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A guerra mais longa, 210º dia, sem fim

Por David S. Moran

A guerra denominada Espadas de Ferro está se tornando a mais longa das guerras de Israel, já chegando ao 210º dia. Israel estava acostumado com guerras-relâmpago, tipo a Guerra dos Seis Dias (1967), a Guerra do Yom Kipur (1973), que durou 18 dia e a Guerra do Líbano (1982), 110 dias. Agora, contra uma organização terrorista, o Hamas, que se esconde atrás de civis, já está no 210º dia e não se vê o fim.

O premier Netanyahu já assegurou algumas vezes que Israel está para entrar no último reduto do Hamas, a cidade de Rafah, na fronteira com o Egito, que agora concentra cerca de 1,1 milhão de palestinos. A grande maioria veio do norte, onde as Forças de Defesa de Israel já atuaram. Apesar das inúmeras advertências, nada aconteceu. Os Estados Unidos pedem para não invadir Rafah, temendo que muitos civis sejam vítimas. O Egito, que tem Tratado de Paz com Israel, ameaça rompê-lo se Israel entrar na cidade, temendo que refugiados invadam o deserto de Sinai, que faz fronteira com a região.

O Secretário de Estado americano, Anthony Blinken, já está na sua sétima jornada na região, desde 7/10. Desta vez, os americanos dizem que a proposta israelense é generosa e se for negada a culpa é do Hamas. Há alguns dias, os ventos sopraram positivamente. Com o passar dos dias e a espera da resposta de Yahya Sinwar, descrito pelos que o conhecem como psicopata, sadista, assassino, fundamentalista religioso e vai por aí, os ventos tornam-se negativos. Ele faz todos esperarem, não tem pressa, o seu povo não lhe interessa, muito menos o sofrimento dos sequestrados. Estes são 133, vivos e mortos. Há rumores de que a maioria já não está com vida.

Os familiares dos reféns e seus apoiadores fazem manifestações em todo o país e até enviam delegações pelo mundo, até agora sem resultado. Entre os reféns, há bebes, crianças, velhos, mulheres e homens.

A proposta atual é da entrega de 33 reféns, a libertação de 40 terroristas por cada israelense, inclusive de assassinos que mataram israelenses. O Hamas exige que seja proclamado o fim da guerra e que as tropas israelenses se retirem da Faixa de Gaza. Israel quer declarar cessar-fogo de 30 a 45 dias. Depois, tratariam da libertação dos reféns restantes e dos corpos dos reféns mortos durante o encarceramento. Vale a pena lembrar que o Hamas tem dois israelenses, com debilidade mental, que foram a Gaza por sua vontade, em 2014 e 2015, um judeu de origem etíope e um árabe israelense. Estão lá, sem Israel ter notícias deles. Também em poder do Hamas os corpos de dois soldados das FDI, que combateram durante a Operação Rocha Firme, em julho de 2014.

No governo, o Primeiro-Ministro Netanyahu encontra dois problemas. Os ministros da direita, Smotrich e Ben-Gvir exigem que as tropas de Israel entrem em Rafah, para fazer limpeza total e terminar com o Hamas. No último reduto do Hamas, em Rafah, encontram-se quatro regimentos e provavelmente a cúpula encabeçada por Sinwar e Mohamad Deif, além dos reféns que lhes servem de escudo. Esses ministros alegam que Israel não pode terminar a guerra sem liquidar o Hamas. Por outro lado, os ministros do centro, Galant e Eizenkot, que foram Chefes do Estado Maior do Exército, apoiariam o governo, mesmo se os ministros da direita se demitissem e assim resguardariam o atual governo.

