A guerra de Joe Biden na Judeia e Samaria
Por Deborah Srour
Parece até que Israel é o 51º estado dos Estados Unidos. A ingerência americana nos assuntos internos do Estado Judeu é sem qualquer precedente. Nesta semana que passou, a administração do presidente Joe Biden publicou sua pior crítica sobre os judeus que vivem na Judeia e Samaria. Ele expressou uma fake “profunda preocupação” sobre os planos de Israel de construir três mil casas que ele chamou “unidades de assentamento” na região.
Olhem só o absurdo! Ele chama de assentamento o berço do povo judeu, de onde eles adquiriram o nome, a região da Judeia. E por quê? Por que por 19 anos esta região ficou nas mãos de um país árabe: a Jordânia. Isso daria então aos árabes, que saíram da Arábia, supostamente um título melhor de propriedade do que os judeus para esta região.
O porta-voz do Departamento de Estado americano declarou que “a administração se opõe veementemente à expansão dos assentamentos, o que é totalmente inconsistente com os esforços para diminuir as tensões e garantir a calma, e prejudica as perspectivas de uma solução de dois estados”. Aquela mesma solução que está morta e enterrada há décadas. Ele também considera “inaceitáveis os planos de legalizações retroativas de assentamentos ilegais”.
Esta declaração veio logo em seguida de outra pelo Secretário de Estado Antony Blinken, que há duas semanas, simplesmente avisou seu contraparte israelense Yair Lapid que a América irá reabrir o consulado em Jerusalém para lidar com os palestinos, desprezando o fato de Jerusalém ser a capital de um estado soberano, Israel, reconhecida pelo Congresso Americano há 26 anos.
A pergunta é, por que o governo Biden está tentando intimidar Israel com essas questões justo agora quando Israel tem uma frágil coalisão de esquerda? Por que vociferar sobre Jerusalém, os palestinos e assentamentos quando até mesmo as autoridades mais esquerdistas do seu governo sabem que é uma Autoridade Palestina corrupta e obstinada com a “libertação do rio ao mar” que não merece qualquer confiança para negociar um acordo de paz?
O que Washington ganha ao decidir restabelecer o antigo consulado americano aos palestinos que fica, não na parte leste de Jerusalém, mas na parte Oeste, que sempre foi de Israel? Quando sabe que ao fazê-lo está não só insultando seu maior aliado na região mas desestabilizando seu governo? Biden não estava feliz ao ver Netanyahu deposto como primeiro-ministro? Por que ele quer agora apunhalar Bennett e Lapid?
E por que ameaçar agir com tamanha ousadia diplomática quando o governo de Israel, de acordo com a lei internacional, pode bloquear a reabertura dessa missão em Jerusalém?
Alguns analistas procuram explicar essas decisões insanas, dizendo que elas são populares com a extrema esquerda do partido democrata que hoje tomou o governo americano como refém. Ou que são, simplesmente, medidas para desfazer tudo o que Trump fez.
Pode ser que estes argumentos tenham alguma validade. Mas me parece ser outra coisa. Os Estados Unidos estão encurralados com o acordo nuclear com o Irã. Biden deve ter se comprometido com Obama salvar o que Barak via como seu legado em relações internacionais. O problema é que para voltar ao acordo, o Irã está impondo inúmeras condições inaceitáveis como por exemplo o levantamento de todas as sanções econômicas antes da sua volta.
Com o aumento do enriquecimento do urânio já a 60%, um passo abaixo da obtenção de urânio a 90% próprio para uma bomba, Biden está meio desesperado para que uma guerra nuclear entre o Irã e Israel não aconteça durante o seu mandato. O que Biden está dizendo a Israel é para ela ficar quieta sobre o acordo nuclear ou os EUA farão sua vida um inferno na questão palestina.
