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A escalada da guerra com o Hezbollah

Por Deborah Srour Politis

Hoje de manhã em Israel, quem conseguiu dormir, acordou com a escalada substancial da guerra contra o Hezbollah no Norte do país. Durante toda a madrugada ouvimos os aviões de combate passando em direção ao sul do Líbano. Para os que moram no Norte, no entanto, a noite foi passada num bunker. Era o esperado. Mais de 300 mísseis foram lançados pelo Hezbollah sobre Israel a mando do Irã neste final de semana. E hoje, um veículo aéreo não tripulado foi lançado do Iraque contra o Estado judeu.

Com as negociações sobre os reféns completamente rejeitadas pelo Hamas, o Hezbollah, com a desculpa de estar dando suporte ao Hamas, decidiu colocar mais pressão sobre Israel, e aumentar os lançamentos indiscriminados de mísseis contra as cidades israelenses. São quase 100 mil israelenses evacuados de suas casas desde o dia 8 de outubro do ano passado. A situação se tornou insustentável.

E aí aconteceu. Desde a quarta-feira, as manchetes no mundo inteiro não falavam de outra coisa a não ser sobre a inacreditável e devastadora operação contra membros do Hezbollah em todo o Líbano. Primeiro, os bipers explodiram. No dia seguinte, foram os walkie talkies. Alguns dos aparelhos alegadamente também explodiram no Iraque e na Síria. Tirando o insano trabalho de inteligência, planejamento e implementação deste plano ousado, o resultado foi sem sombra de dúvida, o maior tapa na cara que o Hezbollah levou em anos.

Israel, o suspeito usual, não reivindicou a autoria do feito. Mas seja lá quem foi que fez isso, conseguiu de uma (ou duas) tacadas, imobilizar cinco mil membros do alto escalão do Hezbollah, que, ou morreram ou estão muito feridos, ao mesmo tempo em que poupou ao máximo a exposição de civis libaneses não afiliados à Hezbollah.

Sim, sempre há um dano colateral, mas a morte das duas crianças que estavam brincando com os bipers na hora da explosão não poderia ter sido prevista e apesar de terem sido trágicas e infelizes, não se comparam com o míssil que o Hezbollah enviou propositalmente contra uma comunidade no norte de Israel que matou 12 crianças drusas que estavam jogando futebol num sábado à tarde.

Ao mesmo tempo, a Assembleia Geral da ONU, em sua capacidade da mais inútil organização da história e da face da terra, estava votando mais uma vez, uma resolução contra Israel. Desta vez a Assembleia aprovou, com o voto do Brasil, uma resolução não vinculativa exigindo que Israel acabe em 12 meses, com sua “presença ilegal no Território Palestino Ocupado”. Ela também exige que Israel retire o exército, interrompa a construção de novas residências para judeus e evacue todos os que chama de “colonos” da região, além de demolir o muro de separação construído para impedir a entrada de terroristas em Israel.

Se esta fosse uma resolução do partido nazista, com seu puro racismo, antissemitismo aflorado, buscando a limpeza de judeus de um território, ninguém se surpreenderia. Mas não. 124 países votaram a favor, 14 incluindo Israel e os Estados Unidos votaram contra e 43 países se abstiveram. Mas a coisa não parou aí. A resolução também pede aos estados-membros que não transfiram armas para Israel e imponham sanções aos colonos envolvidos na violência contra palestinos. Ela também pede a responsabilização de Israel por supostas violações do direito internacional humanitário, incluindo o pagamento de reparações. Uma verdadeira vergonha. Nada sobre a chacina de 7 de outubro. Nada sobre os 101 reféns que ainda estão nas mãos do Hamas. Quantos, não sabemos, sobrevivendo em condições horrendas e inumanas por quase um ano.