Netanyahu está decidido a entrar em Rafah, mesmo com a oposição americana e egípcia, e “conseguir vitória absoluta”. Na terça-feira (30) o ministro da Segurança Nacional, Ben-Gvir saiu da reunião com Netanyahu dizendo que o Primeiro-Ministro prometeu entrar em Rafah e que entendeu do Ben-Gvir a consequência se não o fizer. Mais tarde naquele dia, Netanyahu encontrou-se com familiares de sequestrados e lhes disse: “a ideia que pararemos a guerra sem entrar em Rafah e liquidar os batalhões do Hamas que estão lá, está fora de cogitação”. Os familiares querem acordo com o Hamas já, alegando que “a operação em Rafah pode esperar, os reféns não. A cada dia morrem reféns no cativeiro”.

A pressão vem também da Arábia Saudita, com os EUA. Antes de vir a Israel, Blinken esteve no Reino da Arábia Saudita e lá com o príncipe regente elaboraram planos excluindo Israel, se este país não entrar em acordo com o Hamas. A ideia inicial foi de fazer tríplice aliança de segurança, que incluiria Israel, Arábia Saudita e os EUA. Segundo o jornal The Guardian, de Londres, se Israel não conseguir cessar-fogo em Gaza, o acordo será só dos dois países, sem Israel. O acordo também incluirá cooperação no campo da Inteligência Artificial e em tecnologias avançadas.

Como se nota, o final desta guerra é complicado e não está à vista. Incrível que todos as partes esperam a palavra final de um terrorista assassino e que os serviços de Inteligência ainda não conseguiram localizar, provavelmente nos tuneis sob Rafah.

O chamado eixo Philadelphia

A Faixa de Gaza tem fronteira com o Egito e não só com Israel, que é acusado de estrangular Gaza. Com os acordos de paz com o Egito, Israel construiu em 1982 uma faixa de segurança de 100 metros de largura e 14 km de comprimento, que vai de Kerem Shalom até a praia. As forças armadas de Israel mantinham a segurança na região até os Acordos de Oslo, em 2005, quando Israel se retirou. Forças egípcias (750 soldados) as substituíram. Em Rafah viviam cerca de 200.000 pessoas e, quando o Hamas subiu ao poder, iniciou-se uma atividade lucrativa. Cavaram centenas de tuneis debaixo da cerca (depois muro) que o Egito levantou no local, para contrabandear desde drogas, roupas, armas e até carros. Tudo passa pelos túneis quando se paga suborno aos soldados e funcionários públicos egípcios. Esta atividade, em volume mais baixo, acontece mesmo agora, quando há combates. Esta é a razão de Israel estar decidido e entrar no local, destruir os túneis e depois introduzir material que detecte qualquer tentativa de passar de um lado a outro, como existe no lado israelense.

Israel está pedindo aos habitantes da região, cerca de 1,1 milhão de pessoas, para evacuar para as barracas que foram construídas perto de Khan Yunes, antes de invadir Rafah, evitando atingir a população civil. Israel afirma que quer atingir apenas os terroristas do Hamas e livrar a Faixa de Gaza da ditadura imposta por esta organização terrorista. Centenas de milhares já saíram da região. Entre 80.000 e 100.000, que podem pagar aos egípcios evacuaram suas famílias para o Egito. Parte permanece no país dos faraós e outros partiram para a Europa.

Os próximos dias são vitais. Na segunda-feira (6) é Yom Hashoá, dia do Holocausto. Uma semana depois é o Dia da Memória aos Caídos nas Guerras e na terça-feira (14) é o Dia da Independência. Com a aproximação destas datas e o tempo que já passou, as manifestações para trazer todos os reféns já para Israel aumentam.

Foto: Comitê Internacional da Cruz Vermelha

Um comentário sobre “A guerra mais longa, 210º dia, sem fim

  • Essa guerra mais longa, ao que tudo indica, representa o recrudescimento do antissemitismo em nível que a exemplo da tragédia produzida pelos nazistas, comporta a clara intencionalidade de extermínio total do povo judeu. Vale constatar infelizmente, que esse objetivo genocida está agora internacionalizado, aberto e incentivador do terrorismo, inclusive com o inacreditável apoio da ONU, cinicamente dissimulado pelo “virtuoso” apelo da “Palestina livre”!

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