E esta pressão parece estar vindo porque, apesar de não estar sendo noticiado, é possível que os EUA estejam próximos a assinar um novo acordo com o Irã. O que será o verdadeiro desastre para o mundo. Isto porque a posição iraniana é de que o que foi negociado no JCPOA deve permanecer como condição prévia. Assim, sua infraestrutura de enriquecimento e outros projetos de armamento militar permanecerão intactos e não haverá como retroceder os ganhos e o enriquecimento alcançado até hoje. Em troca os Estados Unidos e países europeus retirarão todas as sanções contra Teerã, enchendo seus cofres de dinheiro que será usado, não para benefício interno, mas para financiar seus braços armados ao redor do mundo e levar à frente sua revolução islâmica.
Em outras palavras, o objetivo central de Joe Biden hoje é chutar o abacaxi para frente. E Biden está disposto a isso mesmo ao preço do abandono de Israel e seus aliados árabes que terão que se defender sozinhos, e por dois motivos: primeiro, ele quer se vingar dos republicanos e de Donald Trump por eles terem atacado violentamente o Acordo Nuclear de Barack Obama. Segundo, Biden não está disposto de modo algum a entrar em outro conflito. A saída estabanada do Afeganistão mostrou a quanta loucura ele é capaz para dizer que “acabou uma guerra” e ele não vai entrar em outra. Ele está desesperadamente tentando nos convencer que a diplomacia irá resolver tudo quando o que ele quer é que essa diplomacia atrase a bomba iraniana até que ela seja problema de outro governo.
E para isso, Biden não vai deixar que israelenses ou outros críticos fiquem em seu caminho e não está abaixo de ameaçar com a questão palestina para alcançar seu objetivo. Infelizmente, esta é uma ameaça real para Israel e dá a Biden uma vantagem significativa na questão nuclear iraniana, que é a questão fundamental, existencial, para Israel.
Bennett e Lapid não podem capitular em relação ao Irã. Eles têm que desviar a atenção das questões palestinas e se opor veementemente à renovação do JCPOA, enquanto se preparam para atacar o Irã diretamente com ou sem a ajuda dos seus aliados árabes na região. Eles também não podem ceder aos EUA em relação à proposta de consulado dos palestinos em Jerusalém, nem ao direito inerente de Israel de apoiar a vida judaica na Judeia e Samaria por meio do “crescimento natural” das cidades israelenses existentes. Aquelas que Biden gosta de chamar de “assentamentos”!
E aqui cabe lembrarmos de alguns fatos históricos básicos sobre estas comunidades. Primeiro, muitas delas existiam antes de 1948 como Gush Etzion e Hebron. Segundo, as comunidades judaicas da Judeia e Samaria não explicam a relutância dos palestinos em fazer a paz com Israel da mesma forma que o congelamento ou a evacuação de algumas comunidades nunca trouxe a paz com palestinos (certamente não o fez em Gaza). Cordeiros não se deitarão com leões, não importa quantas vezes Washington, a União Europeia e a ONU insistam em condenar as “unidades de assentamento”.
Em terceiro lugar, as comunidades judaicas nunca prejudicaram qualquer esforço de negociação; a obstinação e o extremismo palestinos sim. Netanyahu chegou a congelar a construção de judeus por 10 meses e mesmo assim, Mahmoud Abbas se recusou a sentar na mesa de negociações.
Quarto, todas as construções israelenses na Judeia e Samaria na última década foram dentro de comunidades existentes que Israel pretende manter em todas as circunstâncias e “todo mundo sabe” disso! Isso inclui Gush Etzion, Ariel, Elkana, Karnei Shomron, Ma’aleh Adumim, Beitar Illit, Modi’in Illit e Kiryat Sefer.
Em outras palavras, não há apropriação de terras por Israel e nada que atrapalharia o estabelecimento de uma entidade palestina autônoma, próspera e pacífica se ao menos houvesse uma liderança palestina honesta pronta para um compromisso genuíno com Israel. Joe Biden não quer outra guerra na região a não ser com Israel pela Judeia e Samaria.
Mais cedo ou mais tarde, Israel irá estender seu Estado de Direito a estas comunidades judaicas da Judeia e Samaria, e assim, solidificar o compromisso territorial que já existe de fato e Joe Biden e o mundo irão aprender a viver com isso.
Foto: Almonroth, CC BY-SA 3.0 (Wikimedia Commons). Caminho de Jenin para Hebron, 2011.