirene de alerta tocou, mas não deu tempo para as crianças correrem para o abrigo que ficava no próprio campo de futebol.

Doze crianças, de 10 a 16 anos de idade foram mortas instantaneamente, quatro de uma mesma família, e outras 40 estão sendo tratadas em vários hospitais israelenses, nove em estado crítico, algumas com membros decepados, enfim, uma verdadeira chacina e uma verdadeira tragédia para Israel e para a comunidade drusa em especial.

Imediatamente a Hezbollah tentou negar que tivesse enviado o míssil, porque os mortos não eram judeus, eram drusos. Mas não passaram duas horas do ataque e a inteligência de Israel já tinha o nome do comandante que ordenou o lançamento do míssil: Ali Yehia Mohamed. E ele sabia para onde o estava mandando e não se importou com a morte de civis, de crianças inocentes. Como estas mortes justificam a solidariedade com Gaza é incompreensível. Somente a sede de sangue de inocentes pela Hezbollah justifica este ataque.

Israel prometeu responder e Bibi Netanyahu cancelou o resto de sua viagem aos Estados Unidos e está voltando hoje a Israel depois de seu histórico discurso perante o Congresso. E o que os drusos e o resto dos israelenses esperam é nada menos que uma ação contra o Líbano, da magnitude que foi o ataque ao porto de Hudaidah depois que o Iêmen matou um israelense em Tel Aviv com um drone na semana passada.

Claro, a ONU rapidamente pediu a contenção de Israel para não escalar a situação para uma guerra. Curioso que a ONU não pediu contenção para a Hezbollah que envia diariamente centenas de mísseis, foguetes, morteiros, drones e veículos aéreos não-tripulados contra Israel. O sangue judeu e israelense continua a ser barato na ONU.

Agora sobre Bibi no Congresso, sem dúvida, ele é um grande orador e sabe como produzir um discurso. Esta é a quarta vez que ele fala aos legisladores americanos, batendo o recorde de Churchill que falou três vezes perante a mesma casa. Bibi sabe acima de tudo como se dirigir à audiência americana, o que faz ela se emocionar e responder, e essa é sua maior vantagem.

E seu objetivo desta vez, foi de fortalecer a aliança entre os Estados Unidos e Israel, num momento em que ela está sendo questionada, inclusive por dúzias de membros democratas do Congresso que boicotaram o discurso. E entre eles estavam a candidata democrata a presidente Kamala Harris, Nancy Pelosi, o líder da maioria do Senado Dick Durbin e James Clyburn, membro do Grupo Negro do Congresso. O boicote destes quatro políticos democratas influentes nos provou que não podemos tomar o apoio americano como garantido. Vimos o quanto custou a retenção do envio de armas e munições por Biden em vidas e tempo para a resolução da guerra em Gaza.

Como disse o Wall Street Journal, isto não é uma maneira de tratar um aliado que está em guerra. Além disso, durante seu discurso, do lado de fora, manifestantes pró-Hamas fora do controle, arrancavam bandeiras americanas dos postes e as queimavam, junto com bandeiras israelenses. Os manifestantes picharam de vermelho os marcos americanos, como fizeram com as casas dos moradores dos kibutzim em 7 de outubro, gritaram pelo fim de Israel e despejaram larvas, minhocas e grilos no lobby do hotel onde Netanyahu estava hospedado.

Sem se deter, Netanyahu foi direto ao fulcro da questão para reforçar a aliança com os Estados Unidos. Isso porque, embora ele tenha recebido quase 80 ovações, as imagens da destruição de Gaza transmitidas ininterruptamente pela mídia americana e mundial, estão fazendo com que muitos se percam e esqueçam porque começou esta guerra e porque ela é justa.