E na sexta-feira, a ONU veio à carga outra vez. A pedido da Argélia, o Ministro das Relações Exteriores do Líbano Abdallah Bou Habib, acusou Israel no Conselho de Segurança de orquestrar o que ele chamou de ataque terrorista e que “Israel, através de sua agressão terrorista, tinha violado os princípios básicos do direito internacional humanitário”.

O Alto Comissário Para Direitos Humanos, Volker Turk, declarou que “o direito internacional humanitário proíbe o uso de dispositivos letais na forma de objetos portáteis aparentemente inofensivos”, durante a mesma sessão.

Agora, não sei de qual faculdade este pessoal comprou seus diplomas. Para ser considerado um ataque terrorista, é preciso que ele tenha três componentes. Primeiro, que seja de propósito, deliberado. Segundo, que seja contra civis e por último, que tenha um objetivo político.

Ora, mesmo se fosse Israel, o alvo destes dispositivos foi comprovadamente contra os combatentes do Hezbollah, que mesmo se estivessem vestidos como civis, não eram civis. E Israel não teve um objetivo político. Ele quer que o Hezbollah cesse os ataques ao Norte para que seus cidadãos possam voltar para casa.

Agora, todas os ataques do Hezbollah são ataques terroristas. Ele lança centenas de mísseis por dia de propósito, indiscriminadamente sobre a população civil de Israel e tem como objetivo destruir o Estado de Israel. Então me poupem estas declarações bombásticas que não merecem qualquer simpatia vindas de alguém que alberga, que encobre, que protege uma organização terrorista em seu território.

Danny Danon, o embaixador de Israel na ONU, disse aos repórteres na sexta-feira que Israel não tinha “intenção de entrar em guerra com o Hezbollah no Líbano, mas não podemos continuar do jeito que está”. Falando no Conselho de Segurança, ele disse que Israel faria “o que fosse preciso” para restaurar a segurança nas áreas do norte.

E Israel fez. Na mesma sexta-feira, num ataque aéreo, Israel matou dois comandantes militares do Hezbollah e outros 10 altos comandantes, que estavam planejando nada menos que uma repetição do 7 de outubro no norte de Israel na operação que chamaram de “Conquistando a Galileia”.

O Hezbollah confirmou a morte de Ibrahim Aqil, o comandante das forças de elite do grupo Radwan. Também confirmou Ahmed Wahbi, também do Radwan. Notem que Ibrahim Aqil estava sendo procurado pelos EUA com uma recompensa de 7 milhões de dólares porque foi ele quem planejou e levou à cabo o ataque terrorista contra a embaixada americana em Beirute em 1983.

O ataque de sexta-feira foi outro grande golpe para o Hezbollah e o primeiro ataque aéreo a atingir Beirute desde julho, quando Fuad Shukri, braço direito do líder Hassan Nasrallah, foi morto.

O porta-voz das Forças de Defesa de Israel, Daniel Hagari, disse que Aqil e outros comandantes das forças Radwan “estavam reunidos no subsolo sob um prédio residencial no coração do bairro de Dahiyah, em Beirute se escondendo entre civis libaneses, usando-os como escudos humanos”.

No sábado, o Hezbollah disse que o segundo comandante a ser morto, Wahbi, “participou de muitas operações” desde os anos 1980 incluindo o de “assumir a responsabilidade” pela força de elite Radwan até o início de 2024.

Com tudo isso acontecendo, e nossa atenção desviada, é imprescindível não esquecermos os reféns. Os pequenos Kfir de um ano e Ariel de 4 anos. Naama de 19 anos e outras meninas, idosos, homens e mulheres. Com o aniversário de um ano da guerra se aproximando, esta situação de incerteza, de dor constante para as famílias, está passando de inaceitável para insuportável.

Neste mês de Elul, vamos torcer e pedir aos céus para uma vitória completa contra o Hezbollah que leve a uma capitulação do Hamas e a volta dos reféns aos seus entes queridos e os 100 mil evacuados às suas casas.

Foto: Tasnim News Agency. Creative Commons Attribution 4.0 International License (Wikipedia Commons)

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