A rendição americana ao Talibã
Por Deborah Srour Politis
Vinte anos atrás, nesta data, novaiorquinos como eu estávamos prestes a testemunhar o maior ataque em solo americano da história. Ninguém poderia imaginar que o ataque à base naval de Pearl Harbor, em 7 de dezembro de 1941, pouco menos de 60 anos antes, um dia que o presidente Roosevelt definiu como o Dia da Infâmia, poderia ficar reduzido por um outro, desta vez no coração de Manhattan.
A diferença entre um e outro é que em Pearl Harbor o alvo eram as forças armadas americanas e o ataque matou 2.403 marinheiros, soldados e pilotos. Os ataques de 11 de setembro alvejaram civis e levaram 2.996 vidas.
Em 11 de setembro tínhamos um presidente americano republicano que não teve escolha a não ser caçar os perpetradores. Ele não vacilou e nem poderia ter vacilado naquela hora.
Ninguém vai discutir se ocupar um país por 20 anos, 10 anos a mais depois que o mandante dos ataques fora morto foi bom ou não. Mas a crise que estamos passando hoje foi completamente orquestrada por Joe Biden. Um burocrata de esquerda senil, que tinha o sonho de brincar de presidente, que não consegue tomar uma decisão coerente em prol da América, e que agora tem sangue em suas mãos.
A situação mental de Biden é tão preocupante que numa entrevista coletiva ele tirou do bolso uma lista de nomes de jornalistas para ele chamar para fazerem suas perguntas. Se ele precisa de instruções para uma coletiva, para o que mais ele precisa de instruções? E quem está dando estas instruções? Quem está realmente governando a América?
Biden disse que estava amarrado pelo acordo que Trump fez com os Talibãs. Mentira! Biden não teve qualquer problema em rasgar todos os outros acordos feitos por Trump, como o acordo com o México sobre os migrantes, o acordo sobre o oleoduto com o Canadá e tantos outros. Mas a data para a saída do exército americano do Afeganistão foi cunhada em pedra?
O acordo de Trump funcionava com condições. O próprio Trump não teve problema em atacar o Talibã quando ele não cumpriu o prometido. E desde o acordo nenhum soldado americano foi morto. Agora 13 jovens perderam suas vidas por nada. Média de idade 22 anos. Entre eles duas moças. Horas antes de morrer, Sargento Nicole Gee postou sua foto no Instagram segurando um bebê e escreveu: eu amo meu trabalho. Hoje ela voltou para casa num caixão.
Se alguém se der o trabalho de ler o acordo de Trump com o Talibã, está lá que os Estados Unidos manteriam sua presença na base aérea de Bagram, ao norte de Kabul. Esta base daria um porto seguro para americanos, europeus e seus colaboradores afegãos saírem do país. Mas não. Biden mandou evacuar a base semanas atrás retirando o suporte aéreo de qualquer missão. Em vez disso, americanos e afegãos têm que passar pelos talibãs para chegarem ao aeroporto.
Qual o problema de os EUA deixarem uma base no Afeganistão? A América tem nada menos do que 800 bases em mais de 70 países, incluindo a Alemanha e o Japão, desde a segunda guerra mundial, a Coreia do Sul e cinco bases no Iraque.
Mas a estupidez e pura negligência de Biden não teve limites. Para supostamente assegurar que americanos e seus aliados tivessem acesso ao aeroporto em Kabul, Biden deu ao Talibã todos os dados destes americanos e aliados. Ele deu aos Talibãs, um grupo terrorista que passou os últimos 20 anos matando americanos, os nomes, endereços e dados biométricos de seus cidadãos e colaboradores afegãos achando que os Talibãs irão ajudá-los a chegar ao aeroporto ou de alguma forma protegê-los. Isto é pura insanidade! Agora os Talibãs têm uma lista de eliminação, especialmente sabendo que não haverá prorrogação do prazo de saída e o último avião americano sairá na terça-feira. Os ingleses já saíram e reconheceram que há mais de mil cidadãos britânicos que foram deixados para trás. O que acham que irá acontecer com eles? E com os americanos que não puderem embarcar?
Até a mídia de esquerda não pode deixar de apontar o dedo para Biden como o culpado por este desfecho vergonhoso. Mas a cobertura 24 horas por dia da retirada americana do Afeganistão não lidou com quatro pontos-chave que terão consequências duradouras muito além da miopia de Biden.
O primeiro é o arsenal de armas deixado para o Talibã e outras organizações jihadistas pela saída precipitada dos Estados Unidos e a desintegração das forças armadas afegãs. 84 bilhões de dólares em equipamento. Armas, munições, dinheiro, centenas de veículos e até os avançados helicópteros Black Hawk. OK, vamos dizer que os Talibãs não terão pilotos para estes helicópteros. Mas os chineses e russos já estão em Kabul e porão suas mãos neles, roubando uma tecnologia vital.