Em Israel não nos perdemos. Todos os dias lembramos do massacre, dos reféns, dos soldados que deram suas vidas e dos que foram feridos. Mas nos Estados Unidos, é outra coisa. Precisamos continuamente defender essa guerra mesmo em meio a todas as alegações absurdas de crimes de guerra, genocídio e apartheid. E é preciso deixar claro ao público americano que a luta de Israel não é apenas uma luta justa e correta, mas também é a luta da América pelos valores democráticos e de liberdade. Foi o que Netanyahu conseguiu com esse discurso.

E claro, a oposição em Israel encontrou mil argumentos para criticar. Alguns falaram que Bibi deveria ter se concentrado nos reféns, outros para anunciar um plano para Gaza ou um plano de paz com os palestinos e outros ainda, para Bibi reconhecer sua responsabilidade pelo ataque em 7 de outubro. Para estes, não importa o conteúdo do discurso, ele nunca teria sido suficiente para apaziguá-los.

Mas, de novo, Bibi direcionou sua fala para o público americano, não israelense. Nós em Israel, sabemos da brutalidade do Hamas e da chacina que sofremos porque vivemos com isso dia a dia. Mas os americanos precisam ser lembrados, em linguagem vívida e descritiva.

Nós em Israel sabemos que temos um país super diverso, com pessoas de todas as raças e religiões, mas os americanos precisam ver isso. É por isso que Netanyahu trouxe com ele um soldado negro, Avichail Reuven, de ascendência etíope, e um soldado beduíno muçulmano, Ashraf al Bahiri. Eles representam a diversidade de Israel, algo que muitos americanos simplesmente não conhecem.

Nós em Israel sabemos que não alvejamos civis indiscriminadamente, mas os americanos precisam ser lembrados disso, e Netanyahu o fez. E ele lembrou que Israel lançou milhões de panfletos e fez centenas de milhares de telefonemas para tirar civis palestinos da linha de fogo.

O maior especialista americano em guerra urbana John Spencer, declarou que a proporção de vítimas civis-combatentes em Gaza está entre as mais baixas do mundo na história de guerras da humanidade! O público americano precisa ouvir isto. Nós sabemos que Israel não está intencionalmente matando os moradores de Gaza de fome; os americanos precisam saber das centenas de caminhões de ajuda por dia que são entregues, e muitas vezes roubados pelo Hamas. E como Bibi disse, “para Israel, cada morte civil é uma tragédia. Para o Hamas, é uma estratégia”.

Isso precisa ficar claro para os legisladores sentados naquele plenário do Congresso.

Bibi também não deixou de responder aos manifestantes. “Eles chamam Israel de estado colonialista”, disse ele. “Eles não sabem que a Terra de Israel é onde Abraão, Isaac e Jacó oraram, onde Isaías e Jeremias pregaram e onde Davi e Salomão governaram? Por quase 4.000 anos, a Terra de Israel tem sido a terra natal do povo judeu. Sempre foi nosso lar; sempre será nosso lar”.

Sobre os protestos pró-Hamas nos campus universitários e nas ruas dos Estados Unidos, ele disse que este “não é um choque de civilizações, mas um choque entre a barbárie e a civilização”. Que “quando os tiranos de Teerã, que enforcam gays em guindastes e assassinam mulheres por não cobrirem seus cabelos, elogiam, promovem e financiam vocês, vocês se tornam oficialmente os idiotas úteis do Irã”.

Bibi concluiu dizendo que Israel precisa da América e se ela lhe der o necessário, o Estado Judeu trará a vitória que também será dela. E hoje, isso nunca foi mais verdadeiro com a mais que provável abertura da guerra no Norte. A questão é: será que a cegueira dos democratas americanos e do resto do mundo irá levá-los a negar a Israel o direito de se defender também nesta frente?

Temos que esperar para ver o que esta próxima semana nos trará.

Foto: FDI
*Publicado em 28/07/2024

Um comentário sobre “A tragédia de Majdal Shams e o discurso de Bibi no Congresso americano

  • Deborah sempre muito clara e esclarecedora. Obrigada

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