Não apenas demos aos terroristas outro estado falido para planejar ataques regionais e internacionais, mas também os armamos. De acordo com um artigo da revista Forbes, os Estados Unidos deixaram para trás um arsenal de tal tamanho que poderá não só sustentar uma força terrorista, mas um verdadeiro exército por uma década.
“Os Estados Unidos deixaram para trás 75.000 veículos de guerra … Humvees, veículos protegidos contra emboscadas resistentes a minas (MRAP) e veículos blindados … 1.000 veículos resistentes a minas que custam até US$ 767.000 cada um – 208 aviões e helicópteros, incluindo 20 aeronaves de ataque A-29 Super Tucano. Os A-29 custam US$ 21,3 milhões de dólares cada. Helicópteros Black Hawk que podem custar até 21 milhões de dólares. Seiscentos mil rifles, metralhadoras … 25.000 lançadores de granadas e 2.500 obuses – o canhão moderno”.
O segundo é o perigo causado pela libertação de cinco mil terroristas de “alto valor” da Al-Qaeda, ISIS e Talibã que estavam na prisão de Bagram. Não é nem preciso explicar este perigo.
O terceiro é a noção equivocada de que os americanos podem decidir encerrar suas guerras contra o terrorismo simplesmente deixando o Afeganistão. Eles deveriam perguntar aos israelenses como a saída unilateral funcionou para eles em Gaza e no Líbano.
Finalmente, é o reconhecimento que não haverá inteligência humana ou de qualquer aliado americano no local para adquirir a inteligência e prevenir outro grande ataque terrorista.
A guerra contra o terrorismo não acabou apenas porque o presidente Biden disse que acabou. Um artigo no National Review explicou bem a situação: “O Afeganistão é apenas uma frente em um conflito global que os Estados Unidos não iniciaram e não podem querer acabar de uma hora para outra … Quando os participantes do movimento salafista-jihadista mundial observam os desdobramentos da semana passada, eles não veem motivos para desistir deste caos. Eles veem o caos, o pânico, a violência, a desordem e a retirada americana como uma justificativa para sua ideologia e um estímulo para novas ações ”.
E não só eles. Hoje os ucranianos e os taiwaneses não devem estar dormindo à noite. Eles estão vendo que não podem mais contar com os Estados Unidos para defendê-los. A Rússia já tomou a Península da Criméia e agora nada a impedirá de tomar o resto da Ucrânia. A China poderá facilmente iniciar sua ofensiva para reunificar a democrática Taiwan com a China comunista.
E Israel? Israel está numa posição ainda pior. Ao se retirar do Afeganistão de forma tão estabanada, deixando para trás não só colaboradores, mas cidadãos americanos, Biden está mandando uma mensagem clara que não irá começar uma outra guerra na região e não irá tomar qualquer atitude com relação ao Irã. Nesta Israel está só.
Ao mandar as tropas americanas baterem em retirada, Biden também conseguiu enfraquecer a OTAN de maneira que nem a Rússia conseguiu. Foi a primeira vez que o art. 5º da OTAN fora invocado engajando todos os outros membros na guerra contra a Al-Qaeda.
Em 21 de agosto de 2017, antes de ter ganhado a eleição, Trump fez uma previsão marcante. Ele disse que qualquer saída do Afeganistão que não fosse em fases, pausadas e planejadas, iria deixar um vácuo enorme que seria preenchido por grupos terroristas e isso para ele era inaceitável. Estava claro, mas Biden deixou todos na mão com seu erro colossal. E depois de ter errado tão miseravelmente ele quis deixar parecer que este resultado era inevitável. Não era.
Apesar de Biden ter feito parte do Comitê de Relações Exteriores do Senado por décadas, ele sempre errou em suas posições. Tanto que Barack Obama disse para nunca subestimarmos a capacidade de Joe Biden de atrapalhar ou estragar as coisas.
Depois de Pearl Harbor os Estados Unidos se uniram às forças aliadas e quatro anos depois venceram a guerra submetendo e humilhando o Japão com duas bombas nucleares. Depois de 11 de setembro e vinte anos de guerra, Biden conseguiu a derrota para a América sua humilhação, vergonha e o sangue dos jovens soldados em suas mãos.
Quem assinou o acordo e as condições de saída do Afeganistão foi Donald Trump. Biden apenas deu prosseguimento ao que Trump havia se comprometido. E as armas que caíram nas mãos do Talibã são propriedade do exército afegão e não propriedade americana. O exército afegão é responsável por essa crise. Trezentos mil soldados afegãos se recusaram a enfrentar sessenta mil Talibãs e entregaram tudo a eles. Não há nenhuma justificativa para arriscar vidas americanas quando os próprios afegãos não lutam por sua liberdade.